Formulário online seguirá aberto até o dia 10 de julho. Informações serão levadas para reunião da Rede Nacional de Proteção de Jornalistas e Comunicadores
O Brasil enfrenta desafios significativos quanto às violências sofridas por jornalistas. Em função disso, as entidades sindicais representativas dos jornalistas do Paraná, Sindijor Norte PR e SindijorPR, lançaram formulário online que pretende coletar dados a respeito do problema na região. As informações serão utilizadas para embasar ações na luta por melhores condições de trabalho para a categoria. O formulário “Pesquisa: Violência contra jornalistas no exercício da profissão” segue aberto até o dia 10 de julho de 2023.
Até o momento, 28 dos 33 jornalistas que responderam o formulário afirmaram ter sofrido algum tipo de violência, sendo 17 mulheres e 16 homens. A maioria das violências vêm de superiores (22), seguido de colegas de trabalho (11), fontes (8), leitor (1) e por fim, cliente (1).
Os dados foram tabulados por Ricardo Andretto, secretário de imprensa do SindiJor Norte PR, responsável por desenvolver o questionário. As violência relatadas variam desde ameaças veladas, pressão psicológica, humilhação, rebaixamento, agressividade verbal pública, misoginia – onde a mulher é colocada como objeto, com elogios ou perguntas constrangedoras, até importunação/assédio sexual e discursos de ódio de leitores na internet.
Dos 28 jornalistas que relataram ter vivenciado algum tipo de violência, apenas 5 denunciaram.
Assédio
De acordo com Andretto, uma jornalista foi demitida porque um cliente de uma assessoria de imprensa gostou dela “mais do que o normal” e como a profissional não correspondeu às investidas, ele provocou sua demissão. Outra mulher disse que confundiam a amizade dela ou abordagens para fins jornalísticos como algum suposto interesse sexual.
Uma pessoa LGBTQIAPN+ também relatou assédio moral. “Neste caso, a pessoa que sofreu o ataque sofreu até perseguição de seus gestores nas redes sociais, que não achavam apropriado o jornalista expor o relacionamento com outra pessoa LGBTQIAPN+ em uma rede social particular para não “causar conflito com clientes”, disse.
Assédio judicial
O assédio judicial contra jornalistas é uma prática que visa silenciar e intimidar profissionais da imprensa por meio de processos judiciais abusivos, movidos como uma forma de retaliação. Esse tipo de assédio acaba desencorajando a investigação jornalística, e, portanto, traz consequências graves para a liberdade de imprensa.
A jornalista e professora universitária Valdete da Graça aponta que esse tipo de violência é um problema a nível nacional. “O jornalista vai fazer uma matéria de denúncia e aí o cara, ofendido, entra com a representação judicial contra esse jornalista. Em vários locais. Por exemplo, eu sou aqui de Maringá. Aí ele entra lá em Curitiba, ele entra no Mato Grosso, ele entra em Brasília e esse jornalista muitas vezes não tem o apoio da empresa. O salário do jornalista é muito baixo. E aí fica inviável para ele ir lá se defender”. Graça também compõe a Diretoria Administrativa do Sindijor Norte PR.
Formulário
O formulário surgiu como proposta durante encontro online entre os representantes regionais e estaduais da Rede Nacional de Proteção de Jornalistas e Comunicadores. O objetivo da reunião era definir o representante do Paraná no encontro nacional da Rede, nos dias 27 e 28 de junho, em Brasília.
A pesquisa foi enviada para o Sindijor Norte PR e SindijorPR, que repassaram aos seus filiados, e está aberta para todos os jornalistas. Os dados coletados serão levados para a reunião nacional, em que jornalista Valdete da Graça foi escolhida como representante. “Ela acaba não tendo o caráter científico, mas vai possibilitar que a gente tenha pelo menos um parâmetro do que está acontecendo com os jornalistas do Paraná”, disse.
Os dados serão analisados coletivamente e terão um papel importante no embasamento de ações conjuntas entre sindicatos e organizações de defesa da categoria jornalística, incluindo a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e a Rede de Proteção de Jornalistas e Comunicadores, vinculada ao Instituto Vladimir Herzog, que atua na defesa da liberdade e segurança dos profissionais da área.
“Toda assistência que o sindicato pode dar, ele dá. Através dos nossos, do nosso sistema jurídico. A gente oferece aos jornalistas o apoio que eles precisam em cada um dos casos”, finalizou Graça.
* Com informações da assessoria do Sindijor Norte PR e SindijorPR.
*Matéria da estagiária Victoria Luiza Menegon, sob supervisão.