Renda média de famílias mais ricas cresceu mais do que entre as vulneráveis no último trimestre
De acordo com levantamento realizado pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), os rendimentos médios decorrentes do trabalho aumentaram 6,2% no segundo trimestre de 2023 em comparação com o mesmo período do ano passado.
A renda média real atingiu R$ 2.924, superando os níveis observados em 2019, ou seja, antes da pandemia de Covid-19, momento que o valor era de R$ 2.904. O montante alcançado em junho deste ano (R$ 2.936) também é 1,8% maior do que o registrado no mês anterior (R$ 2.883)
A entidade classifica rendimento habitual como aquele recebido por empregadores e trabalhadores por conta própria, mensalmente, sem acréscimos extraordinários ou descontos esporádicos, isto é, sem parcelas que não tenham caráter contínuo.
Com a estabilidade da renda no segundo trimestre deste ano, a massa salarial habitual alcançou R$ 284,3 bilhões, o que equivale a R$ 19 bilhões a mais do que no mesmo trimestre de 2022 (+7,2%).
A economista Juliana Martins Peixoto ressalta que os índices demonstram um cenário de recuperação da renda. “Juntamente a diminuição da taxa de desemprego, temos acompanhado um aumento do rendimento médio do trabalhador brasileiro, o que é muito importante e também ocorre sob um contexto de diminuição da inflação e, portanto, do custo de vida. Ainda assim, é preciso dizer que o valor é duas vezes inferior ao necessário para suprir despesas básicas”, alerta.
Centro-Oeste e Nordeste lideram
Os maiores aumentos na renda frente ao mesmo período do ano passado foram registrados nas regiões Centro-Oeste e Nordeste, entre os trabalhadores de 25 a 39 anos e com ensino fundamental incompleto.
Nenhum grupo apresentou queda na renda, mas o crescimento foi menor para os que habitam a região Sul, os maiores de 60 anos, aqueles com ensino médio completo e chefes de família.
Renda de trabalhadores informais cresce
Na análise por tipo de vínculo, os trabalhadores do setor público, que vinham apresentando o menor crescimento real de rendimentos habituais médios, obtiveram no segundo trimestre de 2023 aumento de 4% da renda em comparação com o mesmo período de 2022.
Já os trabalhadores formais do setor privado tiveram um crescimento da renda habitual de 3,4% no segundo trimestre de 2023 ante o mesmo intervalo do ano anterior, mantendo uma desaceleração do aumento da renda.
Por sua vez, os trabalhadores informais foram os que tiveram o maior aumento da renda habitual, com acréscimo de 7,5% para os trabalhadores por conta própria e de 4,9% para os sem carteira assinada.
“Os setores mais informais, mais atingidos pela pandemia, são os que agora mostram crescimento da renda (agricultura, comércio, construção, e alojamento e alimentação), ao passo que setores mais formais, como administração pública, educação e saúde, e indústria, apresentaram menor elevação da renda habitual ou efetiva”, destaca o relatório.
Ainda, segundo a pesquisa, um dos efeitos da crise sanitária do novo coronavírus foi o aumento da proporção de domicílios sem renda do trabalho, que saltou de 22,7% no primeiro trimestre de 2020 para 28,7% no segundo. Já no segundo trimestre de 2023, a proporção de domicílios nessa situação ficou em 23,3%, mais de um ponto percentual acima do observado no mesmo trimestre do ano anterior.
“É muito preocupante este dado de que duas em cada dez famílias sobrevivem sem renda advinda do trabalho. Além disso, a proporção de famílias mais ricas aumentou a faixa de renda em níveis superiores às mais pobres, evidenciando a concentração e desigualdade”, pontua a especialista.
Entre os lares com renda domiciliar do trabalho considerada muito baixa, houve alta de 4,97% nos rendimentos identificados no segundo trimestre de 2023 em relação ao recebido um ano antes. Já a camada mais rica mostrou uma expansão de 7,72% da renda domiciliar no período de um ano.
O levantamento considera sete grupos de domicílios, sendo o primeiro grupo sem qualquer renda do trabalho e os demais grupos divididos em seis faixas de renda. O grupo de renda mais baixa tem renda domiciliar mensal do trabalho de R$ 1.298 enquanto o grupo mais rico obteve renda média de R$ 34.852 no segundo trimestre deste ano.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.