Paciente aguardou quase uma semana para conseguir transferência
Representantes do Centro de Direitos Humanos de Londrina (CDH) reunidos com outras entidades como Pastoral Carcerária, Conselho de Saúde do União da Vitória, Conselho Municipal de Saúde e lideranças de bairros, a exemplo do Aquiles Stenghel, na Zona Norte da cidade vão até o Ministério Público nesta segunda-feira (6) às 15h tentar uma conversa com a promotora de Justiça, Suzana Feitosa de Lacerda.
O encontro não está agendado, mas a finalidade é chamar a atenção para a situação da saúde pública em Londrina. O grupo ressalta mortes que ocorrem após demora na assistência como do aposentado Venâncio Fabiano, de 84 anos. O idoso foi internado em estado grave no Hospital Dr. Anísio Figueiredo – Zona Norte de Londrina (HZN) no final de outubro (dia 26).
Com problemas renais e necessitando de um leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), o paciente aguardou transferência por quase uma semana. Na noite da última quarta-feira (1º), ele foi transferido para Ibiporã – cidade localizada a aproximadamente 160 KM – mas não resistiu, falecendo na tarde deste domingo (5).
De acordo com informações repassadas pela administração do Hospital a familiares e ao CDH – que acompanha o caso – frente à superlotação de UTIs em Londrina, o idoso foi direcionado para um leito no hospital de Ibiporã. Mas após a espera pela vaga, outra dificuldade surgiu: falta de ambulância do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) para transferência.
“Queremos discutir a questão da saúde pública porque a gente acredita que o está faltando nesta cidade é gestão em relação aos atendimentos, do dinheiro público, da saúde pública em Londrina”, diz Maria Giselda de Lima Fonseca, coordenadora do Centro de Direitos Humanos de Londrina.
Um ofício será entregue à Promotoria com valores de verbas repassadas pela União e estado ao município, além do indicativo de arrecadações próprias, o que, segundo ela, demonstra que há recursos em caixa para viabilizar os atendimentos da população.
“Nós temos que ir para a rua, gritar porque outras mortes virão com certeza ou outras que já aconteceram, mas que as famílias não vieram procurar a gente, nem a imprensa. Do que acompanhei, no Hospital da Zona Norte, eu nunca me deparei com tal situação de caos, desrespeito, direitos violados em relação as pessoas”, acrescenta.
Ainda, de acordo com Maria Giselda, o coletivo irá solicitar uma reunião com o prefeito Marcelo Belinati (PP) – que também é médico. “Nós também vamos falar com o prefeito, se ele não nos atender, vamos acampar, cobrar uma posição, porque ele é o gestor geral da cidade de Londrina. Nós não podemos parar agora, levantou uma situação que já estamos discutindo, mas não dá mais para ser apenas em reuniões, conselhos, não vamos chegar em lugar nenhum assim, precisamos ir para ruas para dizer que basta de pessoas morrerem em Londrina sem atendimento adequado”, finaliza.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.