Foram ofertados serviços como corte de cabelo, emissão de documentos, renegociação de dívidas, vacinação contra a gripe
Desde o último sábado (4), com o início da Semana da Favela 2023, as ruas de todas as regiões de Londrina têm sido ocupadas com múltiplas atividades artísticas, de qualificação e fomento à renda, além da prestação de serviços e garantia de direitos, por vezes, negligenciados no dia a dia.
Com este intuito de contribuir para maior inclusão e ao mesmo tempo valorizar a cultura das periferias, nesta segunda-feira (6), ocorreu a “Feira de Serviços” na Escola Municipal Zumbi dos Palmares, jardim União da Vitória. O bairro concentra a favela mais populosa da Zona Sul de Londrina. O evento aberto a toda comunidade ofereceu uma série de trabalhos gratuitos como emissão de documentos, instruções para abertura e legalização de negócios, corte de cabelo, entre outros.
“É muito bom porque tem muitos que não podem pagar pelos serviços, para cortar o cabelo, fazer as trancinhas e consegue aqui”, diz Sônia Aparecida Ribeiro enquanto aguarda a filha que está aos cuidados de Lucely Souza, trancista e idealizadora da marca que leva seu nome Lucely Afrostyle.
Lucely compartilha que perdeu as contas de quantas pessoas atendeu durante as cinco horas de evento (das 9h às 14h). “Eu venho também do Coletivo Ciranda da Paz que é lá na favela da Bratac, e as atividades que a gente sempre faz têm este intuito também, de garantir acesso à cultura, arte dentro da nossa comunidade”, afirma.
Wellington Pereira, morador do Jardim Cristal reforça a importância dos serviços para exercício da cidadania. Além da estética, os serviços de beleza são fundamentais para autoestima e promoção das saúdes física e mental. “É muito importante o que eles fazem no nosso bairro, precisamos muito. O corte de cabelo mesmo para fazer documento. Sair de casa um pouco para se divertir”, indica.
Também foi realizado mutirão de vacinação contra a gripe para grupos vulneráveis. Ao todo foram aplicadas 80 doses de vacina tetravalente. Ainda, na área da saúde, a vigilância sanitária esteve presente na Feira, instruindo moradores sobre prevenção de pragas urbanas e cuidados com o meio ambiente.
“Nós trouxemos as informações para o pessoal sobre animais peçonhentos, os mais perigosos como cobras, escorpião, morcego, que embora não seja peçonhento transmite a raiva, aranhas que também são bem venenosas. Então, alertamos o pessoal sobre os perigos desses animais, o que fazer em caso de acidente, como proceder em casa para evitar acidentes com eles, viemos trazer essas informações”.
Rosângela Fernandes, representante da Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná) comenta que a participação na Feira possibilita que segmentos da população que não possuem condições financeiras para ir até a Central, sejam atendidos. “Nós viemos com atendimento completo, parcelamento, revisão de cadastro, água solidária, revisão das contas, desconto por vazamento, renegociação de dívidas”, relata.
De acordo com ela, os serviços mais buscados foram o parcelamento de débitos pendentes e solicitações do programa “Água solidária”. Este último trata-se de uma tarifa residencial diferenciada para a população de baixa renda.
A Semana da Favela Londrina 2023 é organizada pelo Conexões Londrina, coletivo que representa a CUFA (Central Única das Favelas) e corre.social, aplicativo londrinense voltado a empreendedores e artistas locais. O evento conta com apoio institucional da Prefeitura de Londrina e patrocínio do Banco24Horas.
Incentivo à inserção de jovens no mercado de trabalho
A equipe do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola) ocupou um dos stands, orientando jovens e familiares sobre possíveis caminhos para o primeiro emprego. Em entrevista ao Portal Verdade, Sandro Luiz Fábio, prospector da organização, comenta que uma das principais finalidades do grupo da Feira é divulgar e orientar sobre o cadastro do Programa Jovem Aprendiz, modalidade de contratação que abrange adolescentes e jovens, entre 14 e 24 anos.
Segundo a Lei nº 10.097, responsável por regulamentar o Programa, além de estar na faixa etária indicada, é obrigatório que o jovem esteja matriculado e cursando ensino fundamental ou médio e a frequência escolar deve ser mantida após a admissão. A legislação também estabelece, entre outros critérios, que o contrato do jovem aprendiz deve ter validade de até três anos e a jornada de trabalho deve ser de 4 ou 6 horas, para aqueles que estejam no ensino fundamental. Ainda, o limite de 24 anos não se aplica a pessoas com deficiência.
“O CIEE faz a parte da teoria, fornece o aprendizado e a empresa faz a parte prática, trabalho com carteira assinada. E na parte dos estágios, a partir de 16 anos, cursando o ensino médio. Temos muitos jovens que procuram tanto o CIEE como outras entidades”, assinala.
Sandro destaca o programa “Família em Ação”, que integra a capacitação do participante com orientações aos responsáveis. “Para integrar esse jovem, nós temos este programa onde o jovem e a família recebem instruções e começam a ver quais as vantagens, o que ele irá aprender, como irá se qualificar, que não vai interferir nos estudos dele. E em segundo momento, nós chamamos as famílias, onde mostramos para os pais porque é importante que este jovem esteja cadastrado, que vai receber um salário, não vai pagar nada, isso é muito importante dizer, porque existirem muitos golpes durante a pandemia. Muitas famílias pagavam e não recebiam nada, nem emprego e nem certificado”, ressalva.
Além do encaminhamento para vagas de menor aprendiz e estágios, o CIEE também oferta cursos livres. Todas as atividades são gratuitas (saiba mais aqui).
Segundo levantamento do CIEE, em 2022, trabalhadores aprendizes de 14 a 24 anos somavam cerca de 500 mil; 57% estavam na faixa etária de 14 a 17 anos e 42% tinham de 18 a 24 anos.
“A gente conseguiu ver bastante jovens, famílias, principalmente, pais conseguimos atender, fazer cadastros, outros que já tinham feito, mas não sabiam como proceder. É importantíssimo este engajamento com a sociedade, porque muitos pais acabam procurando, às vezes mais do que os próprios jovens”, finaliza.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.