Em entrevista ao Portal Verdade, equipe faz balanço dos dois anos de trabalho e aponta áreas de atuação do próximo mandato
Em assembleia realizada no último dia 17 de dezembro, o Centro de Direitos Humanos (CDH) de Londrina elegeu nova diretoria. Assume a coordenação geral, Alisson Fernando Moreira Poças, o novo secretário, Joaquim Pacheco Lima e Valmirete Alves como tesoureira. O mandato tem a duração de três anos (2023-2026).
Alisson Poças, assistente social, comunicador popular, membro do Coletivo Papo Reto Londrama e da Bancada Alviceleste, compartilha que o intuito para integrar a nova gestão do Centro de Direitos Humanos é continuar com a articulação por melhorias na qualidade de vida da população.
Ele pontua que, atualmente, o CDH ocupa cadeiras em órgãos importantes como Conselho Permanente dos Direitos Humanos do Estado do Paraná, Conselho Municipal dos Direitos de Crianças e Adolescentes de Londrina, Conselho Municipal de Cultura, Conselho Municipal de Planejamento Territorial, Conselho Municipal de Defesa do Consumidor.
“Queremos estabelecer alianças duradouras com as universidades, com projetos de ensino e extensão. Vamos ampliar as áreas de atuação em Londrina e região metropolitana. Estamos propondo uma coordenação ampliada, mais democrática e participativa, através da mobilização das comissões temáticas do CDH. Estamos em tratativas com a Defensoria Pública e organizando uma Comissão de Apoio Jurídico, para as nossas demandas. Temos algumas instituições e coletivos já parceiros em Londrina, estamos afinando parcerias com outras instituições do estado do Paraná”, conta.
Hoje, o CDH participa da Campanha “Despejo Zero” Londrina e da Jornada de Agroecologia do estado do Paraná, com a intenção de contribuir para o fortalecimento da aliança camponesa e operária. O grupo ainda não possui uma sede.
“Outra prioridade é batalhar recursos financeiros, para a manutenção das atividades do CDH Londrina para termos uma estrutura mínima de funcionamento. Hoje, contamos com a colaboração de doação de algumas pessoas ligadas ao campo dos direitos humanos em Londrina para desenvolver atividades pontuais. Estamos escrevendo projetos, atentos aos editais e parcerias. Queremos desenvolver projetos de formação nas comunidades, atrair novas lideranças, ser presença solidária junto aos movimentos sociais do campo e da cidade e coletivos diversos”, acrescenta Alisson.
Principais demandas
Alisson lembra que os últimos anos, durante a governo de Jair Bolsonaro (PL), todo o país passou por retrocesso de direitos, aumentando a violência, principalmente, contra segmentos subalternizados, a exemplo de mulheres, comunidade LGBTQIA+, negros, povos indígenas e classe trabalhadora.
Para o novo coordenador, o Paraná tem replicado o desmantelamento de políticas públicas a partir da terceirização de serviços e direitos. “Entendemos que é preciso avançar com a questão da violência policial, direitos das encarceradas e encarcerados, defesa dos direitos das mulheres (contra o machismo e a misoginia), na luta contra o racismo estrutural (com especial atenção aos adeptos de religiões de matriz africana), atenção aos migrantes e imigrantes, interface com a segurança alimentar, atendimento à pessoas em situação de rua”, diz.
“É necessário também, olhar atento com os conflitos fundiários no campo e na cidade, com a educação das crianças, adolescentes e juventude, com a repressão de movimentos culturais, estarmos mais próximos dos movimentos sociais e das comunidades, sobretudo das camadas mais populares. Além disso, é fundamental recolocar a cidade de Londrina nas discussões em nível estadual e federal, pois ficamos algum tempo sem representação nessas instâncias”, assinala.
Balanço
Maria Giselda de Lima Fonseca, assistente social, esteve a frente da coordenação do Centro do Direitos Humanos nos últimos dois anos, ou seja, desde a formação do coletivo em 2021. Ela recorda as dificuldades iniciais para regularização do grupo, afetando a captação de recursos, mas não impedindo o desenvolvimento das atividades.
“Na nossa avaliação, nosso mandato que foi de dois anos, tivemos algumas problemáticas na questão burocrática, haja visto que não tínhamos um registro em cartório nas últimas eleições, no entanto, a gente conseguiu regulamentar junto ao cartório a nossa gestão, também na receita estadual. Então, hoje estamos em dia, o CDH é representativo juridicamente, está apto, legalizado e isso é muito bom”, analisa.
A liderança também indica algumas mobilizações em que o Centro de Direitos Humanos esteve presente ao longo deste ano. “Nós vivemos uma luta enquanto representante da Comissão de Esporte e Lazer face a tentativa de privatizar os espaços públicos. A Comissão teve um papel fundamental para articular e, principalmente, orientar as pessoas que não estavam entendendo muito bem o que seria o PL [Projeto de Lei] para o seu bairro e comunidade”, afirma.
Maria Giselda se refere ao Projeto de Lei nº 203/2021. Proposto pelo vereador Fernando Madureira (PP), o “Programa Vida Saudável”, estabelece que, a partir de parcerias com a Prefeitura Municipal de Londrina, associações não governamentais podem ficar responsáveis pela manutenção de quadras, campos esportivos, ginásios, praças, entre outros espaços públicos destinados ao esporte, lazer e cultura (relembre aqui).
“Tivemos um papel muito importante na área da saúde, é claro que é um assunto muito amplo, porém mostrando que o CDH está atento a questão da qualidade que está sendo prestada em relação à saúde pública, sabemos que está muito difícil, tivemos um fato lamentável que foi a morte de pessoas por falta de equipamentos como ambulâncias, isso é muito triste, as pessoas não voltarão mais, mas a nossa luta continuará, pois sabemos que a saúde em Londrina precisa melhorar muito em todos os aspectos”, complementa.
As expectativas com a nova diretoria são positivas. “A luta pela habitação, pela saúde, pelo esporte e lazer, pela educação continuam. Todas as políticas cabem no âmbito dos direitos humanos e tenho certeza que vamos fortalecer ainda mais com a nossa caminhada e formação para as pessoas. É evidente que nós continuaremos nessa luta em conjunto, farei parte das Comissões da Saúde e Esporte e estaremos juntos para que possamos fortalecer ainda mais o CDH de Londrina”, ressalta.
Para ela, todas as ações realizadas até o momento, a exemplo da organização de redes sociais, tiveram a finalidade e aproximar cada vez mais o Centro de Direitos Humanos dos londrinenses, conquistando o reconhecimento.
“Acredito que foi muito positivo no sentido de mostrar que o CDH tem vida própria, condições sim de dar direção e exigir do estado, da união e do município que os direitos humanos sejam cumpridos, principalmente, em favor daquelas pessoas e famílias menos favorecidas. Claro que o CDH tem um papel muito abrangente porque tudo é direitos humanos. Nós avaliamos que nosso mandato dentro das suas possibilidades, tentou levar o CDH ao patamar de respeito, compromisso, as pessoas sabem o quanto o CDH está presente na luta, principalmente, das periferias”, pondera.
Saiba como participar
De acordo com a equipe, o Centro de Direitos Humanos está aberto para novas filiações. “Entendemos que minimamente todas e todos que desejem participar das ações, tem que ter afinidade com o campo de defesa dos direitos humanos. Em janeiro e fevereiro de 2024, vamos fazer um planejamento estratégico de ações e de nossas reuniões ordinárias. Em breve vamos divulgar os calendários de ações, para ativistas, membros de coletivos, partidos, sindicatos, estudantes, se somarem aos enfrentamentos e fazerem parte das nossas ações”, informa Alisson.
Quem tiver interesse em participar do coletivo deverá preencher formulário disponível aqui.
“Todos estão convidados mais ainda para participar, é aberto a toda população, a todos que defendem os direitos humanos, recebemos de braços abertos. É muito importante esta ficha porque vai fortalecer a nossa coordenação, teremos dados, conseguiremos identificar essas pessoas comprometidas com a luta popular, sindical. Não tenho duvida que esta gestão sairá mais fortalecida ainda porque estaremos presentes e com certeza com mais gente, com mais companheiras e companheiros fazendo do Centro de Direitos Humanos uma entidade de respeito, força, mobilização. Temos que cada vez mais trazer pessoas que queiram contribuir com a luta popular em Londrina”, convida Maria Giselda.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.