Incidência é maior entre homens negros adultos de baixa escolaridade, segundo Fiocruz
A incidência de mortes por suicídio no Brasil desde 2012 dobrou. Os dados são do Anuário de Segurança Pública do Fórum Brasileiro de Segurança Pública 2022. A incidência de mortes a cada cem mil habitantes por suicídio no período pulou de 3,6 para 6,7 no período, um aumentou de 87%. No Paraná, a incidência era de 3,1 mortes por suicídio a cada 100.000 habitantes. Em 2021, o índice chegou a 7,3 mortes a cada 100.000 habitantes.
Muito embora a pandemia tenha sido um fator no aumento de mortes, a série história do Fórum mostra que o país vive desde 2012 uma tendência de aumento no índice de mortes por suicídio anterior a crise sanitária causada pela Covid-19. No caso do Paraná, inclusive, o índice diminuiu no primeiro ano da pandemia, chegando a 4,5, depois de registrar 5,5 mortes por suicídios a cada cem mil habitantes no ano anterior. Mas voltou a crescer em 2021, chegando a 7,3.
Como os dados do Fórum apontam apenas casos de mortes resultantes de suicídios, o número de casos de lesões autoprovocadas é muito maior. Segundo a pesquisa “Lesão autoprovocada em todos os ciclos da vida”, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, cerca de 61% das pessoas atendidas nessa situação em hospitais das capitais brasileiras recebem alta e se recuperam da tentativa. Apenas 0,5% dos casos resultam em óbito.
Intervenção é essencial
A identificação e tratamento de pessoas que apresentam comportamento suicida é essencial para a prevenção de óbitos. “Nesse sentido, estudos têm revelado que 19% das tentativas de suicídio tratadas em emergências reaparecem no mesmo tipo de serviço seis meses depois. E 39% consumam o ato até um ano depois do primeiro atendimento”, indica o estudo. Os pesquisadores recomendam que o paciente receba uma intervenção “com o delineamento de um plano de segurança que coloque o
paciente em contato com serviços de saúde mental”.
A pesquisa também aponta que o perfil das vítimas de suicídio (com desfecho letal ou não), atendidas em hospitais das capitais brasileiras, tem uma predominância de casos entre homens adultos negros. Entre as mulheres, o perfil predominante é de vítimas negras e pardas. A maioria absoluta dos casos (86%) ocorrem em casa. Os adolescentes representam cerca de 18,8% dos casos.
Em outra pesquisa, “Violência autoprovocada na infância e na adolescência“, a Fiocruz identificou algumas causas do comportamento suicida em crianças e adolescentes. “É relativamente comum que na adolescência surjam ideias suicidas, pois fazem parte do desenvolvimento de estratégias para lidar com problemas, como o sentido da vida e da morte. Vem a ser um problema quando essas ideias se tornam a única ou a mais importante alternativa. A intensidade desses pensamentos, sua profundidade, duração, o contexto em que surgem e a impossibilidade de desligar-se deles são fatores que determinam a crise suicida. Um suicídio costuma ser pensado, planejado e antecedido por tentativas. Existem suicídios por impulso, mas são raros”, explicou ao portal Fiocruz a coordenadora da pesquisa, Joviana Avanci, do Departamento de Estudos sobre Violência e Saúde Jorge Careli da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz).
Ainda segundo a Fiocruz, “a pesquisa mostra presença significativa de vulnerabilidade no lar, como violências, falta de cuidado e apoio inter-relacional, que perpassa gerações. As famílias pesquisadas revelam histórias familiares de rejeições, maus-tratos físicos, agressões verbais, violência sexual, uso de álcool e drogas. “Há relatos de agressões físicas, violência psicológica e negligências na família em praticamente todos os casos pesquisados. É importante ressaltar a ocorrência do abuso sexual em vários adolescentes e também em gerações anteriores das famílias, inclusive outras formas de violência”, denuncia o estudo”.
Fonte: Jornal Plural