Movimento reivindicatório e reitoria não tem se acertado. Nesta semana, cresceram os embates e denúncias
Matéria: Mayala Fernandes e Pedro Carrano – Brasil de Fato – Paraná
Há três dias, a ocupação estudantil indígena Maloca está sem água e sem luz.
Ela foi iniciada no dia 26 de maio, reivindicando um espaço para moradia de estudantes de diferentes etnias e regiões. São cerca de 64 estudantes indígenas atualmente na instituição.
O local escolhido para a ação é o prédio pertencente aos estudantes da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o edifício usado historicamente pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), que hoje está em condições precárias.
Esta é a argumentação da reitoria da universidade para que a ocupação não tivesse ocorrido ali (veja abaixo). E esse também é justamente o questionamento dos estudantes sobre o por que da precariedade dos espaços estudantis.
Desde então, movimento reivindicatório e reitoria da UFPR não tem se acertado. As divergências envolvem desde Grupo de Trabalho para debater as pautas estudantis, passando pelas condições de manutenção da ocupação no prédio.
O movimento estudantil indígena justifica que enviou ofício, no dia 5 de junho, destinado para a Superintendência de Inclusão, políticas afirmativas e diversidade da universidade (SIPAD).
No documento, refere-se a que “No local pudemos notar quedas recorrentes de energia, a água do local encontra-se suja sem condições de ser usada para beber pois a caixa d’água está há muito tempo sem limpeza. Temos muitas lâmpadas queimadas que precisam ser trocadas pois não funcionam”, ressalta o texto, solicitando vistoria de profissionais técnicos de engenharia.
“Estamos sem luz desde as duas horas da sexta-feira, e a resposta de Eduardo (Salamuni) é que a situação é crônica e não há o que fazer”, afirma Gislaine Vieira, integrante da ocupação e do coletivo dos estudantes indígenas da UFPR.
De fato, em mensagem particular para a liderança, Eduardo Salamuni, pró-reitor de Administração, reforça que solicitou religamento da luz no local, mas que não vê solução para a energia a não ser com uma reforma geral do prédio, não tendo “condições de servir como moradia, inclusive de forma passageira. Não foi projetado e construído para isso”, afirmou em conversa privada com a estudante.
“O único prédio nosso não tem energia”
Entretanto, no meio desse embate, Ana Keil, do Levante Popular da Juventude, organização apoiadora da ocupação indígena Maloca, na UFPR, destaca que a precarização da estrutura do DCE é sintoma de como os espaços estudantis foram administrados ao longo do tempo.
“Compusemos a última gestão do DCE da UFPR. É difícil fazer ações no prédio por conta da falta de energia (…) faz parte da expulsão dos sujeitos da UFPR. Afinal, é um prédio dos estudantes, do elo mais fraco da universidade, ou seja, o único prédio totalmente nosso é um prédio sem energia e estrutura. Vem de um processo anterior de abandono por parte da reitoria de um prédio fundamental para o movimento estudantil”, afirma Keil – enxergando a ocupação também do ponto de vista da necessidade de valorização da experiência organizativa dos estudantes. E dos estudantes indígenas.
Universidade recusa negligência e responsabiliza estrutura antiga do imóvel por falta de luz
Em resposta enviada ao BDF PR, pela assessoria de comunicação da UFPR, a universidade reforça o posicionamento contrário à ocupação no local, justificando que a demanda por moradia não poderia se dar a partir do espaço.
“O prédio que os estudantes ocupam, assim como os demais prédios do complexo da reitoria, não foram projetados para habitação, apenas para fins administrativos/educacionais. A estrutura elétrica não suporta múltiplos aparelhos ou aqueles de carga elétrica elevada. São registradas quedas de luz frequentes no espaço porque os estudantes usam a estrutura para chuveiros, carregar equipamentos, secadores, etc, essas coisas quando ligadas conjuntamente podem levar à queda da energia. Quando os estudantes ocuparam o espaço sequer tinha disponibilidade de energia elétrica, a Pró-reitoria de administração fez uma ligação para que eles tivessem acesso a tomada para carregar o celular, pelo menos, foram avisados de que a estrutura do prédio não tem resistência”, afirma.
A reitoria afirmou em entrevista que está trabalhando para o retorno das condições de luz no ambiente. “Reitoria foi informada da falta de energia e solicitou a equipe de manutenção para que se desloquem até o endereço, isso já foi feito anteriormente, inclusive mais de uma vez no mesmo dia”
Diferentes etnias e regionalidades integram os cerca de 64 estudantes indígenas da UFPR/Pedro Carrano