Brasil é o segundo país com mais casos diagnosticados, de acordo com Organização Mundial de Saúde
Levantamento da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANMT) identificou que 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a Síndrome de Burnout. Também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional, o quadro corresponde a um distúrbio emocional cujos principais sintomas são exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade.
A causa mais frequente da doença é justamente o excesso de trabalho. A condição é comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão como médicos, enfermeiros, professores, policiais, jornalistas, entre outros.
No entanto, a psicóloga Karine Oliveira ressalta que a Síndrome de Burnout afeta profissionais de todas as áreas. “A Síndrome de Burnout diz respeito a forma como a pessoa se relaciona com o trabalho e esta interação, por sua vez, é indissociável das condições de trabalho que ela dispõe no dia a dia. Se falta infraestrutura, segurança, este trabalhador estará mais exposto”, afirma.
“Se o trabalhador está submetido a um ambiente marcado por assédio, abusos, constrangimentos, jornadas extenuantes, sem descanso, ele estará mais propenso a desenvolver o quadro”, complementa.
Ainda, de acordo com a especialista, o diagnóstico de Burnout deve ser realizado por um psicólogo ou psiquiatra, de preferência especialista na área, para que se possa desenvolver um tratamento multidisciplinar.
“Os departamentos de recursos humanos das empresas precisam estar preparados para enfrentar essas situações, para conseguir estabelecer um ambiente de trabalho saudável”, adverte.
“Somos pessoas e não máquinas”
Ana* é jornalista e trabalha há uma década em uma agência de publicidade. Ela foi diagnosticada com Burnout há um ano. “No trajeto para o trabalho, sentia náuseas, palpitações, tremores. Já tinha ouvido falar da Síndrome, mas não sabia como poderia ser limitante. Comecei a me perceber mais desatenta, com lapsos de memória e cometendo erros em tarefas muito comuns”, relata.
De acordo com ela, o ambiente extremamente competitivo aliado a metas irreais, assédios e falta de reconhecimento cooperaram para o adoecimento. “Somos pessoas e não máquinas, precisamos de suporte, respiros. Indicadores são feitos de pessoas”, adverte.
Direitos do trabalhador
Em novembro do ano passado, o Ministério da Saúde atualizou a lista de doenças relacionadas ao trabalho. O número quase dobrou: de 182 para 347 patologias. Foram incluídas doenças como Covid-19, Burnout e abuso de drogas.
Quando um trabalhador é afastado do serviço por causa de uma doença relacionada ao trabalho, ele passa a ter o direito de receber o auxílio-doença acidentário. A diferença desse benefício para o auxílio-doença previdenciário comum, que é concedido em casos de afastamento por doença de qualquer natureza, é a estabilidade de 12 meses que garante ao trabalhador para permanecer no emprego após a alta médica, ou seja, ele não poderá ser demitido sem justa causa neste período.
*A fonte pediu para não ser identificada por receio de retaliações.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.