Polícia Militar foi acionada apenas depois de decisões do STF. Fontes ouvidas pelo Plural disseram ter esperado ação mais contundente do chefe do Executivo
Foi apenas no fim da manhã desta terça-feira (1º), após duas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), que o governador do Paraná decidiu se manifestar sobre as estradas interditadas no Paraná, num movimento de grupos que protestam, de maneira antidemocrática, contra o resultado das eleições no último domingo (30).
Uma nota contida, seguida de um longo período de silêncio que, na avaliação de fontes ouvidas pelo Plural, joga panos quentes e ignora a gravidade do movimento – ponto de inflexão até mesmo com o setor produtivo paranaense, uma base aliada importante do chefe do Executivo.
Estradas interditadas no Paraná
Levantamento recente sobre as estradas interditadas no Paraná indica 94 trechos de bloqueio, sendo 88 deles em BRs e 46 em PRs. Segundo apurou o Plural, a Secretaria de Segurança Pública (Sesp) decidiu apenas na noite desta segunda (31) – um dia depois do início dos piquetes e depois de ser provocada – acionar a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) para garantir na Justiça o desbloqueio dos trechos.
Embora, internamente, também conforme apuração da reportagem, esse tipo de procedimento tão protocolar não seja comum quando é exigida a atuação imediata das forças de segurança do estado para desfazer interdições.
Além de que, a essa altura, o envolvimento da Justiça estadual seria apenas uma medida institucional.
Rodovias brasileiras
Nesta terça, o Supremo Tribunal Federal (STF) emitiu duas determinações para liberar o tráfego nas rodovias brasileiras – além do Paraná, pelo menos outros 24 estados tinham pontos interditados neste início de semana. Foram, no ápice contabilizado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), 421 interdições em todas as regiões do Brasil.
Na decisão mais recente, o ministro Alexandre de Moraes deu aval para que as Polícias Militares (PMs) dos estados ajam e desobstruam as rodovias, inclusive as federais, diante da passividade da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Na prática, a Polícia Militar não é proibida de atuar em rodovias geridas pela União, desde que o comando da PM abra diálogo com a Superintendência local da PRF. O que, no Paraná, não seria um inconveniente. Antônio Paim, atual superintende da PRF do estado, já fez parte da equipe de Ratinho Jr. e chefiou, entre fevereiro de 2019 a maio de 2021, a 1ª Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran) do Detran.
Mas interlocutores do governo, embora esperassem, não viram agilidade do governador para agir e coibir os bloqueios – que afetaram deslocamentos até mesmo de cargas de alimentos e de pacientes.
Passividade
“Acho que [a liberação das estradas] é melhor para todo mundo”, afirmou uma das fontes próximas a Ratinho ouvidas nesta terça-feira (1º). Um deputado disse que a “passividade do governador como se estivesse diante de um simples movimento de massa impressiona”, principalmente pela motivação dos protestos. Em outro meio, a avaliação não é de temor, mas de que um possível prejuízo ao setor produtivo pudesse aumentar a pressão.
Há quase um consenso de que, além de reiterar a intervenção da PM nas rodovias, o governador teria de ter se posicionado antes sobre os atos, já condenados por uma série de entidades, entre elas a Confederação Nacional de Transportes (CNT) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logísticas (CNTTL).
Polícia Militar
O comando-geral Polícia Militar do Paraná afirmou, após uma reunião a portas fechadas, estar prestando auxílio à PRF, nas rodovias federais, desde as 5h da manhã; e desde o mesmo horário age para desbloquear os trechos trancados nas PRs.
“Primeiramente, seguindo a técnica policial, as tratativas são para que os manifestantes deixem bloqueios de forma pacífica”, afirma a corporação em nota.
A técnica pacificadora vem imperando. Vídeo que circula nas redes sociais mostra uma roda de conversa estabelecida entre um grupo de PMs do Paraná e manifestantes que chama a atenção pelo trato amigável.
“Se ficar na lateral, montar uma barraca para concentrar, para mostrar que continua o movimento, não posso fazer nada. Aí é livre manifestação”, diz um PM. “Neste momento, é liberar a pista para quem quer ir. Amanhã é outro dia, amanhã é outro dia”, fala outro policial, logo depois interrompido por um dos organizadores do bloqueio que usa palavrões para se referir ao ministro Alexandre de Moraes, em meio a gargalhadas de todo mundo.
O comando da PM reconheceu as imagens e disse que a cena foi registrada em Jacarezinho, no Norte do Paraná, onde, segundo a Polícia, quase todos os pontos de bloqueio já foram encerrados.
Decisão soberana
O posicionamento emitido pelo Palácio Iguaçu fala da atuação da PM em defesa ao direito de livre circulação no território nacional como garantia do povo brasileiro. “É momento de pacificar o Brasil. As eleições de 2022 ocorreram de maneira democrática e a decisão soberana das urnas precisa ser respeitada”.
O texto não foi compartilhado pelo governador nas redes sociais, trata-se de um posicionamento à imprensa. E também não condena o propósito dos atos de não reconhecer a eleição do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno ocorrido no domingo (30).
A própria CNT, ao acionar o STF para garantir o desbloqueio das rodovias em todo o país, disse que paralisações estariam acontecendo pela “simples discordância com o resultado do pleito presidencial ocorrido no país”, de modo a caracterizarem-se como “manifestações antidemocráticas e, potencialmente, criminosas que atentam contra o Estado Democrático de Direito”.
Aliado de peso
O candidato derrotado por Lula nas eleições presidenciais tem um aliado de peso no governador do Paraná. Ratinho Jr. apostou todas as fichas na reeleição de Bolsonaro e foi um dos chefes estaduais que mais se mobilizou para alavancar a campanha do mandatário. Após o primeiro turno, agitou uma intensa agenda com prefeitos para, segundo ele, garantir a Bolsonaro cerca de 70% dos votos entre os eleitores do estado.
Após o resultado das eleições confirmar a vitória de Lula, Ratinho usou as redes sociais para reconhecer o resultado das urnas. Sem parabenizar o candidato eleito, escreveu ser “hora de continuar trabalhando, juntos por um Brasil unido e em paz”.
Fonte: Jornal Plural