O caso mais grave envolveu a equipe da TV Bandeirantes, que teve uma câmera danificada e o repórter Matheus Goulart agredido por um homem
Integrantes de pelo menos cinco equipes de TV foram ameaçados e impedidos de realizar seu trabalho nos atos bolsonaristas que desde a terça-feira (1º) são registrados em frente à sede do Comando Militar do Sul, no Centro de Porto Alegre.
Os eleitores do presidente Jair Bolsonaro (PL) pedem intervenção militar contra o resultado das eleições de domingo (30), que deu a vitória ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Apologia à ditadura militar é crime no Brasil, previsto na Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170/83), na Lei dos Crimes de Responsabilidade (Lei 1.079/50) e no Código Penal (artigo 287).
O caso mais grave envolveu a equipe da TV Bandeirantes, que teve uma câmera danificada e o repórter Matheus Goulart agredido por um homem. O agressor foi preso em flagrante pela Brigada Militar (BM). Segundo a corporação, o homem – que não teve a identidade divulgada – agrediu Goulart e o cinegrafista Rogério Aguiar pelas costas com socos e empurrões.
O agressor, que vestia uma camiseta verde e amarela do presidente Jair Bolsonaro, fugiu mas foi detido por pessoas que testemunharam o ato de violência. “Apesar das provocações que ouvíamos, comuns em coberturas deste tipo, o clima era tranquilo. As pessoas estavam, inclusive, nos mostrando os cartazes e pedindo que filmássemos. Até que o covarde chegou, me empurrou, deu um soco na nuca do Rogério e outro soco no rosto do Moisés [motorista], que caiu no chão. O covarde ainda tentou quebrar nosso equipamento. Em parte, conseguiu”, relatou Goulart.
Afronta à Constituição
A equipe recebeu atendimento no Hospital de Pronto Socorro e logo depois registrou um boletim de ocorrência. A Bandeirantes repudiou a agressão e informou, em editorial lido em seus telejornais, que o ato configurou um crime.
“Além dos danos físicos e materiais causados pelo agressor, é uma afronta à Constituição. Não cometer crimes como o fechamento de ruas e estradas, isso sim é agir de acordo com a Constituição. Agredir jornalistas no pleno exercício do seu trabalho é atentar contra a ordem democrática e o estado de direito”, pontuou a emissora.
Também profissionais da Record e do SBT sofreram intimidações e ofensas quando registravam o ato bolsonarista que pedia intervenção militar em reação à vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de domingo (30).
O movimento ganhou força na quarta-feira (2), quando milhares de pessoas interromperam o trânsito na região e também hostilizaram frequentadores da Feira do Livro de Porto Alegre.
Na Record, a repórter Daiane Dalle Tese e sua equipe foram hostilizadas e impedidas de registrar o ato durante uma participação ao vivo para o programa Balanço Geral. Um boletim de ocorrência foi registrado pela repórter, mas nenhum agressor acabou identificado.
A repórter relatou que um homem começou a transmitir seu boletim em uma live e a chamar de mentirosa. “Gravem esse rosto, essa pessoa é mais uma que mente”, relatou ela sobre as falas do agressor.
O repórter João Pedro Tavares e o cinegrafista Danúbio Germano, da RDC TV, foram cercados pelos bolsonaristas e obrigados a desligar o equipamento de gravação. Eles tiveram de deixar o local para evitar novas agressões. O repórter Lucas Abati e o cinegrafista Cristiano Mazoni, ambos do SBT, também foram impedidos de trabalhar. Equipe da RBS TV também deixou o local.
Repúdio e indignação
A Record do Rio Grande do Sul emitiu uma nota de repúdio contra as agressões e lembrou que a liberdade de imprensa é um dos pilares da democracia. A Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (Agert) também repudiou a violência dos bolsonaristas. “Meios de comunicação livres são sempre um importante pilar do estado democrático de direito”, diz o documento.
O ex-governador Eduardo Leite (PSDB), reeleito para o cargo, foi às redes sociais manifestar indignação. “Ataques à imprensa são atentados contra a democracia. Os episódios de hoje em Porto Alegre, cometidos por quem se recusa a aceitar o resultado das urnas, são inaceitáveis e devem ser repudiados por todos. Minha solidariedade aos profissionais”, escreveu.
O Sindicatos dos Jornalistas do RS divulgou nota de repúdio e afirmou que, “em hipótese alguma”, vai admitir que agressões desse tipo sejam feitas contra os profissionais que estão exercendo seu direito ao trabalho. A presidente da entidade, Laura Santos Rocha, vinculou as agressões ao governo de Bolsonaro, que “criou um clima hostil também da parte dos apoiadores do atual presidente, que agem de forma perversa, desrespeitando o resultado democrático das urnas”.
Segundo ela, o sindicato encaminhou ofícios às autoridades de segurança pública para que “investiguem e punam os responsáveis por mais esse ataque à imprensa, além de garantirem a segurança da imprensa no exercício de sua função”. Segundo a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), foram registrados 18 casos de agressões a jornalistas em 2021 na região Sul, representando 6,06% do total de 430 casos no país.
Fonte: Redação CUT