Além da precarização das condições de trabalho, funcionários alertam para comprometimento da qualidade dos serviços prestados à população
Esta segunda-feira (5) tem sido marcada por diversas mobilizações contra o Projeto de Lei (PL) nº 522/2022, que dispõe sobre a gestão dos hospitais universitários estaduais, possibilitando que a administração seja terceirizada para iniciativa privada. Uma das unidades afetadas é o Hospital Universitário (HU) de Londrina. Criado em 1971, o espaço tem como finalidade o desenvolvimento de ensino, pesquisa e a extensão de serviços à comunidade. Atualmente, é o único hospital público de grande porte no norte do Paraná, atendendo pacientes de aproximadamente 250 cidades no estado além de outras regiões do país.
No período da manhã, a Comissão de Seguridade Social da Câmara Municipal de Londrina realizou reunião pública. A audiência, organizada pela vereadora Lenir de Assis, representante do Partido dos Trabalhadores (PT), contou com a participação de membros de diversas entidades como Conselho Universitário, Diretoria do Hospital Universitário de Londrina, Associação de Ex-Alunos da Universidade Estadual de Londrina (Alumni UEL), Sindicato dos Professores do Ensino Superior Público Estadual de Londrina e Região (SINDIPROL/ADUEL), Associação Médica de Londrina, Conselho Municipal de Saúde e Ministério Público. Acompanhe aqui cobertura realizada pelo Portal Verdade.
Também hoje, ocorreram duas sessões de assembleias extraordinárias convocadas pelo Sindicato dos Técnicos-Administrativos da UEL (ASSUEL). O primeiro encontro aconteceu no campus, no Ambulatório do Hospital de Clínicas (HC), às 11h. Já à tarde, a partir das 13h30, a reunião ocorreu no HU. Para Ana Cruz, servidora, o momento que a saúde pública paranaense atravessa é “muito crítico”. Ela lembra da importância do HU para o enfrentamento da pandemia de Covid-19 e considera que a gestão de Ratinho Júnior (PSD) está faltando com o respeito com toda comunidade.
“Privatizar para quê? Algo que está dando resultado, que tem uma gestão que participa, que tem um corpo de funcionários, docentes que trabalham, vestem a camisa, que respeita o paciente, cuida com carinho e atenção. Não dá para gente aceitar este projeto que está sendo imposto para nós, goela abaixo, sem discussão. Nós estamos descontentes, queremos que o governo retire este projeto de pauta e faça uma discussão decente. Hoje, o HU é campo de estágio e de assistência para pacientes de mais de 20 cidades, como que vai ficar este atendimento? Isto não está claro”, observa.
Marcelo Seabra, presidente da ASSUEL, conta que os trabalhadores, estão, primeiramente se inteirando das finalidades da iniciativa, porém, caso não o PL não seja retirado de pauta ou menos o caráter de urgência, haverá nova assembleia com a possibilidade de deflagração de greve. “Na quinta-feira, caso não haja evolução na discussão com o governo, se ele se mantiver intransigente, vamos chamar assembleia com vistas a greve a partir de segunda-feira”, indica.
Para o dirigente, as consequências da medida serão sentidas pela população que terá o direito à saúde de qualidade comprometido e os servidores, cuja precarização do trabalho será intensificada. “É importante frisar que os insumos, por exemplo, hoje são disponibilizados para que sejam utilizados na medida da necessidade que houver para que o servidor faça um bom atendimento e não há empresa que sob a lógica do lucro tenha a mesma perspectiva. Quem vai sair perdendo? O usuário porque a assistência não será da mesma qualidade. O servidor também sairá prejudicado porque a empresa vai pretender cortar qualquer benefício que ele tenha. Os que forem contratados, vão entrar com salário rebaixado e as condições de trabalho deterioradas”, observa Seabra.
A mesma compreensão é compartilhada por Vinicius Fernandes, assessor jurídico da ASSUEL. “Se trata mais uma medida no caminho da extinção do serviço público no Paraná. A ASSUEL vê com muita preocupação. Um Projeto de Lei que, no nosso entendimento, fere a autonomia universitária que é prevista como garantia constitucional, que fere o direito ao serviço público de qualidade, pois vai colocar a gestão dos hospitais universitários no estado do Paraná nas mãos de fundações públicas ou privadas, ou seja, há a possibilidade de completa privatização da administração dos hospitais”, adverte.
Fernandes lembra também dos reflexos na formação dos estudantes da área da saúde. “Nós podemos esquecer que o hospital universitário é um hospital escola, atua na formação de profissionais da saúde e, ainda, exercer um papel de assistência fundamental. O Projeto de Lei pretende separar, como se fosse possível, o que é assistência, o que é ensino e o que é gestão. Para mim, há uma indissociabilidade e o que o HU faz é uma substanciação disso”, pontua.
Amanhã (6), a Comissão UEL pela Democracia convocou ato contra o Projeto de Lei em frente ao Hospital Universitário de Londrina, a partir das 9h30. A manifestação é aberta a toda população. Confira:
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.