24% dos jovens oriundos de famílias mais pobres estão fora do mercado de trabalho e dos bancos escolares. A taxa cai para 6% entre camadas mais ricas
O último boletim “Emprego em Pauta”, divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) neste mês, indica que 15% dos jovens de 15 a 29 anos, não frequentaram educação formal, não trabalharam ou procuraram uma vaga em 2021. O índice representa 7,6 milhões de pessoas. Contudo, a renda familiar (considerando valores advindos do trabalho, benefícios assistenciais e previdenciários) é um elemento fundamental para a formação deste quadro.
Segundo o estudo, entre as famílias mais empobrecidas, 24% dos jovens não estavam estudando ou trabalhando no último ano. O fator mais apontado para estas ausências entre as camadas mais vulnerabilizadas foi a necessidade de cumprir afazeres domésticos e cuidado de pessoas, 40%. Como alertado pelo levantamento, além da desigualdade econômica, a constatação evidencia as diferenças de gênero, já que estas atividades são realizadas, majoritariamente, por mulheres. Ainda acerca deste segmento econômico, cerca de 16% buscando emprego no mesmo período.
Já entre os mais ricos, a proporção de jovens fora do mercado de trabalho e bancos escolares foi de 6%, ou seja, quatro vezes menor. Para este segmento, a justificativa determinante foi a frequência em outros cursos não regulares como pré-vestibulares. Outra observação importante trazida pela pesquisa é que jovens de classes mais abastadas encontram menos dificuldade de inserção no mercado de trabalho e para conciliar escola com emprego ou estágio, aproximadamente 23%.
De acordo com a socióloga Jaqueline Martins, investigações com esta natureza são preponderantes para desnaturalizar discursos estigmatizadores acerca das juventudes. Ela lembra do termo “nem-nem” para se referir aos jovens que não trabalham e nem estudam, porém ressalva a categoria pode simplificar assuntos que precisam ser vistos de maneira interseccional a fim de uma compreensão mais próxima à realidade.
“Ao considerarmos que jovens estão fora das escolas, universidades e mercado de trabalho é preciso entendermos os motivos que levam a esta condição. Além da escolha, existem determinações exteriores como a renda, gênero, pertencimento étnico-racial que podem dificultar ou cooperar para que estes jovens tenham ou não oportunidades”, avalia.
A pesquisadora alerta para violências como o genocídio da juventude negra e reforça para necessidade da proposição de políticas públicas que reconheçam estas diversidades, que possam olhar para o cotidiano das juventudes, sobretudo, de camadas mais subalternizadas, e procurem, assim, reduzir as disparidades. “A oferta de bolsas de estudos, cursos profissionalizantes, pré-vestibulares gratuitos, programas que direcionem para o mercado de trabalho, mais vagas em creches, são exemplos de ações que podem contribuir para que jovens de renda mais baixa consigam acessar a escolaridade e emprego”, pontua.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.