Camila Mīg Sá dos Santos da Silva é a primeira mulher indígena a ocupar vaga titular no CEPI-PR
Por Mayala Fernandes – Brasil de Fato/Paraná
O Conselho Estadual dos Povos Indígenas do Paraná (CEPI-PR) nomeou sua primeira conselheira titular mulher, Camila Mīg Sá dos Santos da Silva, do povo Kaingang, após críticas à baixa participação feminina e a criação de vagas específicas para mulheres. A nomeação ocorreu nesta quarta-feira (17).
“Camila é a primeira mulher indígena a ocupar a vaga no conselho, um marco histórico para as mulheres indígenas que passam a ocupar um espaço de diálogo, representatividade e autonomia, debatendo junto aos demais conselheiros as políticas públicas voltadas aos povos indígenas do nosso estado”, destacou a associação.
Criado em 19 de abril de 2023, com a sanção da Lei nº 21.430/2023, o CEPI-PR visa garantir a participação dos povos indígenas na deliberação, implementação e fiscalização de políticas públicas no estado. Inicialmente, todos os 11 conselheiros titulares eleitos eram homens, com apenas uma mulher como suplente.
A Associação de Mulheres Indígenas Organizadas em Rede (Amior) questionou a baixa participação feminina durante o ato de posse. Em resposta, o governo se comprometeu a criar vagas específicas para mulheres através de um edital direcionado a Organizações da Sociedade Civil (OSC).
Com a publicação do edital, a Amior foi selecionada e indicou Camila Mīg Sá dos Santos da Silva como conselheira titular, e Márcia Jera, do povo Guarani M’byá, como suplente.
“É um ciclo novo, as lideranças vão ter que aprender a trabalhar com as mulheres e as mulheres vão ter que aprender a trabalhar com as lideranças, tem tudo para dar certo, só se unir e ouvir”, afirma Camila.
“O meu papel ali dentro é dar voz para as mulheres e abrir espaço para outras indígenas”, diz ela. “Nós estamos nesse espaço pelas que antecederam a nossa luta, pelas que se foram, pelas que permanecem e continuamos ali pela que vão suceder a nossa luta!”, completa.
“A nossa entrada no conselho é muito importante porque vamos estar relatando e denunciando as violências contra as mulheres indígenas e eles [poder público] irão nos ouvir”, afirma Márcia Jera.
Márcia foi expulsa da sua comunidade pelo cacique após contrariar um ato de violência contra mulheres. Atualmente, ela está acolhida em outro território Guarani. Ela vê a eleição de duas mulheres conselheiras como um sinal de força do movimento e um gesto de coragem para que as mulheres indígenas do Paraná vejam que têm voz e podem procurar a Amior para casos de denúncias.
A Amior, por meio de suas representantes, se comprometeu a reforçar a luta pelos direitos das mulheres indígenas, crianças e anciões, tanto dentro quanto fora dos territórios, assegurando proteção integral e garantia de direitos.