Em novembro, foram criadas 135.495 vagas com carteira assinada no país. O número é quase 57% inferior ao mesmo período de 2021
De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados, nesta semana, pelo Ministério do Trabalho e Previdência, foram criadas 135.495 vagas de emprego em novembro no Brasil. O resultado considera 1.747.894 admissões e 1.612.399 demissões no período. Embora positivo, o número é quase 57% inferior do que foi alcançado no mesmo mês do ano passado, quando foram abertas 313.773 novas vagas.
O índice também é menor do que o atingido no mês anterior. Em outubro, foram ofertadas 159.454 vagas com carteira assinada, demonstrando, assim, tendência de queda na criação de postos de trabalho formais no país.
Os setores de comércio (saldo de 105. 969) e serviços (92.213) têm liderado a geração de empregos no país enquanto áreas como indústria (perda de 25.207 postos) e construção (18.769 vagas a menos) foram as que mais demitiram. No primeiro caso, há destaque para o varejo de vestuário e acessórios (20.731), o que pode se explicar pela proximidade das festas de fim de ano.
De janeiro a novembro deste ano, o saldo é de 2.466.377 novas contratações. No mesmo período de 2021, foram 3.070.285 postos. O salário médio de admissão ao emprego, em novembro, ficou em R$ 1.919,81. Já o salário dos dispensados era de R$ 2.009,05. Assim, quem é contratado ganha 4,4% a menos do que aquele que foi desligado.
Golpe e retrocessos nos direitos trabalhistas
Sob o governo de Michel Temer (MDB), após o golpe que destituiu a presidenta Dilma Rousseff (PT) o chamado “novo Caged” passou a contabilizar modalidades de trabalho mais precarizadas como a intermitente. Antes, o levantamento considerava as demissões e admissões de trabalhadores, informadas pelas empresas, contabilizando apenas empregos formais, com carteira assinada e por prazo indeterminado. A mudança na metodologia é amplamente criticada por especialistas da área, pois pode levar a “supernotificação”, ou seja, a um panorama maior do que o realmente foi construído.
Conforme demonstrou o Portal Verdade, levantamento realizado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) em parceria com a LBS Advogados identificou que os governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL) foram marcados por intensa precarização dos direitos da classe trabalhadora, culminando nas reformas trabalhista e previdenciária, aprovadas pelos mandatários em 2017 e 2019, respectivamente.
Ainda, de acordo com a pesquisa, majoritariamente, as transformações tentadas e efetivadas constituem uma “agenda destrutiva”, ou seja, contribuíram para terceirização dos postos, fechamento de vagas, desvalorização dos salários, flexibilização de benefícios consolidados, dificultaram o acesso dos trabalhadores à Justiça e as negociações por parte dos sindicatos.
Os reflexos podem ser percebidos no crescimento das taxas de desemprego, informalidade e concentração de renda, conforme aponta a economista Juliana Barbosa. “A reforma trabalhista é o exemplo mais cabal. Através dela, foi prometido que garantias dos trabalhadores seriam retiradas a fim de reduzir o custo da contratação e, assim, gerar mais vagas. Mas isso não aconteceu, ao contrário, o que vemos é o aumento de trabalhadores sem vínculo formal de trabalho e, portanto, desprotegidos”, aponta.
Londrina
Na cidade, foram criadas 746 vagas em novembro, segundo levantamento do Caged. O saldo é resultado de 7.336 admissões, contra 6.590 demissões no período. Com esta marca, o mês passado torna-se o com menos oportunidades para os trabalhadores desde abril no município. O segmento da indústria foi que mais registrou demissões no período. No acumulado do ano, Londrina gerou 8.468 vagas de emprego formal, resultado de 87,9 mil admissões e 79,4 demissões.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.