A condição de pessoa escravizada significou um processo de desumanização dos africanos e indígenas submetidos ao trabalho compulsório. No tocante às mulheres, se observa que a condição escrava era transmitida pela mulher, por isso, as leis que progressivamente culminaram na abolição do trabalho escravo no Brasil tinham como foco os sistemas de reprodução da escravidão, seja por tráfico marítimo ou o ventre escravo. Tal condição expressa que elas estavam em trânsito, ocupando vários espaços, entretanto, sem direito à expressão de seus pensamentos e vontades.
Com a abolição do trabalho escravo, a mulher negra teve que lidar com a exclusão referente ao seu gênero e com o passado escravista que recaiu sobre os libertos e descendentes de escravizados. Neste sentido, os movimentos feministas, movimentos de mulheres negras e movimentos de coletivos negros foram importantes historicamente no tocante à denúncia do racismo e do machismo enquanto mecanismos sociais que excluem determinados sujeitos sociais da participação social mediante critérios irracionais, bem como, vêm organizando o combate e intensificando a luta pelo direito das mulheres, dos negros e das mulheres negras.
Se observa ainda, que estas mobilizações político-sociais, reforçam a perspectiva de que esses movimentos contribuem para a revisão e conservação da memória, em especial, do povo negro. Essa memória reitera conquistas e garantia de direitos da população negra e reconhecimento do seu legado, levando ao empoderamento identitário e social, bem como a garantia à vida, o que tem consequências no processo de superação do racismo.
Sandra Mara Aguillera
Doutoranda Ciência da Informação UEL
Black Divas
Fundado em 2003 em Londrina, o Coletivo Black Divas é formado exclusivamente por mulheres negras e tem entre suas finalidades combater o racismo, a violência contra a mulher e incentivar o empreendedorismo feminino.