A universitária Juuara Juareza Barbosa fez história ao conduzir evento de lançamento da marca dos 50 anos do curso de Relações Públicas da instituição
Mulher, travesti, negra, Juuara Juareza Barbosa entrou no curso de Relações Públicas da Universidade Estadual de Londrina (UEL) ciente de todos os marcadores sociais que poderiam impactar em sua trajetória universitária. Fez e segue fazendo história ao ser a primeira travesti mestra de cerimônia em um evento oficial da instituição.
O feito acontece no chamado “julho das pretas” e ainda sob os ecos do mês da visibilidade trans. O evento ocorreu no último dia 13 de julho durante o lançamento da marca de 50 anos do curso de RP da UEL, como parte da disciplina de Eventos Estratégicos em Relações Públicas e contou com a presença de alunos, professores e autoridades da UEL, incluindo a reitora, Marta Fávaro.
Emocionada, Juuara comenta o pioneirismo de conduzir um evento oficial dentro da universidade, um espaço, por essência, excludente. “É potencialidade, é narrativa positiva de um corpo trans preto. É poder mostrar novas possibilidades quando eu for, por exemplo, fazer oficinas para as meninas nos Cras (Centros de Referências em Assistência Social)”, comemora.
O fato de muitos cursos da UEL estarem completando meio século e nunca antes uma travesti ter conduzido um evento oficial mostra que o ambiente universitário ainda reproduz estruturas sociais limitantes. “Apenas uma professora veio falar comigo sobre a necessidade de demarcarmos esse pioneirismo, porque estamos em um espaço onde isso é abafado”, comenta.
Nascida na zona metropolitana de Campinas (SP), Juuara vive em Londrina desde 2012, quando passou em seu primeiro curso superior na UEL, de Ciências Sociais.
Durante o curso, ela adquiriu letramento racial suficiente para se entender como mulher preta. Porém, não vivenciou por completo sua identidade travesti, como acontece hoje.
A escolha da segunda graduação em RP faz todo sentido diante da trajetória profissional de Juuara, que atua há anos como mestra de cerimônias, DJ, entre outras atividades do meio cultural.
“Ser uma mulher, ser uma mulher travesti, ser uma mulher travesti preta já traz consigo muitos marcadores. Estar ocupando uma vaga na UEL, que é uma das universidades mais bem avaliadas do Brasil é um baita desafio. Eu me sinto forte por causa da ancestralidade, e, ao mesmo tempo, sinto como uma grande responsabilidade para mim como militante e ativista por acesso de direitos”.
Fonte: Rede Lume