Mensagem similar também circulou em grupos de WhatsApp de agentes de fiscalização da URBS
“Eu queria pedir para vocês passarem na André de Barros, ali perto da antiga rodoviária, que está cheio de gente dormindo, e aqui na Marechal Deodoro que tem até uma cortina agora para não serem incomodados. Então, por favor, ali tem que tirar aquele povo dali. Se precisarem ir com a guarda… Não sei se vocês receberam alguma ordem de não tirar as pessoas, mas está um absurdo aquilo ali, sabe? Se vocês puderem, não precisa tirar na marra, né? E vá à guarda municipal para eles começarem a ficar um pouquinho de medo,” diz a presidente da Fundação de Assistência Social de Curitiba (FAS), Maria Alice Erthal, em áudio a um grupo de WhatsApp de servidores da Regional Matriz publicado pelo Jornal Plural nesta quinta feira, 24.
Na mensagem enviada ao grupo de whatsapp , não há nenhuma menção a qualquer tipo de ameaça apresentada pelos moradores de rua que demandassem uso de força policial. No entanto, ao final do áudio ela sugere que a situação “esteja feia” na região. “Porque tá difícil, viu? Tá muito feio aquilo ali, “diz a presidente da FAS.
Orientação similar circulou por escrito em grupos de WhatsApp dos agentes de fiscalização do transporte coletivo da URBS. Nestas mensagens que o Brasil de Fato Paraná teve acesso, sugere-se que acionem também a Guarda Municipal para a retirada de moradores de rua. “Moradores de rua embaixo dos pontos em estações de tudo devem acionar a Guarda e relatem dom fotos”, diz o informe nos grupos de WhatsApp dos servidores da URBS.
Para o Coordenador do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), o áudio revela prática já conhecida desde o período da pandemia. “Todo mundo já sabia. A gente denuncia na Defensoria e Ministério Público. Para nós é interessante que ela saísse da presidência. Não aceitamos esse tipo de postura de uma pessoa que está à frente da FAS. Trata-se de uma fala escandalosa”, afirma.
A presidente da Comissão de Direitos Humanos na Câmara Municipal de Curitiba, a Vereadora Giorgia Prates, se pronunciou também dizendo que irá tomar providências sobre o ocorrido. “Não é possível admitir que um órgão como a FAS, criado justamente para acolher pessoas em situação de rua, atue para oprimir essa população que já sofre tanto. Já acionei nosso jurídico e como presidenta da Comissão de Direitos Humanos, não posso permitir que essa atrocidade passe impune”, disse.
Importante destacar que no último dia 20, o Supremo Tribunal Federal formou maioria para confirmar uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, do final de julho, que proíbe autoridades públicas de fazer remoção e transporte forçado de pessoas em situação de rua.
O que diz a Prefeitura:
O Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a assessoria da Prefeitura Municipal de Curitiba, que informou que “o atendimento à população em situação de rua é uma das prioridades da política da assistência social de Curitiba. Diariamente, são implementados projetos e programas que visam auxiliar esses indivíduos a superar essa condição, com destaque para a abordagem social, na qual educadores sociais interagem com as pessoas em situação de rua, informando sobre serviços disponíveis, principalmente abrigos com alojamento, higiene e refeições. Tudo para auxiliá-los a reconstruírem suas vidas. Todas as ações da FAS são realizadas com consentimento dos moradores em situação de rua e buscam integrá-los à rede socioassistencial da Prefeitura de Curitiba, assegurando direitos, reintegração social e familiar. A abordagem ocorre por solicitações via Central 156 e busca ativa, mobilizando as equipes da FAS nas ruas em busca de pessoas necessitadas de abrigo. Em algumas situações, a presença da Guarda Municipal é imprescindível para garantir a segurança das equipes de abordagem social que trabalham 24 horas por dia e todos os dias da semana,” diz a nota.
Fonte: Brasil de Fato