Londrina registrou 6.581 casos confirmados e 72 mortes entre janeiro e outubro de 2023
O número de casos de Covid-19 vem apresentando alta nas últimas semanas em Londrina. A Secretária Municipal de Saúde já havia divulgado que em setembro 635 pacientes positivaram para Covid-19 na cidade, representando um aumento de 846% em relação a agosto. Já em outubro, de acordo com o último relatório divulgado no dia 23, foram registradas 12 mortes e 626 casos, o que representa quase 10% do número total de casos identificados em 2023. O relaxamento nas medidas de proteção e a baixa procura por vacina podem explicar esse crescimento. Apesar da subida, os pacientes geralmente apresentam sintomas leves
A OMS (Organização Mundial da Saúde) decretou fim da pandemia de Covid-19 em maio deste ano, mas, mesmo antes, muitas cidades no Brasil já haviam relaxado as medidas de proteção devido à diminuição de casos. O fechamento de comércios e o uso obrigatório de máscaras foram caindo conforme a vacinação surtia efeito. Foram 28,5 milhões de doses de vacinas aplicadas até o dia 18 de janeiro deste ano, quando a campanha de vacinação havia completado dois anos.
Porém, o benefício da vacina – a diminuição do número de casos e de mortes – causa um paradoxo: pela doença não estar mais tão visível, as pessoas podem não estar se protegendo mais da maneira que deveriam e nem se preocupando em manter o ciclo vacinal completo.
O paradoxo da vacina
A vacina contra a Covid-19 foi responsável pela queda drástica nos números de casos no mundo inteiro. Com cada vez menos infectados, o coronavírus passou a se afastar do dia a dia da população, acarretando em uma aparente sensação de segurança, fazendo com que as pessoas se expusessem, sem perceber, cada vez mais a situações de risco em relação à doença.
Esse fenômeno atinge também aqueles que atuam diretamente nos cuidados dos pacientes, como exemplifica a técnica de enfermagem, Claudinete Botini: “Eu, durante o período da pandemia, nem gripe peguei, ainda que trabalhando no hospital. Isso porque não tirava a máscara por nada. O medo de levar o vírus para dentro da minha casa, pois tenho pais idosos, era grande. Então, o uso de máscara era contínuo. Porém, pós-pandemia, conforme foi liberando o uso das máscaras, eu peguei gripe, garganta inflamou. Os cuidados já diminuíram muito. As notícias de casos graves sumiram, então, a população deu uma relaxada.”
Assim como Claudinete, outros profissionais da saúde também relaxam os cuidados com a Covid-19: “Trabalho em dois serviços e como a lei municipal não obriga mais o uso de máscaras, em um serviço está tudo liberado. Já no outro a CCIH [Comissão de Controle de Infecção Hospitalar] orienta o uso de máscaras dentro dos quartos e no pronto socorro. Mas, infelizmente, até o profissional de saúde não está mais tão atento às precauções”, explica a técnica.
O descuido pode gerar ainda uma outra consequência: o afastamento dos próprios trabalhadores. Só nos primeiros três meses de pandemia, ainda em 2020, mais de 80.000 profissionais da saúde já tinham sido positivados com a doença. A enfermeira Margarete de Araújo Andrade, chefe da Dasc (Divisão de Assistência à Saúde da Comunidade), responsável pelo atendimento médico dos servidores do Hospital Universitário de Londrina, contou que os funcionários da unidade estão demorando cada vez mais para procurar atendimento após sentirem os primeiros sintomas. Por conta disso, ela sugeriu que, talvez, as campanhas de conscientização de enfrentamento ao coronavírus devessem ser repensadas.
Discurso que mata
Não se pode descartar também a parcela de responsabilidade que o movimento anti-vacina tem neste cenário. Apesar de ser difícil chegar ao impacto desses discursos na cobertura vacinal, é possível ter uma ideia. Em 2019, o Brasil perdeu o certificado de “país livre do vírus do sarampo” devido à dificuldade em controlar o aumento de casos. Ainda em 2019, a taxa de vacinação completa ficou abaixo dos 65% entre aqueles elegíveis a tomar a vacina. Outra doença que traz preocupação é a poliomielite. Erradicada em 1989, os índices de vacinação não chegaram a 72% em 2022.
Alerta importante
A enfermeira Claudinete fez um relato importante em sobre o preparo dos profissionais de saúde no combate ao Covid-19: “Se quer saber se eu acho que hoje existe preparo? A resposta é não. Ainda não estamos preparados. Os profissionais estão cada vez menos qualificados, e cada vez menos em busca de qualificações, pois o salário precário como exemplo o da enfermagem não permite o avanço profissional mediante a capacitações e isso está em déficit inclusive na educação continuada dos serviços de saúde. Sim, a vacina nos salvou, nos permitiu seguir sem medo, mas não certos de que, se outra variante surja e a vacina se torne ineficaz, será diferente do que enfrentamos no pico da pandemia”, observa.
Atualmente, segundo o Ministério da Saúde, circula pelo Brasil uma sub variante da Omicron: a XBB 1.5. Segundo o Ministério, apesar de mais infecciosa, ela é bem menos mortal do que a própria Omicron.
*Matéria do estagiário Lucas Worobel sob supervisão.