Deputados federais poderiam se candidatar sem perder chance de reeleição, o que pode causar número inédito de interessados
A possível cassação do mandato do senador Sergio Moro (União) pode criar uma situação rara para os políticos do Paraná: a possibilidade de se candidatar a uma vaga ao Senado sem correr o risco de perder a disputa pela reeleição na Câmara. Isso desperta um interesse muito maior do que o normal pela vaga, e pode fazer com que a concorrência seja altíssima, com todos os partidos grandes lançando candidaturas próprias.
O mandato de Sergio Moro parece estar por um fio. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) deverá já em janeiro dar sua sentença sobre o caso, mas no meio jurídico é unanimidade que as provas de abuso de poder econômico são muito fortes e que dificilmente o ex-juiz conseguirá se livrar da cassação. O problema, levantado pelo PL e pelo PT, é que Moro já havia gastado pelo menos R$ 2 milhões como pré-candidato a Presidente quando passou para a disputa ao Senado, e a Justiça Eleitoral deve entender que esse valor pesou na eleição.
Os primeiros candidatos, e mais óbvios, à vaga de Moro, serão os dois políticos derrotados por ele em outubro de 2022. Um deles é o ex-deputado federal Paulo Martins, do PL, que entrou com o recurso contra Moro. Apoiado por Jair Bolsonaro (PL), Paulo Martins acabou a eleição em segundo lugar. Agora, sem seu principal cabo eleitoral na Presidência, é difícil saber se terá o mesmo desempenho.
Alvaro Dias (Podemos) talvez seja o candidato mais ansioso pela vaga. Era ele quem ocupava a vaga até 2022 e era candidato à reeleição. Alvaro foi quem mais apoiou Moro na disputa pela Presidência e de repente se viu traído pelo ex-juiz, que não apenas mudou de partido como resolveu disputar a vaga do próprio Alvaro no Paraná. Desde a derrota, Alvaro Dias está sem mandato.
A candidata do lavajatismo poderá ser Rosângela Moro (União), esposa de Moro e hoje deputada federal por São Paulo. Deltan Dallagnol (Novo) teria um risco grande demais de acabar com o registro da candidatura cassado, como aconteceu em 2022 quando se candidatou a deputado federal.
No PT, a candidatura que mais ganha força é a da deputada federal Gleisi Hoffmann. Ex-senadora (ocupou o mandato entre 2011 e 2019), a presidente nacional do PT está em seu segundo mandato na Câmara e agora, sem as acusações feitas durante a Lava Jato, e com o apoio de Lula, sonha em voltar ao Senado – com a segurança de que não precisa renunciar a seu mandato atual para disputar a vaga.
Roberto Requião, hoje no PT, não teria condições de concorrer contra Gleisi no partido. Caso queira concorrer a mais um mandato no Senado, deve mesmo mudar de partido – o que, de qualquer forma, já está quase certo, já que o ex-governador não se sente respeitado pelos petistas.
Dos deputados federais da atual bancada paranaenses, o difícil deve ser encontrar alguém que não tenha pensado, pelo menos por um momento, na possibilidade de se lançar ao Senado. Alguns aparecem com mais chances, como o ex-ministro da Saúde Ricardo Barros (PP) e Beto Preto (PSD).
A vaga também pode atrair políticos de outros estados, que poderiam mudar o título para cá na intenção de disputar a eleição fora de época – e, se não der certo, voltar a seus redutos sem problema. Foi o que se especulou no caso da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), que no entanto disse não ter interesse no cargo.
Fonte: Jornal Plural