Casos muitas vezes foram tratados como problemas de relação interpessoal, dificultando a averiguação
Na última semana, o MPT (Ministério Público do Trabalho) abriu inquérito para apurar denúncias de assédio moral sofridas por funcionários da CASSI (Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil). A empresa é acusada de não dar o devido andamento em denúncias sobre assédio levada pelos funcionários.
Em Londrina, a reclamação gira em torno do PSO (Plataforma de Suporte Operacional), responsável pelo sistema de caixas das agências. As reclamações estão sendo acompanhadas pelo Sindicato. O inquérito instaurado contra a CASSI vai apurar se houve assédio moral por parte da gestão da empresa contra os funcionários e se a órgão não se omitiu ao deixar de verificar as denúncias recebidas e, ainda, se demitiu funcionários que relataram o abuso.
A gestão dessa instituição é paritária, ou seja, é gerida tanto por representantes da empresa Banco do Brasil como por funcionários do banco. Esse ano haverá votação para escolher novos gestores para a CASSI.
Segundo Laurito Porto de Lira, secretário de formação do Sindicato dos Bancários de Londrina e Região, em entrevista ao Portal Verdade, não há situações semelhantes envolvendo a CASSI na região de Londrina. Contudo, dois problemas de assédio dentro do Banco do Brasil estão sendo acompanhados pelo Sindicato no Paraná. O primeiro caso é em Toledo e o outro caso é em Londrina.
Em Toledo, os funcionários denunciam que o assédio é cometido pelo atual gestor da agência do Banco. O dano psicológico dos trabalhadores foi tanto que é relatado que já houve tentativa de suicídio e uso de remédios controlados devido a situação.
Apesar da gravidade, a FETEC-CUT/PR (Federação dos Trabalhadores nas Empresas de Crédito do Paraná) alega que o Banco do Brasil não tomou providências e que a justiça foi acionada para tentar resolver. Em dezembro do ano passado, a agência chegou a ser paralisada por um dia em um movimento da Federação que representa os trabalhadores, a fim de chamar a atenção para o problema.
Em Londrina, a denúncia de assédio aponta a gestora do PSO da cidade como responsável. Os funcionários relatam que a cobrança incisiva de metas fez com que trabalhadores passassem a tomar remédios antidepressivos, chegando a solicitar afastamento do trabalho por problemas psicológicos.
Para Laurito, todos esses casos de assédios envolvendo o Banco do Brasil são estruturais, decorrentes do modelo de gestão. “Os problemas estão ligados à estrutura gerencial. Vimos que até a CASSI passou a utilizar o assédio como estrutura de gerenciamento e organização das atividades”, avalia.
Outro ponto levantado pelo secretário de formação do Sindicato se refere a auditora interna do Banco, responsável por verificar as denúncias, que foi desmantelada nos últimos anos, prejudicando a apuração detalhada dos casos.
“A gente teve uma conversa com o pessoal da auditoria do Banco, onde tivemos uma posição muito ruim, porque o Banco enxerga os casos de assédio como um problema de relacionamento interpessoal. Por isso que acabam ocorrendo essas situações de não terem o devido andamento e solução do problema, porque eles avaliam tudo como problema de relação interpessoal”, adverte.
A liderança ressalta que recentemente foram realizadas conversas tanto em âmbito estadual como nacional e a auditoria está começando a mudar sua posição em relação ao assédio, deixando de tratar como problemas individuais.
Ao ser questionado se esses casos apresentados na reportagem envolvem discriminação, tanto racismo, como misoginia, Laurito afirmou que já houve casos envolvendo preconceito racial dentro do Banco e que nos registros atuais pode sim considerar o aspecto do machismo, tendo em vista que a maioria das vitimas são mulheres. “A questão da misoginia também está entranhada nesse problema, a imposição da cultura machista dentro da estrutura de organização do Banco”, assinala.
“Tivemos algumas reuniões com a mesa de igualdade de oportunidades do Banco do Brasil para tentar sanar. É um problema de cultura interna e nessas conversas o Banco falou que estão trabalhando para mudar essa cultura, mas que leva tempo”, ele acrescenta.
*Matéria do estagiário Lucas Worobel sob supervisão.