Manifestantes do Novo Amparo e Felicidade fecharam parte da Rodovia Carlos João Strass, na zona norte
Moradores dos jardins Novo Amparo e Felicidade fecharam parcialmente a Rodovia Carlos João Strass (sentido zona norte) no início da noite desta quinta-feira (15), em Londrina. Eles protestavam contra a Polícia Militar que matou seis pessoas de uma só vez dia 7 de fevereiro, numa residência da região.
A PM acompanhou a manifestação e chegou a fechar a pista contrária da rodovia (sentido centro). Os moradores gritaram palavras de ordem e cantaram músicas religiosas e o Hino Nacional. Eles reivindicam a obrigatoriedade de câmeras acopladas aos uniformes dos policiais.
A comunidade contesta a versão apresentada pela polícia de que, no dia 7, houve confronto entre os agentes e os seis homens antes das mortes.
A PM diz que foi até o local devido a uma denúncia anônima, segundo a qual iria acontecer na residência um “tribunal do crime”, situação em que o Primeiro Comando da Capital (PCC) julga se um integrante que teve “desvio de conduta” deve morrer ou não. Normalmente, esse “julgamento” é feito na presença de quem está sendo julgado.
Os policiais alegam que, quando chegaram para checar a denúncia, foram recebidos à bala.
“Não sei como explicar o que eu estou sentindo”, disse o auxiliar de serviços gerais João Santos à Rede Lume. Ele é pai de João Victor, 28 anos, um dos mortos. “Se era um tribunal do crime por que a polícia matou todo mundo, inclusive a vítima?”, questiona.
O pai diz que, se havia algo errado sendo feito na casa, a função da polícia era prender os homens e não matá-los. “Mas eles vêm para exterminar mesmo. Não perguntaram nada, não aguardaram. Chegaram e levaram a vida de seis pessoas.”
Santos alega que o filho era trabalhador. João Victor estava empregado havia dez anos na Rede Assaí Atacadista. No dia do velório, os colegas de trabalho foram em peso à capela mortuária consolar os familiares.
Medo
Moradora do Felicidade, Soila do Santos participou do protesto e alega estar muito nervosa desde o ocorrido. “Estou a base de calmantes.” Ela também não acredita na versão da PM. “Como tribunal do crime? Cadê a vítima? A gente quer justiça, a gente quer paz para a nossa comunidade.”
Soila conta que a comunidade tem medo da polícia. “Do jeito que eles fizeram ali, amedrontaram todo mundo: as crianças, os adultos, os jovens, os idosos… A gente não quer viver com medo.”
Outra presente na manifestação foi Renata Oliveira, irmã de Luiz Guilherme de Oliveira, 33 anos, também morto pela PM no dia 7. A reportagem conversou com a auxiliar de serviços gerais no dia do velório. “Meu irmão estava dormindo (quando foi morto). Estava com o pé quebrado.”
Ela afirma que os seis homens foram espancados antes de serem mortos. E que a própria cunhada apanhou dos policiais. “Eles puseram minha cunhada para fora para bater nela, para matar os meninos dentro da casa. E tem até uma criancinha que estava dentro lá da casa de quatro anos. A criancinha fala tudo. Tudo que aconteceu.”
Renata diz que o irmão já teve envolvimento com o crime. “Não vou mentir para você. Meu irmão já teve passagem, sim. Mas nesse momento ele estava dormindo, ele não estava fazendo nada.”
Ela diz que os homens estavam reunidos para combinar o churrasco de aniversário de um deles.
A Rede Lume pediu entrevista para tratar desse assunto com a Polícia Militar, mas até agora não recebeu retorno.
Fonte: Rede Lume de Jornalistas