Mobilização relembra jovens assassinados em 2022
“Sua proteção é o nosso compromisso”, o slogan da Polícia Militar do Paraná (PMPR) não convence as populações periféricas de Londrina, cuja rotina é perder pessoas muito próximas para as mãos da instituição. Há dois anos do assassinato de Willian Jones Faramilio da Silva Júnior (18) e Anderbal Campos Bernardo Júnior (21), mães e familiares protestam às margens da PR-445, durante a manhã desta segunda-feira (6).
“Eles destruíram a minha vida, acabaram com a minha família, acabaram com os sonhos do meu filho, do filho dele, da esposa dele, do William, da mãe, da avó. Foi o presente que a polícia me deu no Dia das Mães. Em cinco minutos eles conseguiram desgraçar uma vida inteira de trabalho, de dificuldade, porque uma mãe que cria um filho, né? O Júnior era meu primogênito, uma mãe que cria um filho, sendo o primeiro filho ainda em especial, é ele que incentiva a vida, é ele que incentiva a luta”, diz Valdirene Inácio da Silva, que há dois dias do Dia das Mães, recebeu a notícia de que seu filho Anderbal estava morto.
O crime ocorreu em 6 de maio de 2022, quando seis policiais militares do batalhão de Choque perseguiram um Chevrolet Cruze prata em Londrina, resultando na morte de Willian e Anderbal. Os relatos apontam que os policiais deram cerca de 50 tiros no veículo, sem dar chance aos ocupantes se identificarem ou explicarem a situação.
“Eles não perguntaram, eles não pediram para parar, eles perseguiram por um tempo, andaram atrás do carro e na oportunidade que tiveram eles deram 50 tiros no carro sem perguntar quem era ou o que deixava de ser. Depois montaram uma cena favorável a eles. 50 tiros numa marginal, aonde o trânsito é lento, a gente já vê que não é coisa de gente normal, né? Não é coisa de uma autoridade. É coisa de gente insana”, relata a mãe.
Ao menos 488 pessoas foram mortas pela polícia no estado do Paraná ao longo do ano de 2022, o levantamento realizado pelo Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), representa mais de 17,3% se comparado com o ano de 2021, quando 416 pessoas foram assassinadas. Em 2023, o Estado registrou 343 mortes.
“Quando eu cheguei no local, na cena do crime, quando me avisaram que meu filho estava morto dentro de um carro, cheguei lá e meu filho estava jogado pro lado de fora do carro, no meio do mato, que nem um animal abatido. Com 22 tiros, vocês acham… 22 tiros em uma pessoa…”, menciona Valdirene.
Em meio ao luto, o coletivo Justiça por Almas organizado por familiares das vítimas, busca chamar atenção para alta letalidade decorrente da ação policial no município. Também procura cobrar investigações mais detalhadas por parte das forças de segurança pública, desconstruindo os discursos corriqueiros disseminados pela polícia militar e veículos de comunicação hegemônicos de que os assassinatos de civis foram por autodefesa, ou seja, decorrentes de “confrontos” e de que “bandido bom é bandido morto”.
“O que restou para nós foi a amargura, o desgosto e Deus para consolar, confortar e botar no coração da gente essa luta. O Justiça por Almas, nasceu no coração de Deus para a gente estar orientando, buscando e ajudando. Que a gente, tentando incomodar um pouco, esses homens sejam devidamente punidos, que venham ter consciência do que fizeram. Nós não incentivamos ninguém a lutar contra a polícia, nós queremos que eles se comportem como tal, porque eles estão recebendo para manter a ordem e a decência”, conclui a mãe de Anderbal.
Serviço
Ato por Justiça e em memória a Willian Junior e Aderbal Junior
Data: 06/05/24
Horário: 9h
Local: Marginal da PR 445, em frente ao campo de futebol da Universidade Estadual de Londrina.
Matéria da estagiária Joyce Keli dos Santos sob supervisão