Caso de Marcelo Arruda, guarda petista assassinado em Foz de Iguaçu, ligou o sinal de alerta para agentes progressistas
O assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda, no último sábado (9), ainda repercute em todo o país – e dentro das corporações de segurança, também. Policiais progressistas estão preocupados com a escalada de violência contra vozes divergentes ao bolsonarismo dentro das polícias e relatam ataques.
“O clima é de falta de diálogo. Temos relatos de companheiros que estão no dia a dia da corporação de que policiais de esquerda são tratados como leprosos, são deixados de lado e são isolados, não há interação com eles”, conta o sargento Amauri Soares, policial militar aposentado e pré-candidato a deputado estadual em Santa Catarina pelo PSOL.
Também aposentado da Policial Militar e ex-presidente da Associação de Praças do Estado de Santa Catarina (Aprasc), Edson Fortuna lembra que, em 2018, durante o período eleitoral, houve perseguição aos policiais de esquerda nos batalhões.
“Com o passar do tempo, a animosidade foi total. Hoje, eu praticamente não participo dos grupos (em aplicativos de conversa). Aqui, permanece a animosidade e a possibilidade real contra aquele que publicamente divulgar que é de esquerda. Policial de esquerda sofre com isso, aconteceu comigo e com vários policiais de Santa Catarina”, explica Fortuna, que crê no aumento da violência.
“Eu não duvido de nada dessa turma [bolsonaristas]. Há, sim, uma vontade enorme de que Bolsonaro continue no poder. Há, sim, uma deturpação do que é o direito do policial para agir e alguns estão se aproveitando dessa salvaguarda do governo federal, para cometer violência contra pessoas contrárias ao Bolsonaro. Não há o confronto direto ainda, porque estamos no período de pré-campanha, mas durante a eleição, eu não tenho dúvida de que haverá mais casos.”
As armas do Estado
Delegado da Polícia Civil e co-fundador do grupo Policiais Antifascistas, Orlando Zaccone concorda que a perseguição contra policiais de esquerda é uma realidade dentro das corporações no país.
“O que nos diferencia é que nós somos considerados traidores, porque sendo nós, policiais que operam dentro das forças de repressão do Estado, quando nos colocamos no campo da esquerda, somos vistos como traidores”, conta o delegado.
A BBC revelou, nesta terça-feira (12), que dois meses antes de ser assassinado, Marcelo Arruda alertava que policiais de esquerda seriam as “primeiras vítimas” do aumento da violência no país.
“Tem um detalhe que faz com que esse enfrentamento resulte em violência, como essa de Foz do Iguaçu. É que tá todo mundo armado e armado com armas do Estado. Isso é muito grave. No homicídio de Foz do Iguaçu, o autor estava portando uma arma do Estado e a vítima se defendeu com uma arma do Estado. Não estou equiparando a violência, um lado só se defendeu ali. O Marcelo Arruda só resistiu a uma violência”, finaliza Zaccone.
Fonte: Brasil de Fato