A prática de publicar vagas inexistentes está crescendo. Uma pesquisa do Resume Builder (aplicativo internacional de confecção de currículos) mostra que 40% das empresas publicaram vagas falsas no último ano, e três a cada 10 empresas ainda as divulgam. Para candidatos, essa prática soa desonesta, mas 70% dos gerentes de contratação acreditam que postar vagas falsas é “moralmente aceitável”, segundo o estudo.
São várias as razões pelas quais os gerentes de contratação fazem isso — mesmo que possa não fazer sentido para os candidatos. Alguns usam como uma sinalização para funcionários sobrecarregados de que uma ajuda pode estar a caminho, enquanto outros fazem para testar o mercado, comparar salários e benefícios entre concorrentes e fazer parecer que estão se mantendo atualizados.
Outros fazem para construir um banco de possíveis candidatos que podem ser contatados quando uma vaga real surgir, explica Lauren Winans, CEO e consultora de RH para a consultoria de recursos humanos Next Level Benefits.
Mas o mais alarmante é que alguns empregadores usam isso como uma tática para intimidar os funcionários, mostrando que eles podem ser substituídos a qualquer momento.
“Uma parte da prática empresarial sempre se baseou em desinformações para tentar manter os funcionários com medo e inseguros”, afirma Daniel Boscaljon, coach executivo e cofundador da consultoria empresarial Healthy Relationship Academy.
“Muitos motivos equivocados podem inspirar essa atitude. Pode ser o desejo de fazer os funcionários acreditarem que não ficarão sobrecarregados, provocar insegurança neles ou passar uma mensagem para empresas rivais.”
Desperdício de tempo e recursos
Não apenas a publicação de vagas falsas dá aos candidatos e aos funcionários uma falsa esperança, como também é um desperdício de tempo e recursos.
Leva tempo para desenvolver uma publicação de vaga — seja real ou falsa — e os candidatos gastam tempo e esforço no processo de uma candidatura.
Publicar uma vaga falsa é “antiético devido à quantidade de tempo, esforço e emoção que bons candidatos investem nas candidaturas”, afirma Euan Cameron, fundador e CEO da plataforma de entrevistas por vídeo Willo.
O que é ainda mais preocupante para Cameron é a estatística da pesquisa da Resume Builder, mostrando que 85% das empresas envolvidas nessa prática foram tão longe a ponto de entrevistar candidatos para as vagas falsas.
“Isso realmente me choca”, destaca Cameron, acrescentando que pode resultar em “perder mais tempo, submeter candidatos a um processo estressante desnecessariamente e possivelmente impactar o bem-estar deles.”
Publicar vagas falsas pode causar ‘danos irreparáveis’
Não são apenas os candidatos que têm que lidar com as consequências de responder a publicações falsas. As empresas que se envolvem nessa prática podem ser punidas.
Publicar vagas falsas pode “degradar seriamente a opinião dos funcionários sobre seu empregador e causar danos irreparáveis à marca do empregador para candidatos em potencial”, afirma Cameron.
“As ações de uma empresa em sua primeira interação com um candidato revelam muito sobre como essa organização opera. Em um mundo onde as empresas lutam pela produtividade, essa prática escancara má-fé, irresponsabilidade e desperdício.”
E em um mundo digital, onde as informações estão ao nosso alcance, as empresas também devem estar preocupadas com a realidade de suas práticas de contratação se espalhando pelas mídias sociais.
Isso pode prejudicar a reputação de uma empresa em sites como Glassdoor e LinkedIn e pode dificultar a contratação de talentos qualificados no futuro, por receio dos potenciais candidatos de que a vaga não seja real, explica Cameron.
Além disso, anúncios enganosos têm consequências legais, adverte Winans. Mas, outros especialistas dizem que existem algumas brechas que as empresas usam para evitar serem punidas pela prática.
“Uma empresa pode dizer que o emprego foi anunciado por engano ou que a empresa decidiu seguir outro caminho”, afirma Boscaljon. “Isso dificulta chamar de ilegal o anúncio com vagas falsas. Certamente reflete uma cultura corporativa falida e provavelmente é um sinal de que outras atividades antiéticas são aceitas pela liderança.”
Como identificar uma vaga falsa
Assim como a maioria das informações na internet, é importante verificar o que você está vendo. Especialistas apontam algumas maneiras para identificar se uma vaga é real ou não. Se você encontrar a postagem em um portal de vagas, é aconselhável verificar se existe mesmo no site oficial da empresa.
“Se não estiver listada lá, pode ser falsa”, alerta Winans. “Descrições de vagas pouco detalhadas, salários excepcionalmente altos e ausência de informações de contato podem ser sinais de alerta.”
Cameron também recomenda entrar em contato diretamente com o empregador que postou a vaga e pedir mais informações, incluindo perguntas sobre a empresa e responsabilidades esperadas.
Geralmente, anúncios de emprego genuínos serão recebidos com uma resposta genuína, além de que “também é uma boa prática demonstrar seu interesse na posição.”
E, em geral, sempre é uma boa ideia fazer pesquisa sobre a cultura da empresa antes de se candidatar a um emprego, indica Boscaljon.
“Se a empresa tem muita rotatividade, se os funcionários estão infelizes, se a gestão ou líderes têm uma má reputação, esses são sinais de que há muitas razões para não se candidatar à vaga, mesmo que seja verdadeira”, afirma Boscaljon.
Fonte: Estadão