O título é por demais pretensioso, mas dê uma olhada no que segue e tire suas conclusões:
Ano passado, Sthefane Felipe Verteiro, 23 anos, bateu de moto em uma colheitadeira que cruzava a rodovia entre Bela Vista do Paraíso e Sertanópolis, nas imediações de Londrina. O acidente danificou seu olho esquerdo, praticamente destruindo a órbita, as camadas de gordura e músculos que lhe davam os precisos movimentos. A jovem, de casamento marcado, passou a enxergar, ao mesmo tempo, duas imagens de um mesmo objeto, fenômeno chamado diplopia.
Drama instalado, casamento desmarcado, olho praticamente perdido…
O cirurgião buco-maxilo facial, Dr. Daniel Gaziri, do Hospital Evangélico, apiedando-se da jovem, reuniu um grupo de médicos de Londrina, do Hospital Sirio-Libanes de São Paulo, e da Alemanha e puseram-se a estudar uma solução.
Que veio a galope:
Após dimensionarem o estrago, através de ressonâncias e tomografias, projetaram uma prótese 3D em titânio, altamente precisa. Ato contínuo, a prótese tipo puzzle (quebra-cabeças) foi impressa na Alemanha, por cirurgiões, engenheiros e profissionais de tecnologia da informação. E, veio desmontada para esta capital mundial do café. Aqui, foi montada dentro do globo ocular danificado da noiva e alinhada ao seu olho bom, numa técnica chamada espelhamento.
A jovem, agora de casamento remarcado, aguarda 30 dias para o rosto desinchar e mais 3 meses para retornar à vida normal… e casar-se.
Penso: quanto são os milhares, escondidos, caolhos ou portadores de defeitos os mais variados, que agora podem ter um lampejo de esperança de um dia saírem de casa, mostrando seu corpo sem defeitos?
Mais que isso: a tecnologia, que não para de avançar, mancomunada com a Inteligência Artificial, possibilita que a impressora 3D (que já constrói casas segundo notícias também recentes na Universidade Estadual de Londrina) passe a construir órgãos humanos e de outros animais.
Onde isso vai parar, eu não sei mas, parece que até ouço Manezinho Beiço-Torto, meu compadre de estimação, passando na frente do Viscardi e gritando lá pra dentro:
– Ei, me vê um beiço mais charmoso? Só a parte de baixo!
Ou, no futuramente:
– Moço, quero levar aquele coração ali. O da esquerda.
Não acho que seja uma visão pretensiosa demais para o futuro, afinal, não somos mais nós quem fazemos as máquinas… Agora e daqui pra frente, é máquina fazendo máquina.
Endireitar o olho da noiva Sthefane foi só o começo.
Volto a vaticinar: quem não morrer em 20 anos, não morre mais!
Texto: Luiz Eduardo Cheida, gastroenterologista e hepatologista em Londrina