É importante lembrar quais as razões que levaram a Rússia a invadir a Ucrânia, na chamada Operação Militar Especial, que deu origem à guerra em fevereiro de 2022:
- A possibilidade de adesão da Ucrânia à Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN;
- O não cumprimento do acordo Minsk 2, que colocaria fim à guerra civil que ocorria no Dombass, região leste da Ucrânia, desde 2014, com mais de 14 mil mortes, em sua maioria civis de origem russa. Pelo acordo Minsk 2, essa população teria autonomia para decidir seu futuro, mas o acordo foi ignorado pelo ocidente e a ONU pouco se mobilizou sobre isso. Naquele mesmo ano, um golpe de estado, liderado pelos EUA retirou o presidente eleito democraticamente e colocou um político aliado;
- A desnazificação do exército ucraniano. Com a chegada de Volodymyr Zelensky ao poder na Ucrânia, a ala neonazista do país passou a fazer parte não só do seu governo, mas também do exército ucraniano.
Putin deixou claro que a entrada da Ucrânia na OTAN seria inadmissível, pois colocaria em risco toda a segurança da Rússia. O presidente russo chamou várias lideranças políticas da Europa e do mundo para esclarecer esses riscos e a necessidade de se ter uma segurança compartilhada com todos os países da Europa, incluindo a Rússia. Uma carta foi enviada para o presidente dos EUA esclarecendo os riscos da adesão da Ucrânia à OTAN, mas tal carta foi ignorada. Depois ficou mais claro que o que o Ocidente queria mesmo era o conflito.
Entre as razões dos EUA para apostar no conflito da Ucrânia com a Rússia podem ser citados:
- Enfraquecer a Rússia, aliada da China, as duas nações que ameaçam a hegemonia estadunidense;
- Inviabilizar as relações da Rússia com a Alemanha. A Rússia estava fornecendo gás barato não só para a Alemanha, mas para toda a Europa. O duto de gás submarino Nord Stream 2 aumentaria ainda mais essas relações, mas foi destruído pelos EUA em setembro de 2023.
- Uma nova guerra sempre é uma fonte de investimento para a indústria bélica americana, que vive desses conflitos. O exército ucraniano já estava sendo preparado desde 2016 para o conflito. O ocidente calculava que este fator, juntamente com as sanções impostas à Rússia, a colocaria de joelhos, mas não foi o que aconteceu.
As sanções impostas à Rússia fizeram com que o país passasse a desenvolver ainda mais seu potencial industrial. Além disso, desviou suas ofertas para o mercado chinês e indiano; a Rússia, mesmo em guerra, é o país que mais cresce na Europa.
O ataque terrorista industrial ao Nord Stream 2, praticado pelos EUA, conseguiu inviabilizar as relações Rússia x Alemanha, mas com um custo muito alto para toda a Europa. Hoje a Europa importa o gás americano e norueguês quatro vezes mais caro. Essa inflação energética está gerando uma crise sem precedentes para a economia europeia: indústrias estão sendo inviabilizadas e muitas já procuram outros países com melhores ofertas de energia. O aumento do desemprego é uma realidade.
O gasto do ocidente com essa guerra, mesmo sendo um grande negócio para a indústria bélica estadunidense, está impactando suas economias e esvaziando o estoque de armas da própria OTAN, sem falar nos militares instrutores e nos mercenários, que também estão sendo dizimados com os ataques russos, fato pouquíssimo noticiado pela imprensa ocidental.
A vitória de Trump alterou todos os planos do ocidente traçados pelo governo anterior. Trump, ainda em campanha, prometeu colocar fim à guerra, que consome muitos recursos da economia estadunidense e, nesta última semana, apresentou seu plano de paz. Mais do que isso, conversou durante uma hora e meia com o presidente russo, numa conversa de tom agradável expresso por ambas as partes. Faz parte do plano:
- Colocar fim ao conflito, deixando muito claro que a Ucrânia não fará parte da OTAN.
- A Ucrânia deve aceitar que a Criméia, ocupada em 2014, assim como todos os territórios conquistados pela Rússia na guerra, não pertencerão mais à Ucrânia.
- Zelensky, a marionete, deve ficar distante das negociações.
Este terceiro ponto é uma exigência da Rússia, que não fechará qualquer acordo com um governante não legítimo. Zelensky adiou as eleições e governa sem legitimidade. A Rússia exige novas eleições para que os acordos firmados sejam validados por autoridades democraticamente eleitas.
Esse plano deixou atônitos os líderes europeus, que não sabem o que fazer. Mais que isso, Trump disse que os países europeus devem assumir a segurança europeia e diminuir sua dependência dos EUA, que têm agora outras pretensões focadas na China. Os países europeus também devem aumentar seus gastos com a OTAN de 2% para 5% do PIB, algo que deve agravar ainda mais a crise econômica do continente.
Trump também expressou, em entrevista recente, que vai exigir US$ 500 bilhões de dólares da Ucrânia em terras raras, minérios valorizados como o titânio e o lítio, muito utilizados nas indústrias de alta tecnologia, mas é bom deixar claro que considerada parte dessas jazidas se localizam em territórios já conquistados pela Rússia ou já foram privatizados e estão nas mãos de oligarcas ucranianos e estrangeiros. Trump vai tirar essa riqueza dos oligarcas? Essa cobrança deixa claro que os objetivos dos EUA não eram proteger a democracia ucraniana, como foi propagado no início do conflito pela mídia coorporativa – o golpe contra um político eleito democraticamente em 2014 foi orquestrado pelos EUA – mas fazer dessa guerra um grande negócio para a nação estadunidense.
O plano de Trump para colocar fim à guerra deixa claro não só a vitória da Rússia no conflito, mas uma avassaladora derrota para o EUA, para Europa e para a OTAN. Assim, todos os objetivos da Rússia para com a chamada Operação Militar Especial foram alcançados, inclusive a desnazificação da Ucrânia. Mais de um milhão de soldados ucranianos morreram no conflito e grande parte neonazista do exército ucraniano também foi eliminada. Zelensky, a marionete, foi usado e agora se vê com uma carga de crimes de guerra em suas costas, uma guerra que poderia ter sido evitada. Ele conseguiu destruir seu país, levou mais de um milhão de soltados para morte; atualmente jovens de 18 anos estão sendo levados para o mesmo destino. Em breve será preso e julgado. Deve tentar fugir para algum país ocidental.
A Europa é a outra parte que saiu muito mal nesse conflito. Como um poodle ensinado, trocou sua fonte de energia barata da Rússia para satisfazer as vontades de seu tutor e se vê agora sozinha, sem condições de arcar com qualquer possibilidade de manter o conflito, e com uma crise econômica que desgasta suas lideranças diariamente. Cogita-se um exército europeu, o que demandará muito investimento e tempo. Se, com a ajuda dos EUA, o exército ucraniano está sendo derrotado, imagine sem eles.
Já dissemos aqui que nunca houve tantos políticos europeus vassalos como tivemos nos últimos 10 anos e o resultado é esse: uma Europa atônita, afundada em crise, sem saber o que fazer com relação aos planos do novo presidente dos EUA. O poodle foi deixado à sua própria sorte.

Fábio da Cunha
Professor Dr. Fábio César Alves da Cunha é geógrafo e docente associado do Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Londrina UEL. Possui mestrado em Planejamento Ambiental (UNESP), Doutorado em Desenvolvimento Regional (UNESP) e Pós-Doutorado em Metropolização pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Trabalha com geografia urbana e regional, planejamento urbano e ambiental, geopolítica e metropolização.