Trabalhadores negros e amarelos estão mais expostos a acidentes graves com risco de morte relacionados ao calor
2024 foi o ano mais quente da história, segundo levantamento da ONU (Organização das Nações Unidas). E 2025 pode quebrar esse recorde, já que as altas temperaturas não tem dado trégua.
No Brasil, de Norte a Sul, o calor excessivo tem alterado a rotina da população e acendido o alerta para a necessidade de garantir condições de trabalho adequadas.
Levantamento do MPT (Ministério Público do Trabalho) identificou que, entre 2022 e 2024, as denúncias que fazem referência a “calor” recebidas pelo órgão quase quintuplicaram. Em 2022, foram 154 ocorrências. Já em 2024, o contingente saltou para 741 registros.
Os estados que lideram as ocorrências são Rio Grande do Sul, seguido por São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro.
As principais queixas dos trabalhadores são falta de ventilação e água fresca nos ambientes de trabalho.
Entre os setores com denúncias mais frequentes sobre calor excessivo junto ao MPT estão aqueles que envolvem trabalhos a céu aberto, como agricultura, construção civil, correios, telecomunicações e vigilância.
Trabalhadores negros e amarelos mais expostos
Pesquisadores da UEM (Universidade Estadual de Maringá) analisaram a incidência de acidentes de trabalho ligados ao calor extremo ocorridos no Brasil entre 2006 e 2019.
O estudo mostrou que trabalhadores da região Centro-Oeste, negros e amarelos, entre 41 e 60 anos, estão mais expostos a acidentes graves com risco de morte relacionados ao calor.
“O resultado revela como pessoas de diferentes raças estão sofrendo as consequências das mudanças climáticas no país, onde pessoas negras e de outras minorias são mais vulneráveis ao estresse térmico do que pessoas brancas”, escrevem os pesquisadores.
Segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho), 2,41 bilhões de trabalhadores (ou 71% da força de trabalho global) estão expostos aos riscos do calor excessivo, problema que resulta em 22,9 milhões de lesões e 18.970 mortes por ano em todo o mundo.
Os problemas de saúde ligados ao estresse térmico vão desde os mais leves, como exaustão, tontura, perda de concentração e desmaios, até os mais sérios, como ataque cardíaco, transtornos renais e problemas cardiovasculares e respiratórios, podendo levar à morte.
Para fazer frente a esse quadro, o MPT criou no ano passado o Grupo de Estudos sobre Mudanças Climáticas e Impactos no Meio Ambiente do Trabalho. O grupo lançou diretrizes que os empregadores devem seguir a fim de protegerem seus trabalhadores do calor excessivo, são elas:
- Adaptar os horários de trabalho, priorizando a realização de atividades ao ar livre em períodos de menor sol, como no início da manhã ou final da tarde;
- Promover pausas para descanso em locais com conforto térmico;
- Garantir a ventilação e a climatização dos ambientes de trabalho;
- Suspender temporariamente as atividades de todos os trabalhadores quando as condições climáticas extremas representarem risco à saúde ou à vida;
- Viabilizar o trabalho remoto, sempre que possível e, preferentemente, para pessoas com comorbidades, gestantes e idosos;
- Disponibilizar vestimenta adequada à natureza da atividade e do ambiente, inclusive em tecido mais leve e em cor que absorva menos calor;
- Fornecer água fresca potável e incentivar o consumo;
- Orientar sobre sinais e sintomas de saúde que devem ser reportados para suspensão da atividade do trabalhador até que ele se recupere.

Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.