Reportagem teve acesso a mensagens de estudantes e relato de agressão a jornalista
Após as eleições, muitos apoiadores de Jair Bolsonaro resolveram pedir golpe militar com intervenção das Forças Armadas. Rodovias foram fechadas e, em frente a quartéis, houve pedidos de intervenção do Exército. Mas a intolerância chegou também a escolas. Positivo e Rede Marista, entre outras escolas da elite econômica, tiveram gritos contra Lula e ameaças a colegas “petistas”.
Nota do Sindicato dos Professores do Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana (Sinpes), que acompanha instituições de ensino privadas, no Colégio Santa Santa Maria informa: “integrantes da rede Marista de Colégios, reunidos no pátio da instituição no último dia 31/11. Vestidos nas cores da bandeira nacional, eles cantaram o hino e gritaram palavras de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Ao mesmo tempo, hostilizaram com palavras de baixo calão grupo de alunos que se manifestava a favor do presidente eleito, Lula (PT). Pais revelaram que seus filhos foram agredidos com chutes e cuspes.”
A reportagem do Brasil de Fato Paraná teve acesso também a troca de mensagens num grupo denominando “BOLSONARO POSITIVO AMB”, em que estudantes bolsonaristas da unidade do Positivo Ambiental destilaram ameaças e frases de cunho xenófobo e até ameaças de estupro contra alunas eleitoras do PT.
Em mensagem uma estudante diz: “lógico que os ‘pobretas nordestinos’ iam votar no Lula”. Em outra, dois membros do grupo dizem: “no Sul só tem gente inteligente” e no “Nordeste só gente pobre”. Professores identificados como de esquerda também não foram poupados. Frases como: “Se o Jeff abrir a boca amanhã, eu mato aquele maconheiro ex-presidiário” ou “amanhã vou assim combater professores petistas” numa mensagem com foto de tanques de guerra.
Mensagens de áudio contendo ameaças de cunho sexual contra alunas foram enviados com promessas de conversão ao bolsonarismo. “Até você virar Bolsonaro, sua fdp”. Outras mensagens com cunho neonazista também foram enviadas com figurinhas remetendo ao grupo supremacista Ku Klux Klan e a suásticas.
Casos de violência explodem
Casos de intolerância e violência política por parte de eleitores de Jair Bolsonaro aumentaram muito, sobretudo no Paraná, de acordo com levantamento da ONG Terra de Direitos em parceria com a organização de direitos humanos Justiça Global. Na terça-feira (8), foi publicada a pesquisa “Violência Política e Eleitoral no Brasil”, que analisou casos no segundo turno das eleições.
De acordo com o levantamento, o Paraná foi o estado com maior registro, com 13 notificações no segundo turno. Para Glaucia Marinho, da Justiça Global, o discurso de ódio e a contestação da eficácia do sistema eleitoral brasileiro, por parte do bolsonarismo, incentivou o aumento da violência.
“Apenas após o resultado das eleições, registramos quatro assassinatos. São resultado do discurso de ódio contra a oposição disseminado pelo chefe do poder executivo, bem como a tentativa de desacreditar o processo eleitoral brasileiro”, destacou.
Violência contra jornalista
Outro caso que marcou o final das eleições foi a agressão contra a jornalista Magalea Mazziotti. Na quinta-feira, 27, dias antes do segundo turno, a jornalista saía de um bar no centro de Curitiba e foi agredida.
“Fui atacada, não sei se porque estou com adesivos do Lula. Tive o rosto cortado. Em princípio não levaram nada, e eu acho que foi porque estou com adesivos do Lula, expondo em quem vou votar no domingo”, relatou a jornalista em vídeo divulgado nas redes sociais.
Resposta do Positivo
Procurada pela reportagem, a direção do Positivo enviou uma nota, que reproduzimos na íntegra:
“Reforçamos a indignação e repúdio ao conteúdo violador de direitos humanos imputado a alguns alunos. Tão logo tomamos conhecimento do conteúdo compartilhado por alguns dos nossos alunos, em grupo fechado de rede social, em observância ao devido processo legal e ampla defesa, iniciamos um processo administrativo interno para regular a apuração dos fatos. Acompanhados de seus responsáveis legais, os alunos foram atendidos pela direção do colégio, ocasião em que demonstraram arrependimento e constrangimento pelos seus atos, sendo repreendidos pelos pais e pela instituição.
Em prosseguimento, os alunos serão suspensos, com encaminhamento dos fatos ao Conselho Tutelar para providências legais cabíveis, conforme determina o Regimento Escolar, uma vez que a penalidade de expulsão, como medida educativa, afronta o direito de permanência dos alunos na escola (art.53, inciso I da Lei nº 8.069/90, art.3º, inciso I da Lei nº 9.394/96 e, em especial, do art.206, inciso I da Constituição Federal).
Ressaltamos que não admitimos e repudiamos com veemência quaisquer atos de violência, ameaça à integridade física, assédio, racismo, xenofobia ou discriminação envolvendo docentes, funcionários ou alunos dentro ou fora de nossas instalações.”
Fonte: Brasil de Fato