A APP alerta para o risco futuro de privatização do CEP. O desmonte pode ter como horizonte a inclusão do colégio no rol de escolas entregues à iniciativa privada
“Ontem ninguém dormiu”, assim a professora Sônia Aparecida Casatti descreve o estado de espírito da comunidade escolar do Colégio Estadual do Paraná (CEP). A tradicional instituição – patrimônio histórico do estado – está, de um dia para o outro, na mira do desmonte do governo Ratinho Junior.
Em meio a uma bateria de projetos que incluem, entre outras bombas, a privatização da Copel, o governador enviou ontem à Alep o PL 497, cujo artigo 58 prevê a extinção do regime especial do Colégio. Na prática, a mudança retira recursos e acaba com a autonomia administrativa do CEP, colocando em risco mais de 170 anos de história.
Como é praxe na gestão autoritária de Ratinho Jr, não houve diálogo ou consulta à comunidade e o PL tramita em regime de urgência, podendo ir a plenário ainda nesta terça-feira (22). Dirigentes da APP-Sindicato juntaram-se a professores(as) e estudantes da instituição para pressionar deputados(as) ao longo da manhã. A mobilização para salvar a escola deve continuar à tarde, quando o PL será discutido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Ao lado do deputado Professor Lemos, a comitiva manifestou suas preocupações a parlamentares da base do governo. “Recebemos essa notícia com desespero”, conta Sônia, que leciona química há 26 anos no CEP. “Hoje temos condições de dar o melhor não só por Curitiba, mas a toda a região. Então estamos pedindo para os deputados retirarem o artigo 58 do projeto”, explica.
João Vitor Vakiuti, estudante do 3º ano, teme pelo futuro. “Vão acabar com o colégio. A gente começa a pensar no que podem cortar e percebe que não vai mais ser o CEP que conhecemos. Vai ser outra coisa”, diz. Sua colega, Betina Brum, aponta os projetos que podem ser extintos: “Hoje temos curso de idiomas, dança, pintura, teatro, origami e formação de atletas de nível nacional. Temos aulas de astronomia, um planetário e um observatório. Se o projeto passar, não sabemos o que vai sobrar”, lamenta.
O professor de filosofia Wilson José Vieira também teme a total desestruturação do CEP, que passará a ser administrado diretamente pela Seed. “Ao retirar a característica de órgão especial, você impede que a estrutura do CEP se mantenha. São muitos projetos e coordenações que a Seed pode extinguir para cortar gastos. É um colégio recentemente restaurado, no qual o governo investiu milhões. Por que isso agora?”
A APP-Sindicato alerta para o risco futuro de privatização do CEP. O desmonte pode ter como horizonte a inclusão do colégio no rol de escolas entregues à iniciativa privada, conforme edital piloto já em andamento com 27 escolas. O Sindicato permanece mobilizado ao longo do dia para barrar a destruição do patrimônio do povo do Paraná.
“Pela manhã, conversamos com deputados da base do governo. Alguns se mostraram sensíveis. A intenção é articular uma emenda supressiva para retirar o artigo 58, mas o movimento dos alunos e de toda a categoria é muito importante para salvar o CEP”, avalia Margleyse dos Santos, dirigente estadual da APP-Sindicato.
Fonte: APP-Sindicato