Banco Central anunciou nova alta na Selic – de 11,75% para 12,75% ao ano. É o maior nível desde janeiro de 2017, quando taxa estava em 13%
Mesmo após o Banco Central anunciar nova alta na taxa Selic – que constitui o principal instrumento de política monetária nacional para enfrentar a inflação –, os efeitos da medida não devem ser vistos de forma imediata. Segundo especialistas ouvidos pelo Metrópoles, os resultados dos sucessivos aumentos da taxa básica de juros poderão ser observados na economia brasileira a partir de um período estimado entre seis e nove meses.
Na quarta-feira (4/5), o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic de 11,75% ao ano para 12,75% ao ano – alta de um ponto percentual. É o maior nível desde janeiro de 2017, quando esse índice estava em 13%.
André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), explica que a Selic funciona como um “remédio” para conter a inflação, mas que “há efeitos colaterais”.
“Como todo remédio, a alta da Selic também apresenta efeitos colaterais. Quanto maiores os juros, menos a economia cresce. Então, não há estímulo ao crescimento econômico – que só ocorre quando as famílias voltam a consumir, e as empresas ampliam a atividade produtiva e empregam trabalhadores”, pontua.
“Juros mais altos não estimulam viagens nem a compra de apartamento, carro, bens duráveis e tudo o que necessita de crédito. O crédito fica mais caro com a alta dos juros. E, esfriando a demanda, você tem uma inflação um pouco menor”, acrescentou.
Ao contrário do que parece, a inflação não é de todo mal. Quando controlada, é sinal de que a economia está bem e crescendo da forma esperada. No Brasil, por exemplo, temos uma meta anual de inflação para garantir que os preços fiquem controlados. O que não pode deixar, na verdade, é chegar na hiperinflação – quando o controle de todos os preços é perdido.
Inflação é o termo da economia utilizado para indicar o aumento generalizado ou contínuo dos preços de produtos ou serviços. Com isso, a inflação representa o aumento do custo de vida e a consequente redução no poder de compra da moeda de um país.
Em outras palavras, se há aumento da inflação, o dinheiro passa a valer menos. A principal consequência é a perda do poder de compra ao longo do tempo, com o aumento dos preços das mercadorias e a desvalorização da moeda.
Existem várias formas de medir a inflação, contudo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é o mais comum deles.
No Brasil, quem realiza a previsão da inflação e comunica a situação dela é o Banco Central. No entanto, para garantir a idoneidade das informações, a pesquisa dos preços de produtos, serviços e o cálculo é realizado pelo IBGE, que faz monitoramento nas principais regiões brasileiras.
De uma forma geral, a inflação pode apresentar causas de curto a longo prazo, uma vez que tem variações cíclicas e que também pode ser determinada por consequências externas.
No entanto, o que influencia diretamente a inflação é: o aumento da demanda; aumento ou pressão nos custos de produção (oferta e demanda); inércia inflacionária e expectativas de inflação; e aumento de emissão de moedas.
No bolso do consumidor, a inflação é sentida de formas diferentes, já que ela não costuma agir de maneira uniforme e alguns serviços aumentam bem mais do que outros.
Isso pode ser explicado pela forma de consumo dos brasileiros. Famílias que possuem uma renda menor são afetadas, principalmente, por aumento no preço de transporte e alimento. Por outro lado, alterações nas áreas de educação e vestuário são mais sentidas por famílias mais ricas.
Ao contrário do que parece, a inflação não é de todo mal. Quando controlada, é sinal de que a economia está bem e crescendo da forma esperada. No Brasil, por exemplo, temos uma meta anual de inflação para garantir que os preços fiquem controlados. O que não pode deixar, na verdade, é chegar na hiperinflação – quando o controle de todos os preços é perdido.
Inflação é o termo da economia utilizado para indicar o aumento generalizado ou contínuo dos preços de produtos ou serviços. Com isso, a inflação representa o aumento do custo de vida e a consequente redução no poder de compra da moeda de um país.
Frederico Gomes, professor de economia do Ibmec Brasília, explica por que a inflação brasileira tende a responder à alta da taxa básica de juros de seis a nove meses após o último aumento.
“O Copom aumenta a Selic para reduzir a inflação, e há uma defasagem calculada entre seis e nove meses para que esses efeitos da alta da Selic sobre a atividade econômica sejam sentidos por completo em toda a economia. Então, em alguns casos, a elevação da Selic é sentida de forma direta, por exemplo, no custo do crédito; em outros casos, esse processo ocorre de forma mais lenta, porque há uma defasagem da ação de política monetária, nesse caso, uma alta da Selic”, declarou.
Taxa básica de juros dos EUA também em alta
O Federal Reserve, Banco Central dos Estados Unidos, também decidiu elevar a taxa básica de juros do país. Esse índice subiu 0,5 ponto percentual, no intervalo entre 0,75% e 1% ao ano. O Fed não fazia uma elevação dessa magnitude desde maio de 2000.
Gomes afirma que a alta nos Estados Unidos também influencia a economia brasileira. De acordo com ele, caso o banco norte-americano continue aumentando a taxa básica de juros, o real poderá entrar em um processo de desvalorização frente ao dólar – o que poderia gerar novas altas da inflação.
“Se o Fed subir muito essa taxa, o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos pode diminuir. Haveria uma tendência de mandar dinheiro para fora, em busca de uma rentabilidade maior. Isso provocaria uma pressão de desvalorização do real, o que pode trazer impactos inflacionários”, observou.
“Cenários de incerteza”
André Braz lembra que o Banco Central tende a observar os “cenários de incerteza” que o Brasil enfrenta. Como exemplo, o especialista cita as eleições presidenciais deste ano, o futuro do conflito entre Rússia e Ucrânia e o desfecho da política de “Covid free” imposta na China.
A guerra na Ucrânia, por exemplo, impacta a economia mundial, que tem sofrido com a alta da inflação e do preço nos combustíveis. Na quarta-feira (4/5), o presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou a dizer que teme que o conflito entre os países se prolongue.
“O Banco Central vai ter que olhar como essas ameaças chegam na nossa economia, como isso pode promover algum aumento de preços aqui no Brasil e de que maneira ele [BC] previne para que a inflação desacelere”, pontuou Braz.
Para Frederico Gomes, caso a guerra na Europa continue ou as sanções contra a Rússia aumentem, é possível que haja novos aumentos nos preços dos combustíveis e dos alimentos. “Se a guerra continuar, o Banco Central precisará aumentar os juros para combater essa inflação adicional que pode vir por conta da guerra”, disse.
Segundo Braz, a partir dos próximos resultados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado o indicador oficial de inflação do país, nos próximos meses, “o Banco Central vai definir se há necessidade de subir mais os juros ou não”. O índice acelerou para 1,62% em março, após alta de 1,01% em fevereiro.
“Eu diria que não há necessidade de subir. Acredito que a inflação vai desacelerar e que as taxas de juros que a gente tem nesse momento ainda vão surtir efeito na economia. Nesse caso, a gente vai ter a possibilidade de ver a inflação desacelerando”, concluiu.
Fonte: Mayara Oliveira | Metrópoles