Outros educadores que têm posicionamentos mais progressistas também foram desligados da instituição
Pouco tempo atrás, alunos das unidades do Colégio Positivo, em Curitiba, compartilharam mensagens de cunho nazista e xenofóbico em grupo de WhatsApp, se posicionando a favor do então candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), que foi derrotado. Entre os alvos das ameaças estavam professores. E esses professores foram demitidos na segunda-feira (19).
Além do ativismo antidemocrático on-line, alunos também organizaram manifestações dentro das escolas, inclusive atrapalhando as aulas. Apesar disso, as represálias aos envolvidos foram tímidas.
O professor ameaçado de morte conversou com o Plural por telefone. Antes das mensagens chegarem à imprensa, ele foi alertado por uma estudante. “Eu não me preocupei na hora porque sempre tive um bom relacionamento com os alunos, mas depois que vi a reportagem, houve um alerta”, diz.
O professor, que tem um posicionamento progressista e perfil aberto nas redes sociais, chegou a ser orientado pela escola para fechar a conta, mas se negou. Ele trabalhava há cinco anos no grupo Positivo e, embora a escola tenha dito que ofereceria suporte no momento da ameaça de morte, o educador afirma que não houve qualquer manifestação.
Colégio Positivo
Para justificar a demissão, o Colégio Positivo disse ao professor que ele gastou 15 minutos da aula com conteúdo desconexo do plano de aula. As salas dos colégios Positivo têm gravações de áudio e vídeo e os 15 minutos perdidos eram, segundo o professor, referentes a uma história pessoal que ele conta para motivar os alunos.
Outra professora que também é progressista falou com a reportagem. Ela também foi demitida nesta semana, depois de comprar material escolar e uniforme para as filhas, que tinham bolsa em uma das unidades. A justificativa nesse caso foi uma readequação de quadro, embora o quadro de funcionários geralmente já esteja completo ao fim do ano letivo em escolas particulares.
“Eu nunca fiz muito ativismo nas redes sociais, mas, por exemplo, quando um aluno me dizia: ‘Ah, professora, mas tem coisas boas no nazismo também’, claro que eu jamais ia deixar de explicar que não há nada de bom no nazismo”, lamenta a educadora. A professora também afirma ter sido empurrada por alunos no período pré-eleitoral.
E depois da demissão?
Além dos dois professores ao menos outros três que também são considerados “de esquerda” foram demitidos. Agora eles buscam recolocação no mercado, mas têm medo de represálias.
“Eu fiquei muito surpresa com a demissão. Nem tentei o PSS esse ano porque estava certa de que ia continuar o trabalho. Estamos na última semana de aula”, diz a professora.
Em nota, o Colégio Positivo afirmou que “as mudanças no corpo docente geralmente acontecem em períodos de férias escolares para não atrapalhar o andamento das aulas”. O Plural também questionou as motivações do desligamento. Todavia, a escola não fala sobre motivos de desligamento “a fim de preservar nossos colaboradores e ex-colaboradores”.
Sobre os alunos que ameaçaram os professores – um deles até disse que estupraria uma estudante – a escola informou que: “Os alunos envolvidos demonstraram arrependimento e se comprometeram em não reincidir nos ocorridos”.
Eles foram suspensos, mas continuam estudando no local. “Nosso Regimento previne qualquer expulsão sem que antes adotemos ações educativas consistentes, e sem o devido alinhamento com a família do aluno. Além de suspender, com o conhecimento das famílias, o Colégio também noticiou os fatos às autoridades públicas competentes, para a devida apuração e aplicação das medidas legais cabíveis”, disse, em nota, o colégio Positivo.
Fonte: Redação Plural