APP-Sindicato alerta para os impactos do atraso na escolarização dos estudantes que têm que improvisar os materiais neste início de ano letivo
Uma das principais propagandas de Ratinho Júnior (PSD) neste início de 2025, a entrega de kits escolares para estudantes da rede estadual segue atrasada. Pelo menos 122 mil kits prometidos pelo governador ainda não foram entregues.
A informação foi veiculada pela própria SEED (Secretaria Estadual de Educação), após estudantes, pais, professores reclamarem da demora. Entre aqueles que já receberam os kits, a queixa recorrente é sobre a falta de qualidade dos materiais.
“Infelizmente, o governo utiliza de uma política pública para promoção pessoal. Acho que não tem outra explicação, pois lançou uma grande campanha de divulgação sem ter a estrutura logística de distribuição dos kits”, avalia Vanda Santana, secretária educacional da APP-Sindicato (Sindicato dos Professores e Funcionários de Escola do Paraná).
Embora o conteúdo dos kits varie de acordo com a série de cada estudante, o material contém itens básicos como lápis, borracha, apontador, régua e cadernos.
Segundo a Secretaria de Educação, a distribuição dos kits escolares deve seguir até o fim deste mês. No total, devem ser entregues 922 mil kits em todo estado. O investimento estimado é de R$ 40 milhões.
“Devido a questões logísticas e de transporte, somadas às condições climáticas adversas registradas recentemente, algumas entregas ocorreram em prazos diferenciados. Reforçamos que essas situações não causarão prejuízo ao processo educacional, e os esforços para a regularização das entregas seguem em andamento”, afirma a nota da Secretaria.
Santana reforça que a divulgação apressada da distribuição dos materiais pelo Palácio do Iguaçu, sem as condições logísticas para que os kits chegassem a todos os estudantes antes do início do ano letivo, iniciado em 5 de fevereiro, levou a uma série de transtornos, já que muitos alunos tiveram que improvisar para conseguir acompanhar as aulas.
“Estamos em caravanas pelo estado, visitando as escolas e dialogando com a categoria. Nesta última semana vimos que a entrega dos kits foi intensificada, mas ainda não temos o levantamento final. De qualquer forma, a divulgação precipitada causou muitos transtornos, pois as famílias não compraram os materiais e muitos estudantes e escolas estão tendo que improvisar nestes primeiros dias de aula”, assinala.
Famílias comprometem renda para compra de material escolar
Levantamento do Instituto Locomotiva, divulgado em janeiro deste ano, demonstrou que a compra do material escolar impacta o orçamento de 85% das famílias brasileiras, principalmente, as de camadas mais vulneráveis.
Para a liderança, a disponibilização dos materiais escolares é das formas de reduzir as desigualdades socioeducacionais que, além de dificultar o acesso, também cerceia as possibilidades de permanência nos bancos escolares.
“Tanto o material escolar quanto o transporte, a merenda e o uniforme devem ser fornecidos aos estudantes, pois somente assim o estado pode compensar a desigualdade social ao condições para que os filhos e filhas da classe trabalhadora tenham acesso, permanência e conclusão da sua escolaridade. Assim, de fato, a educação pública se consolida e transforma a nossa realidade, promovendo o desenvolvimento”, adverte Santana.
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Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.