Não sou químico (ainda que faça uma tantada de merda). A propósito, fui aluno secundarista bem meia boca na matéria elementar. Ainda assim e do quanto recordo, Lítio é o nome de um elemento químico de base alcalina que contém, estruturalmente, três prótons e três elétrons. Além disso, é inflamável e reativo.
Sei, de sabença aguçada pela alta concentração do minério em solo latino (especialmente em Bolívia, onde repousam milhões de toneladas), que o lítio permite diversas aplicações industriais e, com a elevação da demanda por carros elétricos, o lítio lembrou aos estadunidenses que a Bolívia está no mapa, naquilo que o elemento químico dos sul-americanos é essencial na fabricação de baterias de alto rendimento.
Assim e por isso tio san entrou no game, maquinando e encetando esforços ofensivos a soberania boliviana, naquilo que não detém qualquer controle sobre o solo e as riquezas dos americanos do sul.
Na medida em que a régua geopolítica dos pilgrins é mais baixa que cravo de chuteira, os do norte já manobram (politicamente, ardilosamente, criminosamente) para controlar a produção de lítio em Bolívia, em ordem a evitar a concorrência de China e Rússia na região.
Para aqueles que acreditam que nós outros exageramos no ponto, recomendo o conhecimento de uma conferência da Câmara dos Representantes dos EUA em março de 2023, onde a chefe do Comando Sul (Laura Richardson) disse que o triângulo do lítio é tratado como uma questão de ‘segurança nacional sobre o nosso quintal dos fundos’.
A expressão ‘quintal dos fundos’ diz mais de tio san do que de nós mesmos aqui do Sul, naquilo que não somos quintal de ninguém – lembro aos desavisados que a Bolívia tem rica história contada e vivida pelos povos originários, que ainda hoje dão as cartas por lá, contrário senso do originário do norte, que os pilgrins roubaram, mataram e mais que domesticar, descaracterizaram.
Noves fora, levanto o assunto para atrelar o interesse estadunidense no lítio boliviano à tentativa de golpe de estado que o comandante em chefe do exército boliviano (general juan josé zúñiga) levou à cabo na tarde de quarta-feira (26), quando tropas golpistas chegaram a mobilizar tanques de guerra pelas ruas de La Paz, sendo contidas pela população e por parte significativa do próprio exército. O general golpista está preso desde então.
Importante lembrar que esta foi a segunda tentativa de golpe de estado nos cinco últimos anos, revelando um evidente caráter revanchista em relação a opção soberana dos bolivianos na estatização da extração e exploração do lítio, em desalinho ao interesse estadunidense, naquilo que os do norte acreditam ser o ‘alecrim dourado’ do planeta.
Por aqui Lula, mais que depressa, condenou a tentativa golpista e hipotecou solidariedade ao governo boliviano do Presidente legitimamente eleito (Luiz Arce).
Ainda por aqui, sou obrigado a considerar a postagem em rede mundial do deputado ricardo salles, elogiosa e incentivadora da tentativa de golpe de estado em solo boliviano.
Não que eu pretenda comparar Lula a ricardo salles (sou Locco, não burro), mas as atitudes diametralmente opostas ilustram quem tem compromisso com a democracia e quem tem afinidade apenas com o interesse do grande capital.
O deputado de extrema direito, não esqueço, em reunião de cúpula do (des)governo anterior, lançou mão de uma expressão popular (que acredito ter origem no cordel) que alude a boiada passando enquanto um só boi é sacrificado às piranhas, para aperfeiçoar o desmatamento criminoso da Amazônia legal.
Não gosto de salles. Dele penso apenas e tão somente coisas ruis. Bem por isso vou atender a minha santa Mãe e calar sobre a pessoa dele, naquilo que dona Wônia me ensinou, desde muito pequeno, a calar quando não tivesse nada de bom para dizer dos outros.
Me calo sobre ele, mas não me contenho um ceitil que seja sobre o malefício de seu comentário, em tudo e no todo indigno de ser pronunciado por um parlamentar comprometido, minimamente, com o ideário do parlamento e as mazelas da democracia.
Com sua fala distópica salles fere mortalmente o decoro parlamentar, ao tempo em que elogia o general golpista boliviano, traçando um paralelo com nossos generais que não abraçaram a insanidade de 08 de janeiro por aqui.
Já vi muito sujeito covarde, não com tal intensidade.
Lacaio do interesse econômico estadunidense, salles se alinha ao pensamento da extrema direita mundial, que desconhece valor e não reverencia a vontade popular, preferindo espalhar mentiras que desacreditem a segurança de nossas urnas eletrônicas a reconhecer a vitória política de um modelo de governo social e de resgate civilizatório.
Ao lamber a bota do general golpista boliviano, salles deu um perdido na soberania e na vontade daquele povo nosso irmão e o fez sem qualquer apego histórico, sem qualquer conotação humanística, sem qualquer vislumbre de grandeza. Lambeu a bota porque se acostumou a lamber bota estadunidense – neste ato calçada por um general golpista.
Sua atitude menor (lamber botas é a coisa mais baixa que posso imaginar de um parlamentar) não feriu apenas o povo boliviano por sua soberania. Ao enaltecer o golpismo ele aplaudiu o general de lá e criticou os de cá que não aderiram ao oito de janeiro, criando uma distopia onde ele, salles, estabelece parâmetros falsos para incitar a desestabilização democrática de nossos dias.
Evidente que, para salles, o general boliviano seria o boi de piranha enquanto a boiada é o interesse de seu lado político (o grande capital). Dias ruins, todavia, não são senão o reflexo de gente ruim ocupando lugar de relevo público. No ponto em destaque, salles potencializa a estupidez dos ridículos tiranos (obrigado Caetano) para catapultar seu projeto imbecilizante de pensamento único, que é a mãe da cadela fascista.
Não seria o fato da cadela fascista estar sempre no cio que legitimaria a desconsideração das minorias. No ponto, o que pega é a mentira contada na rede em polo de convívio com o interesse político de salles.
O cio dos fascistas é o poder que buscam pela intimidação, naquilo que o fascismo jamais buscou nosso respeito e sim nosso medo.
Mentiroso contumaz, salles merece ter cassado o seu mandato, naquilo que faltou com o decoro – para dizer o mínimo. Eu já assinei uma petição online hoje nesse sentido (https://forasalles.com.br).
Tristes trópicos, onde não basta enfrentar fascistas; é preciso derrotá-los.
Saudade Pai!
João dos Santos Gomes Filho para o Canto do Locco
João Locco
João dos Santos Gomes Filho, mais conhecido pelo apelido João Locco. Advogado, corintiano, com interesse extraordinário em conhecer mais a alma e menos a calma.