Para se compreender a crise que eclodiu nas últimas semanas em Israel, se faz necessário entendermos alguns pontos:
- Após a Segunda Guerra Mundial, foi recomendada, pela Organização das Nações Unidas – ONU, a criação do estado de Israel em territórios palestinos, em decorrência do próprio genocídio sofrido pelo povo judeu no holocausto daquela guerra. A criação desse estado se mostra um erro histórico que gera conflitos até os dias de hoje.
- De lá pra cá, a apropriação do território palestino por Israel tem sido uma constante, gerando revoltas por parte dos palestinos, que são reprimidos por uma violência brutal permanente.
- A ajuda econômica dos EUA e do povo judeu, espalhado pelo mundo, a Israel faz deste estado uma força econômica e militar, que consegue facilmente impor sua dominação aos povos árabes vizinhos.
- Na última década, a violência aos palestinos da Cisjordânia e, principalmente, de Gaza, é permanente: bloqueios econômicos, proibição de se comunicarem, de se deslocarem e ataques fatais vêm despertando, cada vez mais, o ódio por parte da mão armada terrorista em grupos como o Hamas em Gaza e o Hezbollah no Líbano, entre outros.
- No dia 7 de outubro, o grupo armado Hamas, considerado terrorista pelo ocidente, atacou Israel, provocou a morte de mais de 1500 civis e sequestrou pelo menos 200 pessoas.
- A reação de Israel foi imediata e, de lá pra cá, bombardeios diários, incluindo escolas, mesquitas, hospitais e residências, já mataram mais de 8.500 palestinos; estima-se que, desses, pelo menos 3.500 crianças. Médicos e agentes da própria ONU também foram mortos.
- O veto dos EUA a uma resolução brasileira no conselho de segurança da ONU expôs o apoio incondicional do EUA frente à ação genocida, o que os tornam cúmplices da atrocidade que ficará na história.
- O impedimento da entrada de combustível vem causando o colapso dos poucos hospitais que ainda restam. Os massacres são diários. A comunidade internacional protesta contra esses massacres, mas muitos estão sendo reprimidos tanto nos EUA como em alguns países da Europa e em Israel.
- EUA e seus países vassalos, como Reino Unido, França e Alemanha, querem construir uma narrativa de que Israel deve se proteger dos ataques sofridos, mas nenhuma palavra é dada quanto ao extermínio diário de civis, sobretudo, crianças.
Documentos informam que, nos últimos anos, Israel, com seus governos de extrema-direita, forneceu ajuda aos grupos considerados terroristas, como o Hamas, que teria recebido 41 milhões de dólares apenas de uma empresa israelense.
Algumas questões pairam no ar: como um dos exércitos mais sofisticados do mundo permitiu e não previu os ataques do Hamas do dia 7 de outubro? Como conseguiram entrar por uma fronteira na qual até os gatos são monitorados? Foi preciso a inteligência do Egito afirmar que um ataque estava sendo planejado! Especialistas indicam que, dentro de uma teoria conspiracionista, esses ataques já eram esperados por Israel para poder iniciar o genocídio e varrer os palestinos de Gaza.
Mas existe um outro ponto que a mídia corporativa ocidental faz questão de não mencionar: em 2000, extensas reservas de gás natural foram descobertas pela empresa “A British Gas” na costa de Gaza. Do ponto de vista jurídico, essas reservas deveriam pertencer à Palestina. De lá pra cá, os abutres do mercado financeiro de Israel agiram, apoiaram o Hamas, expulsaram a autoridade palestina para a Cisjordânia e passaram a controlar as bilionárias reservas de gás da Palestina. Esse processo teve início na invasão de Gaza em 2008-2009 sob a “Operação Chumbo Fundido”.
É sabido que Israel continuava enviando ajuda financeira para o Hamas. Tudo indica uma possível orquestração de um grande pretexto, para invadir e fazer a ocupação militar total de Gaza e expulsar o povo palestino, provavelmente para o Sinai, região egípcia, em campos de refugiados, ou campos de concentração! E com isso, continuar a pilhagem das multibilionárias reservas de gás de Gaza.
O governo Biden sai extremamente desmoralizado e passa a ser, juntamente com Israel, acusado do genocídio à céu aberto que ocorre, diariamente, com os palestinos. A desumanidade choca o mundo. A ONU expõe sua incapacidade de resolver atrocidades dessa natureza e se mostra, mais uma vez, uma instituição ineficaz, que deve ser reformulada.
Os Estados Unidos passam a culpar o Irã e desloca dois porta aviões para a região. A China desloca sua marinha também. A Rússia diz estar vigiando o mediterrâneo e que tem armas, como os mísseis supersônicos, que o ocidente nem sonha.
O conflito Israel-Palestina é mais uma faceta do fim da hegemonia americana. O fim da hegemonia britânica no fim do século XIX criou as bases para duas grandes guerras mundiais. Parece que estamos trilhando os mesmos passos. O genocídio do povo palestino é o sinal de uma época de atrocidades que pode estar apenas iniciando.
Fábio da Cunha
Professor Dr. Fábio César Alves da Cunha é geógrafo e docente associado do Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Londrina UEL. Possui mestrado em Planejamento Ambiental (UNESP), Doutorado em Desenvolvimento Regional (UNESP) e Pós-Doutorado em Metropolização pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Trabalha com geografia urbana e regional, planejamento urbano e ambiental, geopolítica e metropolização.