Afinal de contas, esquecer é normal?
Sim, em geral, esquecer pode ser normal. A questão é passar a esquecer-se de acontecimentos importantes e com acentuada frequência, a ponto de atrapalhar a nossa rotina ou nossa capacidade de funcionar: “não consigo mais fazer o que fazia antes, por frequentes esquecimentos ou falhas na memória”. Bem, aí podemos ter um problema.
Por outro lado, esquecimentos ou falhas, de memória que não interferem em nossa rotina e não nos impedem de funcionar normalmente, além de ser o mais comum, não chega a ser um problema.
Menor capacidade de atenção, um pouco mais de dificuldade para realizar várias tarefas ao mesmo tempo, deixar o fogão aceso e queimar a comida, esquecer onde guardou objetos, ficar mais lento para evocar informações recentes, etc., tudo isto está relacionado com a chamada ‘memória de trabalho’ (ou ‘memória do presente’), que é a que sofre o maior impacto com o envelhecimento normal.
A memória de trabalho solicita maior demanda de recursos cognitivos, ou seja, requer informações de processamento além do armazenamento básico. Por isso, são os tipos de esquecimentos mais comuns, geralmente considerados normais. Isto tende a acontecer mais, com o avançar da idade.
Na medida que envelhecemos, sofremos várias mudanças fisiológicas normais e comuns a todas as pessoas que envelhecem. No caso da memória, nosso cérebro diminui de volume (a partir dos 25 anos de idade ocorre uma redução de 1,4 a 1,7% por década de vida, chegando aos 90 anos com um volume encefálico que se reduz em até 200 cm3 e possui peso aproximadamente 10% menor que aos 30 anos).
Habilidades de linguagem, por exemplo, não são afetadas no envelhecimento normal, mas podem surgir dificuldades devido às mudanças que ocorrem nas funções do lobo frontal de nosso cérebro. Isso acontece na demora para encontrar determinadas palavras, tipo “está na ponta da língua e não sai”.
Por isso que, via de regra, será considerado um problema mais preocupante, quando nossas falhas de memória e esquecimentos, interferirem em nossa capacidade de funcionar, impedindo-nos de fazer coisas que sabíamos fazer antes e agora não conseguimos mais: como perder-se em locais costumeiros, não saber voltar para casa, ficar muito repetitivo, de repente não reconhecer pessoas do convívio familiar usual, esquecer-se que já fez determinada refeição do dia, etc. E mais preocupante ainda, quando a pessoa não percebe que está esquecida e seus familiares ao redor percebem-no claramente, fenômeno chamado de ‘anosognosia’.
Também existem vários fatores que podem provocar esquecimentos ‘normais’, como stress, pressão de trabalho ou econômica, sono muito ruim, cansaço físico ou mental, depressão, excesso de preocupação e outros similares. São fatores que podem ser identificados e eventualmente tratados, melhorando a queixa de esquecimento.
E fica uma dica para os esquecidinhos: não confie na memória, escreva!
(Minha homenagem ao Portal Verdade, que informa hoje e registra para o futuro (memória) questões nem sempre divulgadas pela imprensa comum, sobre os trabalhadores e minorias).
Texto: Gilberto Martin, médico clínico e sanitarista