Nos últimos meses, o sistema de ensino estadual enfrentou alguns desafios em relação à promoção de ideologias extremistas no ambiente escolar. Em setembro, o Sindicato dos Professores e Funcionários de Escola do Paraná (APP – Sindicato) denunciou um slide elaborado pela Secretaria da Educação (SEED) que descrevia as vítimas da ditadura como “antipatriotas” e “esquerdistas”. Segundo a entidade, essa narrativa ecoa os argumentos do bolsonarismo sobre o regime militar.
Neste mês, uma escola estadual em Arapongas, no interior do Paraná, publicou imagens nas redes sociais de uma atividade extracurricular realizada por uma das professoras, em que alunos fazem uso de símbolos nazistas. A educadora também sugeriu, como parte da atividade, que os alunos entrevistassem a filha de um ex-combatente nazista preso nos campos de concentração da União Soviética.
Este caso em particular, o segundo do tipo em cerca de 30 dias, levanta preocupações sobre a necessidade de garantir que as práticas extracurriculares estejam alinhadas com os valores democráticos.
Conforme explica o professor de Artes, André Camargo, houve apologia explícita ao nazismo tanto por parte da professora, quanto por parte da escola. “As redes sociais dinamizaram o conhecimento de uma forma enganosa. Você recorta da história aquilo que lhe convém, até mesmo a narrativa de ódio no nazismo. E parece-me que foi isso que a professora fez ao escolher a filha de um ex-combatente nazista. O colégio, ao defender a professora, acabou piorando. Ele ignora o holocausto, ele ignora a ação bélica expansionista nazista e enfatiza a vitimização cruel de um jovem soldado nazista prisioneiro nos campos de concentrações da União Soviética”, disse.
As atividades extracurriculares devem ser trabalhadas por todos no ambiente escolar. Camargo reitera que, caso os professores optem por este tipo de abordagem apologética, cabe às autoridades educacionais, à coordenação pedagógica e até mesmo aos alunos intervir.
“A partir do momento que se torna amplo para toda a escola, é fotografado, registrado e aparece no Instagram da escola, subentende-se que a direção tinha conhecimento do que estava sendo feito. E existem restrições legais com apologia ao nazismo no Brasil. Apesar de uma leva gigantesca de bolsonaristas e neofascistas acharem que o direito de expressão é o que vale, existe uma questão legal que está sendo infringida. O professor tem que ter consciência do que está fazendo”, disse.
O caso destaca a necessidade de supervisionar e revisar os conteúdos ministrados nas escolas públicas. “Como educador, nós temos um papel muito sério na formação crítica, na consciência histórica e na consciência cidadã desses jovens. Se cada um começar a contar a narrativa da história tal como bem entende ou bem interpreta, imagino o caos que será”, finalizou.
Ao Portal Verdade, a Secretaria Educacional da APP Estadual, Margleyse Adriana dos Santos, disse que o coletivo repudia qualquer forma referente de apologia ao nazismo e que todas as providências estão sendo tomadas bem como possíveis denúncias.
*Matéria da estagiária Victoria Luiza Menegon, sob supervisão