Na década de 1940, em Curitiba, tínhamos cerca de 170 mil moradores(as) em seis distritos. Muitos(as) moradores(as) trabalhavam em serralherias e engenhos de erva-mate ou em chácaras familiares para abastecer a população local, que na época se dividia entre as principais atividades de lazer: emocionar Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, em Casablanca, num dos oito cinemas da capital; frequentar o Cassino do Ahú ou fazer o “footing” no Passeio Público aos finais de semana.
Ouviam-se os jogos de futebol (Atletibas) ou as corridas de cavalo do Prado do Guabirotuba na rádio PRB2. Consagrava-se então a era de ouro do rádio: Emilinha Borba, Nelson Gonçalves e Aracy de Almeida, cantavam os “hits” do momento. Os jovens amigos, Poty Lazzarotto e Dalton Trevisan, lançavam a Revista Literária Joaquim. Já sobre a II Guerra Mundial, quase nada se sabia ou se fazia de conta não saber.
No que diz respeito à educação, as curitibanas aguardavam ansiosamente os temidos exames de admissão no Instituto de Educação do Paraná, já que ali era o ponto alto da formação de nossas normalistas. Nesse período (1942-1946), tivemos a Reforma Capanema, que reestruturava e regulamentava todos os níveis de educação que eram ofertados à população brasileira. A partir dela, surgiram dois ciclos educacionais: o ginasial (quatro anos de duração) e o colegial (três anos de duração), que se organizaram desta maneira até nossa primeira LDB (Lei 40.24/61).
Devido a essas mudanças estruturais e de novas ofertas de ensino, – inclusive com uma demanda para cursos técnicos de Comércio (formando secretárias, datilógrafas, recepcionistas e contabilistas) – um agrupamento de docentes do Colégio Estadual do Paraná e do Instituto de Educação criam a Associação dos Professores do Paraná em 26 de abril de 1947.
Nesta época, havia uma concentração de professores(as) na capital do estado, mas este crescimento não era acompanhado de um plano de carreira. Paralelamente a isso, surgiu uma Campanha Nacional de Alfabetização, mas poucos eram os(as) que se aventuram a lecionar no interior do estado, devido às precárias condições de trabalho e de salário. Por esse motivo, tornava-se fundamental a organização da categoria para que uma educação efetiva fosse ofertada à população e, sobretudo, para que tivéssemos garantias empregatícias. Vejamos apenas alguns números da época: o Brasil contava com 50 milhões de habitantes, dos quais 15 milhões tinham mais de 15 anos e eram analfabetos. Já por um ponto de vista local, o Paraná correspondia a aproximadamente 2,5% dos habitantes do país (1,24 milhão).
Os desafios eram imensos, mas, apesar das adversidades, a carreira do Magistério ainda se revestia na mística do amor, dom, doação e missão de vida, sem serem levadas em consideração as questões essenciais da profissão: formação, carreira, salário, condições de trabalho.
Fatos que marcaram a história da APP-Sindicato
Muitas foram as lutas nestes 76 anos para estruturarmos nossa carreira que, a partir de 1997, passou a contar também com os funcionários e funcionárias de escola. Tivemos greves gerais (14, ao todo), paralisações, atos públicos, marchas, conferências, congressos, assembleias e milhares de campanhas.
Houve muitas perseguições à entidade, sobretudo na época da ditadura militar e, para que pudéssemos sobreviver, ocorreram reestruturações internas. Além disso, também ocorreram erros e desacertos, mas nada nos impediu de lutarmos e seguirmos em frente, mesmo nos piores cenários políticos estaduais (eras Lerner, Richa, Ratinho).
Sobrevivemos e somos hoje um dos maiores sindicatos do país, que além desse grande alcance também atua em todas as frentes sociais, pois a educação é plural e, a cada dia, desempenha novos papéis no tecido social.
Parabéns não só à nossa entidade que completa 76 anos de existência, mas também aos mais de 60 mil sindicalizados(as) que fazem parte da nossa história!
Cláudia Gruber
Secretária executiva de Comunicação da APP-Sindicato