Deputados da base de apoio e de oposição ao governador Ratinho Júnior (PSD) cobraram nesta quarta-feira (19) explicações da Copel sobre a constante queda no fornecimento de energia no Paraná. Entre 2021 e 2023, a Copel caiu da 10ª para 25ª posição no ranking de desempenho da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), situação agravada pela privatização da companhia, em agosto de 2023. Eles estudam convocar diretores da companhia para um debate na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep).
Segundo a deputada Luciana Rafagnin (PT), nas últimas semanas, 60 mil toneladas de tilápia foram perdidas em Cascavel, no Oeste do estado, e 707 frangos morreram em apenas 10 minutos do último domingo (16) em Sulina, no Sudoeste, devido à falta de energia. A parlamentar disse ainda que, em 2023, 28 mil pedidos de indenização foram encaminhados à Copel por causa de prejuízos causados pelas quedas de energia, mas que pouco mais de 7 mil foram atendidos.
Em audiência pública realizada na terça-feira (18), na Alep, representantes da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Paraná (Fetraf-PR), da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares do Estado do Paraná (Fetaep) e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) criticaram a atuação da empresa.
Um documento, elaborado durante a audiência e encaminhado à companhia, cobrou um plano emergencial de resposta aos apagões; um prazo máximo para restabelecimento da rede elétrica; a revisão da estrutura operacional; a garantia de transparência sobre a falta de materiais e problemas de infraestrutura; compensações financeiras para as quedas prolongadas de energia; isenção na fatura das famílias prejudicadas; e a abertura de canais mais ágeis para atendimento de consumidores.
De acordo com o deputado Arilson Chiorato (PT), das 399 cidades paranaenses, 384 registram quedas de energia mais de uma vez por semana. Os problemas teriam se intensificado após a privatização da Copel, com a redução do quadro de servidores e a contratação de novos funcionários. A companhia é presidida por Daniel Pimentel Slaviero, irmão do prefeito de Curitiba, Eduardo Pimentel (PSD).
Sem comunicação
Deputados e representantes das entidades criticaram a Copel por não oferecer canais de comunicação eficientes com os consumidores. “Falávamos antes da privatização que esse problema era sério e o que iria ocorrer com a privatização. É o que vem ocorrendo. Além das frequentes quedas de energia e dos prejuízos causados, há ainda a dificuldade de encontrar para quem reclamar e como buscar a solução”, disse Luciana Rafagnin.
Segundo a parlamentar, a situação vem piorando desde o ano passado. “Em 2024 e em 2025 os problemas se agravaram ainda mais. Em Franciso Beltrão, muitos agricultores perderam toda produção de frango e milhares de litros de leite. Na região de Cascavel, foram perdidas 60 toneladas de tilápia. Muitos consumidores têm aparelhos que queimam e buscam ressarcimento, mas menos de 7 mil dos 28 mil que pediram indenização foram indenizados”, afirmou Luciana Rafagnin. “Muitas vezes os técnicos que vão ao local falam que não têm como resolver o problema porque não têm material”.
Na sessão desta quarta-feira da Alep, o líder da base governista, deputado Hussein Bakri (PSD), disse pretende articular um encontro com diretores da Copel nos próximos dias. “É importante que todas as empresas públicas, independentemente de serem totalmente públicas ou não, prestem contas à sociedade. É importante organizar para os próximos dias, trazer os diretores da Copel para fazer um debate que vai tratar dos investimentos futuros”, afirmou. O deputado Evandro Araújo (PSD) disse que também tem recebido reclamações e reforçou a necessidade de ouvir diretores da Copel.
O líder do PSD na Alep, deputado Reichembach, negou relação dos problemas com a privatização. “Temos problemas pontuais e são muitos sérios. Precisamos também notar que houve investimento de mais de R$ 1 bilhão por parte da Copel. Hoje as demandas são sérias e elas precisam ser corrigidas. O investimento no sistema trifásico é extremamente importante e precisa ser complementado. Ele vai pela estrada e facilita muito a manutenção. Precisamos substituir as redes antigas, para que elas sejam modernizadas”.
Segundo os deputados que participaram da audiência pública de terça-feira, a Copel se comprometeu a fazer a limpeza de 150 km de linhas de transmissão, com poda e retirada de galhos que podem comprometer o fornecimento de energia. A companhia teria se comprometido a fazer a manutenção em linhas da Região Sudoeste é até o dia 28 de março.
Em fevereiro do ano passado, a Faep cobrou uma solução para as constantes quedas no fornecimento de energia em zonas rurais. De acordo com dados da Aneel, no último quadrimestre de 2023, houve mais de 38 mil interrupções no fornecimento de energia, um crescimento de 23,6% em relação ao mesmo período de 2022. A duração das interrupções também aumentou: o tempo de atendimento subiu de 248 minutos para 355 minutos, quase seis horas, segundo a Aneel.
Fonte: Jornal Plural