Seminário acontece nesta semana em Curitiba e objetiva pensar estratégias de comunicação para alcançar classe trabalhadora
Nesta terça-feira (25), a editora-chefe do Portal Verdade, Elsa Caldeira, participou da mesa “Financiamento do jornalismo progressista e comunicação popular”. A atividade compõe a programação do seminário de comunicação “20 anos do Brasil de Fato e a comunicação dos trabalhadores”, organizado pelo veículo em parceria com Núcleo Piratininga de Comunicação.
O evento, que acontece entre os dias 24 e 28 de abril em Curitiba, tem como finalidade debater com profissionais de comunicação, sindicalistas, professores de universidades, estudantes e trabalhadores em geral como construir uma comunicação progressista e que atenda aos interesses da maioria da população brasileira, fugindo das armadilhas da comunicação dos grandes veículos comerciais (saiba mais aqui).
Para a jornalista, a participação é uma oportunidade de contar a história do Coletivo de Sindicatos de Londrina. Criado em 2017, o grupo tem o objetivo de unir forças contra as reformas trabalhista (Lei 13.467) e da previdência, sendo responsável pela realização de dezenas de ações na cidade, por meio das mobilizações nacionais coordenadas pelo movimento sindical.
Também oportuniza compartilhar a trajetória do Portal Verdade. Em maio, o jornal, que tem como finalidade pautar lutas e direitos da classe trabalhadora e demais minorias sociais, completa um ano no ar.
“O Portal Verdade é fruto de um trabalho coletivo. Em 2017, logo depois do golpe, as centrais sindicais se organizaram para fazer as greves gerais, o povo foi para as ruas. Em Londrina, chegou para os sindicatos a determinação de organizar os atos. Sabemos que é caro construir manifestações para levar mais de 20 mil pessoas às ruas. Neste momento, os sindicatos se reuniram para construir mobilizações gigantescas”, explica.
Caldeira conta que, antes do lançamento do jornal virtual, em 2018 surgiu o programa Aroeira. Produzido em parceria pelo Sindicato dos Técnicos-Administrativos da Universidade Estadual de Londrina (ASSUEL) e Sindiprol/Aduel, entidade que representa docentes, a produção vai ao ar todos os sábados, a partir das 12h, na Rádio UEL FM (107,9). Em cerca de uma hora, o programa fala sobre o dia a dia da luta sindical.
Além do Portal Verdade, integraram a mesa, Cristina Rodrigues, coordenadora de redes sociais do Brasil de Fato Nacional (sede São Paulo) e Rogério Galindo, repórter do Jornal Plural (Curitiba). A mediação da conversa foi realizada pelo jornalista Pedro Carrano, do Brasil de Fato Paraná.
“A gente avaliou que, geralmente, o nosso curso de comunicação costuma discutir nossas experiências, formas de fazer, desafios, mas entendemos que o momento é propicio para discutirmos também aquilo que é central, que é a sobrevivência da mídia alternativa”, pontuou Carrano.
Rodrigues ressaltou que os últimos tempos foram de “trevas” para o jornalismo de maneira geral. Isto porque, com a ascensão de Jair Bolsonaro (PL) à presidência da República, os ataques aos veículos de comunicação e seus profissionais cresceram. Tais ofensivas puderam ser notadas através de falas que buscaram descredibilizar as notícias compartilhadas ao passo que as redes sociais passaram a ser o principal meio de divulgação de informações pelo ex-mandatário. Muitas das quais sem checagem e apuração.
Também ocorreram pelo crescimento de xingamentos e violências contra jornalistas (segundo a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, até julho de 2022, foram registradas 66 agressões graves, envolvendo destruição de equipamentos, ameaças e assassinatos. Esse número representa um crescimento de 69,2% em comparação com o mesmo período de 2021, que teve 39 casos), cerceamento dos conteúdos disseminados e tentativas de privatização de canais institucionais como a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC).
Mas a profissional pontuou que, mesmo sob adversidades, veículos contra hegemônicos têm resistido. “Sabemos da dificuldade que é sustentar uma mídia mais progressista nas circunstâncias em que a gente vive, onde a concentração dos meios de comunicação é muito grande. A gente deveria ter em toda comunicação esta preocupação com o viés de classe, mas como não temos, vamos avançando criando nossos meios”, afirmou.
Segundo ela, neste momento, o veículo está reformulando sua campanha de financiamento coletivo. Entre as novidades, está a inclusão de chamadas de apoio entre as matérias e demais produções. “A ideia de que o leitor vai fazer acessar nosso site, ver uma matéria bem escrita, ouvir nossos podcasts, assistir nossos vídeos. Ao estar imerso neste material, contaremos para ele que aquele conteúdo de qualidade só existe porque há uma equipe trabalhando, que requer estrutura”, diz.
Acompanhe debate na íntegra:
Os encontros estão sendo transmitidos pelo canal do Brasil de Fato Paraná no YouTube. Nesta quarta-feira (26), serão ofertadas as mesas “Comunicação sindical e a arte de falar para milhões” às 16h e “Comunicação sindical, comunitária e popular” a partir das 19h.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.