De acordo com resolução da SEED, funcionários terceirizados foram proibidos de votar
As arbitrariedades envolvendo a consulta pública para a implementação do programa “Parceiro da Escola” não cessam. Relato de uma mãe, que prefere não se identificar por receio de represálias a seu filho, estudante do Colégio Estadual Professora Ubedulha Correia de Oliveira, na zona Norte de Londrina, indica o pedido de voto ‘sim’ para o projeto que pretende privatizar a gestão de 177 escolas estaduais no Paraná.
Segundo o depoimento obtido com exclusividade pela reportagem, uma funcionária da unidade a recepcionou na portaria e a acompanhou até o local de votação, momento em que em pediu o voto favorável à venda do Colégio.
“Me pediram para votar a favor da privatização, uma funcionária da escola. Estavam [funcionárias da escola] na porta quando cheguei e uma delas me acompanhou”, afirma.
O grupo foi visto utilizando camisetas com a mensagem ‘vote sim’, durante o período de consulta pública, que ocorreu entre 6, 7 e 9 de dezembro.
“Chegando aqui foi uma grande surpresa encontrarmos funcionários terceirizados com a camiseta do ‘vote sim’ ficando na portaria o tempo todo. Se o estado quer fazer propaganda, que faça como nós, fora da escola e não induzindo as pessoas a votarem no sim”, ressalta Maria Giselda de Lima Fonseca, assistente social, coordenadora do Centro de Direitos Humanos de Londrina.
“No primeiro dia da consulta, membros da direção e todas as funcionárias terceirizadas estavam circulando pela escola com camisetas de ‘vote sim’, fizeram abordagem da comunidade durante o seu horário de trabalho, panfletagem”, reafirma Rogério Nunes da Silva, professor de Sociologia no Colégio Ubedulha e secretário de Assuntos Jurídicos da APP-Sindicato Londrina.
De acordo com resolução da SEED (Secretaria Estadual de Educação) funcionários de escola terceirizados, a maioria entre a categoria, foram proibidos de participar de consulta para adesão ao programa “Parceiro da Escola” (relembre aqui).

Foto: APP-Sindicato Londrina/Reprodução
Conforme informado pelo Portal Verdade, uma série de abusos marcaram os três dias de votação. No Colégio Ubedulha, o pleito finalizou com ameaças de prisão e intimidação a professores, estudantes e lideranças de movimentos sociais (veja aqui).
“Sou contra a privatização porque cuidar da escola é dever do estado”, acrescenta a mãe.
A irmã do estudante, que esteve com a mãe no Colégio, também reitera a responsabilidade do estado na oferta de uma educação pública e de qualidade.
“Sou contra o programa que vende uma ideia de que as crianças e jovens irão estudar em uma escola com mais estrutura, caso ela seja privatizada sendo que este é papel do governo, já pagamos impostos”, diz.
Ela também demonstra a preocupação com a fiscalização da iniciativa. “A educação pública precisa e deve ser administrada com total transparência sem interesses privados. Um governo que deixa a escola sem professores, com aula vaga, sem uma estrutura de ensino boa, não se preocupa com o futuro, porque iria se preocupar agora?”, questiona.
“Sem contar que escolas privatizadas deixam de contratar professores concursados para contratarem CLT [Consolidação das Leis do Trabalho], o que me parece é que pegaram a crise educacional e colocaram um nome bonito Parceiro da escola”, complementa.
Ainda, o aluno destaca que a discussão na escola ficou restrita aos supostos benefícios do programa. “A direção ficou promovendo a privatização de forma repetitiva. Eu sou completamente contra, acho que afeta muito negativamente o ensino e o sistema educacional”, analisa.
Levantamento da APP-Sindicato indica que, em todo estado, das 177 escolas apenas 93 escolas atingiram o quórum. Destas, 82 rejeitaram o programa e somente 11 foram favoráveis. Outras 84 escolas sequer atingiram a votação mínima, sendo o Colégio Ubedulha um deles.
A reportagem solicitou o posicionamento da SEED sobre o uso da máquina pública para propaganda e aguarda retorno.

Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.