A Universidade Estadual de Londrina conta com diversos projetos cuja finalidade é o enfrentamento à insegurança alimentar e nutricional, objetivo de desenvolvimento sustentável (ODS) que aparece como prioritário na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Dentre estes projetos, dois reúnem três departamentos da UEL e têm o objetivo de mapear o grau de insegurança alimentar da população de Londrina em regiões com altos índices de vulnerabilidade social, bem como mapear as ações de enfrentamento já realizadas. Em outra frente de trabalho, os docentes estão atuando na capacitação de gestores municipais para o cumprimento de metas, elaboração de planos municipais e a obtenção de recursos junto aos outros entes federativos.
Até o momento, os grupos de pesquisa já levantaram dados em assentamentos como a ocupação Aparecidinha, localizada ao lado do Jardim São Jorge (Zona Norte), e cuja situação é preocupante, avalia a docente do Departamento de Serviço Social (Cesa) da UEL, Eliane Christine Santos de Campos. Os dados preliminares apontam que famílias que possuem crianças e adolescentes parecem estar um pouco mais protegidas quanto à alimentação, enquanto adultos sem crianças e idosos têm maiores violações dos Direitos Humanos apresentando grau de Insegurança Alimentar Grave até duas vezes maior.
Das 40 famílias entrevistadas na localidade, 18 possuem integrantes com menos de 18 anos. Nestas famílias, o índice de segurança alimentar atinge apenas 28%, contra 23% no caso das que não possuem crianças e adolescentes. Neste sentido, em média três a cada quatro famílias sem filhos no Aparecidinha encontram-se em situação de Insegurança Alimentar, sendo um terço no grau mais elevado, conforme mostram os dados detalhados nos gráficos abaixo.
Um grande desafio para a produção de dados e a compreensão ampla do fenômeno é a não inserção de parte da população vulnerável em serviços e programas sociais, destaca a professora. “O grande problema é que a segurança alimentar está muito relacionada aos programas sociais, o Bolsa Família, porque há uma obrigatoriedade da saúde e da educação monitorarem, por exemplo, idosos e gestantes. Mas existe uma lacuna que são os adolescentes e adultos”, diz.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o grupo de brasileiros nesta situação era composto por 33,1 milhões de pessoas em 2022. Este número, aponta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc), caiu para 8,7 milhões no ano seguinte, divulgou o Governo Federal.
Capacitação
A produção dos dados está sendo desenvolvida no âmbito do projeto de extensão “Insegurança alimentar nos territórios vulneráveis de Londrina/Pr: fortalecendo as estratégias de participação e controle social para o desenvolvimento local”. Já em outra frente de trabalho, o grupo de docentes está atuando na capacitação de gestores de 19 municípios da Região Norte do Paraná para a elaboração de planos e estratégias que levem em consideração os desafios e as potencialidades locais.
A professora Eliane explica que, enquanto os municípios brasileiros estão correndo contra o tempo para aprimorarem a política de segurança alimentar e nutricional, a Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab) entrou em contato com a UEL para solicitar apoio na capacitação dos gestores. Neste sentido, oficinas estão sendo realizadas no Centro de Estudos Sociais Aplicados (Cesa) sempre nas últimas quintas-feiras do mês e contam com a presença de profissionais das áreas de Pedagogia, Agronomia, Nutrição, entre outras, que atuam nas prefeituras.
“São 19 municípios e planejamos com a Secretaria (Seab). Então, organizamos em seis meses e a cada mês os gestores estão conosco discutindo etapas do Plano. Eles constroem o Plano e vamos monitorando e avaliando porque eles têm até dezembro para construir e depois podem levar as proposições para o estado e pensar outras alternativas”, diz.
As oficinas estão sendo realizadas no âmbito do projeto de extensão “Aprimorando a Gestão da Política Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional”. No entanto, as duas ações reúnem também as professoras Sandra Cordeiro e Claudia Neves (Departamento de Serviço Social); Patrícia Pires (Nutrição); e Ideni Antonello e Caio Cunha (Departamento de Geografia).
A partir deste trabalho, destaca a professora Eliane, os municípios precisarão estudar soluções, que passam pelo incentivo às hortas e cozinhas comunitárias, e o fortalecimento dos programas sociais e da agricultura familiar.
Fonte: O Perobal