A Secretaria Estadual de Educação (SEED) pode suspender a oferta de novas turmas de cursos técnicos na região de Londrina para 2024. A decisão desfavorável pode afetar pelo menos oito cursos de sete instituições de ensino técnico e profissionalizante das cidades de Londrina, Ibiporã e Porecatu. Além desses cursos, outros nove estão passando por análise da SEED e também podem não ser ofertados no primeiro semestre do ano que vem. Estudantes e egressos dos cursos lamentaram a decisão, principalmente pelo fato de que o mercado de trabalho exige profissionais capacitados para ocupar as melhores oportunidades.
Por meio de nota encaminhada pela assessoria de imprensa, a SEED disse que o “planejamento dos cursos para o ano de 2024 ainda se encontra em fase de desenvolvimento e não foi finalizado”. A secretaria também disse que a liberação para abertura de novas turmas está sujeita à demanda de estudantes interessados e que “cursos que não atingem o número mínimo de inscritos podem não ser autorizados”.
“É importante salientar que a definição dos cursos a serem oferecidos está intrinsecamente vinculada ao número de estudantes que optam pelo ensino noturno bem como à quantidade de matrículas previstas tanto na Educação de Jovens e Adultos (EJA) quanto no ensino profissionalizante”. Sem detalhar prazos, em relação aos cursos que estão sob análise, a assessoria informou que eles estão passando por “análise de viabilidade por conta do número de ingressantes e concluintes”.
Em Londrina, até o momento, as suspensões vão afetar as seguintes instituições e cursos técnicos: Colégio Estadual Vicente Rijo (Técnico em Administração e em Recursos Humanos); Colégio de Aplicação Professor José Aloísio Aragão (Enfermagem do Trabalho); Instituto de Educação Estadual de Londrina (Técnico em Serviços Jurídicos); Centro Estadual de Educação Profissional Professor Maria do Rosário Castaldi (Técnico em Administração); e Colégio Estadual Polivalente (Técnico em Nutrição e Dietética). Dentre os outros municípios abrangidos pelo NRE (Núcleo Regional de Educação) de Londrina, também estão inclusos na suspensão das matrículas os cursos de Enfermagem, no Colégio Estadual Olavo Bilac, em Ibiporã, e de Técnico em Segurança do Trabalho no Colégio Estadual Ricardo Lunardelli, em Porecatu.
Já em relação às análises, a medida pode implicar em nove cursos de sete instituições: em Londrina, no Centro Estadual de Educação Profissional Professor Maria do Rosário Castaldi (Técnico em Análises Clínicas e Técnico em Mecânica), no Colégio Estadual Polivalente (Técnico em Edificações) e no Colégio Estadual Professora Maria José Balzanelo Aguilera (Técnico em Recursos Humanos); em Ibiporã, no Colégio Estadual Olavo Bilac (Técnico em Farmácia e Técnico em Administração) e no Colégio Estadual Antônio Iglesias (Técnico em Enfermagem); em Cambé, no Colégio Estadual Olavo Bilac (Técnico em Administração); e em Porecatu, no Colégio Estadual Ricardo Lunardelli (Técnico em Recursos Humanos).
Melhoria na renda
Ana Paula Barbosa, 41, está no segundo semestre do curso técnico de análises clínicas no Centro Estadual de Educação Profissional Professor Maria do Rosário Castaldi. Já formada pela instituição como técnica em química, ela conta que decidiu entrar no curso de análises clínicas porque sempre teve vontade de fazer algo na área da saúde. “Então eu pensei em aproveitar a oportunidade e casar esses dois cursos para ter uma experiência a mais no mercado de trabalho, me aperfeiçoar, sem contar que o Castaldi tem uma estrutura muito boa, bons professores”, ressalta.
Trabalhando em uma empresa de cosméticos, a oportunidade de seguir nos cursos técnicos, segundo ela, é uma forma de buscar uma qualificação profissional melhor, o que também respalda na melhoria da renda familiar. “Nos primeiros dias de aula eu já vi que era aquilo que eu queria. O curso é fantástico, tanto a ementa quanto os professores e as disciplinas. Eu sinto que estou fazendo uma faculdade”, pontua, acrescentando que o conhecimento teórico e prático permite que novas portas se abram para ela no mercado de trabalho.
Com disciplinas como patologia, microbiologia, bioquímica e hematologia, eles também têm aulas práticas sobre como colher sangue dos pacientes, reforçando o caráter mais humanizado do profissional. “Do fundo do meu coração, eu não quero que tirem o curso porque eu não quero que outras pessoas percam a oportunidade que eu estou tendo agora de aprender”, opina. Segundo ela, a qualificação do profissional é o que faz a diferença na hora de conseguir uma vaga de emprego.
“Vai ser uma perda e tanto [a possibilidade da não oferta do curso técnico] porque o que eu aprendi e estou aprendendo é algo que eu posso contribuir com a sociedade. É triste porque vai estar tirando um direito nosso de estar ali aprendendo”, explica, ressaltando que queria que as pessoas percebessem o quanto esses cursos técnicos são importantes para quem faz e para toda a sociedade.
Melhor decisão
Kátia Rodolfo Cordeiro, 50, concluiu o curso de técnico em nutrição e dietética no Colégio Estadual Polivalente em 2021, que até o momento está sem perspectiva de turmas para 2024. Trabalhando há anos como merendeira em escolas públicas de Londrina, ela conta que decidiu fazer o curso por já ter experiência na área, que ela afirma que foi a melhor decisão que tomou na vida. Logo após ter concluído o curso, ela foi promovida na empresa que trabalhava, saindo do cargo de merendeira e assumindo a posição de técnica em nutrição.
Mesmo com o início do curso no formato online por conta da pandemia, Cordeiro só tem elogios para distribuir para todos os professores. “Eu fui muito persistente, mas também tive a ajuda deles porque tem horas que a gente fica tão cansada por conta do trabalho que pensa em desistir, mas eles sempre estão nos apoiando, dando suporte e motivação para continuar”, pontua.
Por conta da experiência positiva, ela diz que sempre incentiva as colegas de trabalho a fazerem o curso, que agora pode não ter turmas abertas para o ano que vem. “Eu fico triste porque é um curso tão bom e que tem mercado de trabalho para essa profissão. Se vir a cortar esse curso, vai ser uma pena porque muita gente vai perder a oportunidade de conseguir uma vaga de trabalho”, opina, acrescentando que a empresa que ela trabalha sempre está contratando novos profissionais com qualificação na área. Ela ressalta que uma das vantagens do curso é ser mais curto do que uma graduação e já sair com a possibilidade de colocação no mercado de trabalho.
Curso técnico abre portas
Amanda Monteiro, 41, está indo para o último semestre do curso técnico em análises clínicas no Castaldi. Podóloga por formação, ela conta que não conseguiu se inserir no mercado formal e, por isso, foi para o informal. Ao ficar sabendo do curso, ela se interessou pelo fato de já ter tido uma base das disciplinas na podologia e pela vontade de voltar para dentro dos laboratórios.
Entre o primeiro e o segundo semestre, ela foi em busca de oportunidades de estágio e conseguiu uma vaga em um laboratório de Londrina. “Se eu não estivesse fazendo o curso técnico, a chance seria zero [de conseguir o emprego]”, afirma. Segundo ela, a formação e qualificação do profissional é fundamental para atuar na área. Responsável pelas coletas de material biológico e já auxiliando na parte técnica dentro do laboratório. “A meta não é ficar só na coleta, é ir para a parte mais técnica”, pontua.
Afirmando que foi “resgatada” pelo mercado de trabalho através do curso, ela lamenta que outras pessoas podem não ter essa oportunidade. “São portas que se abrem e que precisam de profissionais capacitados ou em capacitação”, ressalta.
Investir e incentivar
Luciana Inácio Ramos, 46, finalizou o curso de técnico em nutrição e dietética em 2021 no Colégio Estadual Polivalente. Por ter trabalhado na área da alimentação toda a vida, ela conta que sentiu a necessidade de fazer um curso para se especializar e se qualificar.
Depois que finalizou o curso, ela afirma que “oportunidade foi o que não faltou”, mas acabou aceitando a proposta de uma grande rede de restaurantes para ser técnica em nutrição. “Com certeza foi [o fato de ter a formação] porque se eu não tivesse o curso eu não seria encaixada [na vaga]”, afirma.
A experiência com o curso técnico foi tão boa que o filho está fazendo mecatrônica no Castaldi e já está há seis meses fazendo estágio em uma empresa. “Com qualquer pessoa que eu tenha a oportunidade [de falar], eu vou incentivar o curso técnico, seja na área que ela gosta ou se encaixa, porque abre muitas oportunidades”, ressalta, acrescentando que as empresas vão até as instituições em busca de profissionais.
Ao contrário de suspender, Ramos aponta que o governo deveria investir e incentivar cada vez mais que as pessoas façam um curso técnico, já que isso representa uma melhor qualificação e melhores oportunidades de trabalho. “Eu não entendo a falta de incentivo e eu fico muito triste quanto a isso”, ressalta.
Fonte: Folha de Londrina