A imprensa familiar brasileira (frias + mesquita + civita + marinho) noticiou criticamente fala da companheira de vida de Lula (Janja), em evento político de gigantesca magnitude (G-20), onde a aguerrida primeira dama (que merda de tratamento machista) traduziu pelo microfone o que toda esquerda pensa – fuck you musk…
Janja falou de improviso ao ouvir, durante sua fala, o apito de um navio ao longe. Foi nonsense em estado bruto e nada mais. Talvez deselegante (foi deselegante) e só. Aliás eu falo a mesma coisa todo santo dia, ao lembrar que um bilionário alienígena anda dando pitaco neoliberal em nossa democracia e que a direita pátria ajoelha para o cara, passando pano.
Pior: a imprensa comercial familiar (frias + mesquita + civita + marinho) usou do fato para aliviar a verdadeira notícia que seria manchete obrigatória: polícia federal deflagrou operação para desvendar (já tem milico estrelado preso) e responsabilizar os autores e articulistas de um plano (efetivamente iniciado) para matar Lula, Alkmin e Alexandre de Morais.
Na esteira da bola levantada pelos eunucos da notícia no Brasil (frias + mesquita + civita + marinho), vem aquele deputado doidivanas das minas gerais que maneja rede social à poder de fake news (nikolas) e, como é de seu procedimento habitual, cria uma absurda falsa simetria entre a fala de Janja e a notícia da prisão dos milicos pelo início da execução de um plano homicida contra Lula e os já apontados outros, sugerindo que só se noticiou a tentativa homicida para abafar o escândalo da fala de Janja…
Impressiona até a mim a natureza dessa falsa simetria, naquilo que a notícia já não é o bode na sala e sim a sala por sua exuberância. Aqui, o mineiro mentiroso olhou para o país e disse: como vocês são burros…
O Brasil nunca foi para amadores – isso já é certo desde que a princesa das princesas (Isabel de Bragança e Bourbon) assinou a lei Áurea – mas que as redes sociais catapultaram a profissionalização dos políticos por aqui, isso não se pode desconhecer.
Não há qualquer parâmetro racional que acomode (minimamente) a fala distópica de nikolas, naquilo que um plano para matar um presidente da República e seu vice, mais um ministro da Corte Suprema, não pode ser relativizado ao nível que o relativiza a fala do extremista de direita.
Ainda que o absurdo e a mentira componham o ideário dos extremistas de direita, as falsas simetrias (tanto quanto absurdas e mentirosas) precisam ser destacadas e desenhadas, em ordem a resgatar o elemento racional que as mentiras espraiadas pelas redes sociais mitigam.
Minha sanidade cada vez mais passa por aí. Não posso conviver com a só sugestão de que há qualquer ponto de convergência entre o que significa um golpe homicida com finalidade política e uma fala sem qualquer significado maior em um discurso legítimo e conforme exigiria a ritualística do evento.
Imprescindível compreender o espectro irracional que emerge dos pensamentos soltos, onde comparações absurdas entre elementos de distintas categorias (tentativa de homicídio político versus piada aleatória em um discurso político) são colocadas em uma balança imaginária que, de tão irracional que se revela só atende ao certame do interesse fascista que permeia o pensamento extremista de direita.
No ponto, não canso de chamar a colação a expressão infeliz e mentirosa cunhada pela elite econômica branca, sugerindo o que apelidaram de ‘racismo reverso’.
Sem qualquer respeito, falar em racismo reverso é revelar o lado mais doente de nossa alma, naquilo que a expressão em si é absurdamente mentirosa, suposto que deixa de considerar o elemento econômico na construção do racismo.
Já escrevi sobre essa estupidez por ocasião de uma ordem judicial concedida liminarmente em desfavor de um programe de treinamento criado pelo Magazine Luiza, voltado para a formação de jovens executivos, ofertado apenas aos negros.
Houve, à época, uma grita distópica contra essa belíssima iniciativa do Magazine Luiza, e essa grita (absurda) pariu um pedido judicial à desfavor da medida, aceito liminarmente pela juíza que, na concessão do pleito, teria estabelecido parâmetros do que ela identificou enquanto racismo reverso.
O google comprou a imbecilização momentânea e cravou na Wikipédia: ‘Racismo reverso é uma definição usado para descrever atos de discriminação e preconceito perpetrados por minorias raciais ou grupos étnicos historicamente oprimidos contra indivíduos pertencentes à maioria racial ou grupos étnicos historicamente dominantes’.
Isso ocorreu lá por 2020 e, lembro, ter criticado severamente a expressão contrapondo a história da humanidade, naquilo que conclamei, para admitir seu uso, uma viagem ao tempo – pelo início da idade média – em tempo de organizar uma invasão africana à Europa.
Invadido e devidamente subjugado o continente de Cervantes, seus habitantes (todos claros, nórdicos, polacos, brancos) seriam escravizados e explorados pelos de pele escura que, na condição de conquistadores, imporiam seus costumes e tradições sobre a até então vigente conjuntura branca…
Candomblé e Umbanda se estabeleceriam (vamos preservar o Vaticano em atenção ao extraordinário santo Padre) além do Tibre, mas a praça de São Marcos não estaria cimentada, seria um chão batido…
Os católicos seriam perseguidos por terem sido batizados e, assim, conquistado uma alma, o que os tornariam diferentes, autorizando na distinção o seu extermínio – a não ser que houvesse uma catequização (reversa?) à fim de sua conversão ao Umbandismo ou ao Candomblé – ou qualquer outra religião de matriz africana.
Com a salvação na religião dos dominadores, abrir-se-ia a veia do aproveitamento dos neo convertidos em lavouras e campos, por trabalho escravo…
Há, os brancos não poderiam sentar-se ao lado dos Africanos, tampouco frequentar lugares que os Africanos conquistadores frequentassem. Não poderiam votar, seus filhos não poderiam ter acesso à educação nas escolas dos negros, nem nadar em piscinas públicas exclusivas dos Africanos.
Aos brancos europeus, escravizados e subjugados, restaria a internalização dos costumes africanos. Os cabelos seriam crespos, a Barbie seria negra – com uma única exceção, para uma Barbie loura, peituda e empregada doméstica em uma casa de negros. Seria a Barbie Malibú Reversa.
O Sinatra estabelecido não cantaria My Way e sim Little Miss Lover. Usaria definitivamente uma Fender Stratocaster e não andaria com caras chamados Ângelo, Vitto, Jimmi Cowen, Tony. Seus parceiros seriam Shaquille, Oscar Robertson, Bill Russel, Kareen Abdul-Jabbar…
As guerras mundiais que custaram tantas e tantas vidas negras contabilizariam mais vidas brancas – não que a vida branca não importasse, afinal o branco caiu de rifle na mão pelo tiro do inimigo branco, ambos servindo à países dominados por negros.
Na rua não se ouviria mais negro sem vergonha e sim branco safado e quando houvesse uma abordagem policial o branco seria o alvo preferencial dos policiais negros, notadamente ao voltar para casa – que seria no alto de um morro, em um lugar apelidado de favela, que os negros ricos e empoderados cultuariam para parecer cool.
Ao ser questionado o que faria se seu filho macho e negro tomasse em casamento uma branca pobre, o entrevistado fascista diria que tal não aconteceria jamais, posto que seus filhos negros teriam sido bem-educados.
Enfim, se a história pudesse ser alterada em tempo da Europa ser invadida pelos Africanos, que subjugariam e escravizariam o homem branco europeu, aí então poderíamos falar em racismo reverso. Até lá, iniciativas extraordinárias como as do Magazine Luiza seguirão à mercê de juízes que não conhecem história para lhes dar consecução. Foi mais ou menos o que disse eu a época. Hoje, quatro anos depois, ao ver uma pá de sicofanta buscar uma qualquer similitude entre uma fala verdadeira em um discurso em evento político e a deflagração de uma operação policial contra o início da execução de um plano para matar o Presidente a República, seu Vice e um Ministro da Corte Suprema que a direita detesta, sigo lamentando nossa imbecilização, amiga irmã do neocolonialismo a que nos sujeitamos.
Tristes trópicos onde a falsa simetria abastece o mercado criminoso de fake news e uma tantada de euro-descendente, prisioneira de seus white people problems, segue passando pano para criminoso político.
Saudade Pai. Você ensinou que a mentira não deveria conhecer a luz do dia.
João Locco para o Canto do Locco
João Locco
João dos Santos Gomes Filho, mais conhecido pelo apelido João Locco. Advogado, corintiano, com interesse extraordinário em conhecer mais a alma e menos a calma.