Os jogos de aposta online, ou as Bets (aposta em inglês), já são uma epidemia silenciosa, ao alcance das mãos, nas telas de celulares.
Apostas levam ao vício e viram uma doença conhecida como ludopatia, com consequências psicológicas e financeiras em muitos casos catastróficas para o apostador e sua família.
As bets são um fenômeno crescente, estão em todos os programas esportivos na televisão e estádios e nas redes sociais, acessível até a crianças, geralmente convocados por uma estrela do futebol e outros astros de comunicação.
Movimenta 1% do PIB, compromete 20% do orçamento livre das famílias mais pobres, num crescimento de mais de 5 vezes nos últimos 5 anos. As bets crescem em países com maior desigualdade, sensíveis à ilusão de possibilidade de dinheiro fácil. O Brasil é o país onde as bets mais cresceram no mundo em um curto espaço de tempo. Aqui, 46% dos apostadores online são jovens de 19 a 29 anos, endividando-se e inviabilizando seu nome.
Gasta-se mais dinheiro com as apostas do que com itens de primeira necessidade. Pesquisa do DataFolha mostra que ao menos 15% da população brasileira já fez alguma aposta online e que 30% dos brasileiros de 16 a 24 anos afirma que já apostou pelo menos uma vez. O gasto médio por mês dos apostadores é de R$ 263, equivalente a 20% do salário mínimo. Isto significou cerca de US$ 11,1 bilhões (cerca de R$ 54 bilhões) entre janeiro e novembro de 2023, que viraram remessa para exterior, desviando recursos significativos do consumo no varejo (23% dos apostadores deixaram de comprar roupas, 19% reduziram gastos com supermercados, 14% diminuíram consumo de produtos de higiene e beleza, entre outros ítens), afetando a recuperação econômica do país. Pior ainda: em 12 meses os brasileiros de baixa renda perderam R$ 23,9 bilhões, levando ao endividamento e à inadimplência.
As bets (e jogo do tigrinho e similares) exploram a baixa capacidade de autocontrole, ou tentam minar esta capacidade nas pessoas, usando algoritmos programados para que se ganhe no início e se mantenha apostando na ilusão de continuar ganhando.
Mais do que afetar as finanças pessoais e a economia do país, a entrada das bets também vem aumentando os casos de ludopatia , doença reconhecida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como uma condição médica caracterizada pela compulsão de uma pessoa por jogos de azar, que a leva a uma preocupação constante com apostas, vivendo em função delas, com necessidade de apostar quantias cada vez maiores para conseguir satisfação e depois, mesmo querendo, não consegue parar. Vira uma dependência. Este ludopata está sempre inquieto, irritado, angustiado e tem no jogo a válvula de escape para seus problemas.
Com aumento de ansiedade, vem depressão, estresse crônico e até a possibilidade de pensamento suicida, devido às perdas financeiras e de esperança da vida. Estas pessoas vão para isolamento, brigas, perdas de amizade, baixa produtividade, perda de emprego, problemas de relacionamentos, incluindo divórcios em casamentos.
Tratar esta doença é difícil, exige atendimento especializado e requer procedimentos como terapia cognitiva comportamental, para mudança de pensamentos e comportamentos relacionados ao jogo. Deve-se evitar situações que possibilitem apostas, indica-se trabalhar com grupo de apoio, suporte da família e dos amigos ou até mesmo, em certos casos, uso de medicamentos para controlar ansiedade e depressão, além de prevenção, evitando o hábito do jogo, e educação, evitando que o jogo passe de brincadeira para uma dependência.
Bom mesmo é nunca jogar. É afastar todo tipo de estímulo de jogos de aposta dos veículos de comunicação e das atividades esportivas, como patrocínio de clubes de futebol.
Bets leva ao vício e o que leva ao vício é droga. Fique fora dessa ou procure ajuda especializada.
Texto: Gilberto Martin, médico sanitarista