O cantor Agnaldo Rayol morreu após uma queda dentro de casa. O presidente Lula sofre um escorregão no banheiro, cai, bate a cabeça com muito sangramento, adia uma viagem à Rússia e fica vários dias sem poder trabalhar. O apresentador Gugu Liberato sobe no telhado de sua mansão em Miami para consertar uma antena de TV, cai e morre na hora.
E quantas outras histórias semelhantes envolvendo conhecidas figuras da vida pública nós ficamos sabendo com frequência pela imprensa? Mas, e dentro de nossa casa ou em nossa família? Quantas histórias destas nós não temos? Você que está nos lendo, já teve algum ente querido de sua família que ficou travado em uma cama ou mesmo morreu por conta de uma queda, na maioria da vezes dentro de casa e de um forma muito boba?
Pois é. Saiba que Agnaldo Rayol, Lula, Gugu Liberato, outros famosos e seu parente, todos tem algo em comum: são idosos com mais de 60 ou 65 anos de idade. E todos sofreram o mesmo tipo de acidente que foi fatal para alguns: caíram. Sofreram uma queda.
Este tipo de acidente, repito, às vezes provocando a morte, é muito mais comum do que você imagina.
35% a 45% de pessoas com 65 anos ou mais caem pelo menos uma vez por ano no Brasil. E metade destes vão cair pela segunda vez ainda no mesmo ano. Já dos que atingiram 80 anos ou mais, metade vai cair com certeza uma vez por ano. E se forem idosos institucionalizados (asilos), cairão com ainda maior frequência: 34% a 67% deles caem mais uma vez por ano e 40% caem recorrentemente.
E, o pior, segundo dados do DATASUS a taxa de mortalidade hospitalar por queda nas pessoas idosas nos últimos 15 anos foi 55%. Ou seja, mais da metade dos idosos que caíram e foram hospitalizadas por isso, morreram! Estes são dados do Ministério da Saúde. E uma coisa interessante: os homens são mais propensos do que as mulheres a sofrer quedas fatais. Pode ser que os homens sejam fisicamente mais ativos ou mais propensos a se envolver em comportamentos de risco (subir no telhado para consertar a TV, por exemplo).
De forma geral, todos os idosos estão sujeitos ao risco de queda, mas, com certeza correm mais risco de cair idosos frágeis que tenham baixa escolaridade, que tomem mais de cinco medicamentos ao mesmo tempo, que tenha disfunção visual, que tenham alteração na marcha e no equilíbrio, que tenham incontinência urinária e/ou que façam uso de laxantes e antipsicóticos.
É bom reforçar que a maioria das quedas no idoso robusto ocorre dentro do domicílio ou e seus arredores, geralmente durante o desempenho de atividades cotidianas como, caminhar, mudar de posição e ir ao banheiro. Nestas condições o que facilita para o idoso cair são fatores “bobos” como pisos escorregadios e irregulares; roupas e sapatos inadequados; iluminação precária; tapetes pela casa; móveis instáveis; altura inadequada de cama e móveis; falta de corrimão; calçadas irregulares e similares.
Maus tratos ao idoso também levam a quedas frequentes. Subir no banquinho, na cadeira ou na escada para pegar aquele objeto mais alto na prateleira, também.
Portanto, mesmo sendo idoso, é preciso não cair: é só evitar estes riscos e se cuidar.
Texto: Gilberto Martin, médico sanitarista