Um médico da Dasc (Divisão de Assistência à Saúde da Comunidade), órgão vinculado à UEL (Universidade Estadual de Londrina), é acusado de assediar e importunar sexualmente pacientes durante consultas e procedimentos.
Na última semana, a jornalista G. F., foi assediada verbalmente pelo profissional em um atendimento de rotina. De acordo com G., os problemas começaram a acontecer logo no início da consulta.
“A primeira coisa que ele fez foi passar o número da clínica particular. Falou que o exame do Dasc era mais simples, que o melhor era fazer um mais completo em outro lugar. Ele está num espaço público e falando mal dos serviços que existem ali, insinuando que na clínica dele é melhor”, conta.
As situações constrangedoras não pararam por aí. Em um momento, classificado por G. como “a pior parte”, o médico começou a falar sobre posições sexuais, enquanto gesticulava com as mãos para demonstrar os movimentos.
“Ele me falou que ‘homem gosta de pegar por trás’. Ele repetiu isso inúmeras vezes, mostrando nas mãos”, conta a jornalista.
Segundo o relato da paciente, o especialista falou sobre diversas posições enquanto gesticulava, como “papai e mamãe” e “cavalinho”. Nesta última, os comentários incomodaram ainda mais a vítima.
“Nessa hora, ele também falou que ‘o melhor é a mulher chupar, pra deixar bem lubrificado, depois faz cavalinho e depois vai para outras posições'”, afirma.
E como se não bastassem as falas a respeito das posições sexuais e dos gestos, o médico ainda falou sobre masturbação. De acordo com G., ela não perguntou ou tocou em qualquer um destes assuntos ao longo da consulta.
“Além disso tudo, ele falou que homem gosta de ‘dar umazinha’ no meio da tarde, em qualquer canto, até ali do lado da Dasc.”
Durante o atendimento, a paciente não conseguiu assimilar que estava passando por uma situação de assédio e de importunação sexual. Contudo, após conversar com amigos e com sua psicóloga, percebeu a gravidade do caso e decidiu denunciar o médico.
G. registrou uma reclamação na Ouvidoria da UEL, além de ter ido até a polícia para abrir um B.O. (Boletim de Ocorrência) contra o profissional. Com o intuito de alertar outras mulheres sobre a situação, a paciente fez uma publicação em um grupo no Facebook.
A postagem não somente deixou alunas, professoras e servidoras da Universidade atentas ao perigo, mas também reuniu relatos e queixas contra o mesmo médico.
Além dos casos de assédio e importunação, o profissional é acusado de praticar lesbofobia, que consiste no preconceito às mulheres lésbicas. A biomédica L. C. se consultou com o médico em 2013 e relata que este a questionou incessantemente sobre sua sexualidade.
“Ele não focou em nenhum dos meus objetivos para a consulta, só me perguntou sobre minha sexualidade. Me questionou por que eu era ‘daquele jeito’ e ainda me disse que eu tinha que experimentar ficar com homens. Ele chegou a, inclusive, me perguntar como era minha relação com meu pai e com minha mãe. Em um momento, ele disse que eu era lésbica porque minha mãe era brava e eu também, então eu não conseguia dominar os homens e ficava com mulheres porque conseguia dominá-las”, declara.
A biomédica explica que era muito jovem na época da ocorrência e não soube como reagir aos comentários do profissional. “O foco dele era minha sexualidade, não a medicina. Ele nem olhou os resultados dos meus exames quando voltei, novamente só perguntou sobre minha sexualidade e chegou a perguntar se eu tinha ‘melhorado’.”
L. C. conta, ainda, que em sua ficha médica, no campo “Hipótese Diagnóstica”, o profissional escreveu “homossexualismo”, com a intenção de apontar que a sexualidade da paciente era uma doença. A biomédica nunca mais voltou à Dasc e demorou para buscar atendimento médico novamente.
Anos depois, uma sindicância foi instaurada na Dasc em decorrência de outros casos envolvendo a conduta antiética do médico e L.C. foi chamada para prestar depoimento.
Mesmo com seu relato que chocou os presentes, L.C. não soube se uma punição foi aplicada ao profissional. Por isso, registrou uma reclamação no CRM (Conselho Regional de Medicina).
“Eu anexei o prontuário e outros documentos, mas a decisão foi favorável a ele. A comissão era formada por dois médicos, que ficaram do lado dele, e por uma médica, que ficou do meu lado. Com dois votos para ele, o processo foi arquivado e, para continuar, eu teria que recorrer ao CFM (Conselho Federal de Medicina) e ir para Curitiba, então desisti”, relata.
A reportagem do Portal Bonde entrou em contato com a COM (Coordenadoria de Comunicação Social) da UEL para obter uma posição sobre a reclamação registrada pela jornalista G. F. na última semana.
Em nota, a Universidade afirma que aguarda o recebimento da denúncia para realizar o levantamento e a checagem dos fatos.
Confira a nota na íntegra:
A Procuradoria Jurídica da UEL aguarda o recebimento da denúncia oficializada essa semana junto à Ouvidoria
Cabe à Procuradoria Jurídica, considerando o disposto no Estatuto e Regimento Interno, que preconiza as normas de conduta da comunidade universitária, no exercício das atividades, realizar o levantamento inicial dos fatos e checagem dos envolvidos para instrução do procedimento, que finalizado deve ser submetido ao Gabinete da Reitoria e, posteriormente, ao Conselho Universitário, órgão máximo da Universidade.
A UEL reitera seu compromisso em zelar e difundir o respeito à dignidade humana e que não compactua com qualquer forma de violência física, psicológica ou constrangimento contra a mulher, que possam ofender sua saúde, integridade física ou ainda provocar danos emocionais.
A reportagem entrou em contato com o CRM e aguarda a resposta.
Fonte: Portal Bonde