No final de maio, a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) lançou campanha intitulada “Menos Metas, Mais Saúde”. A ação tem como finalidade chamar atenção para a saúde física e mental dos trabalhadores do setor frente a cobranças cada vez mais abusivas bem como descumprimento de direitos no ambiente corporativo.
A intenção é, portanto, evidenciar as consequências do modelo de gestão autoritário para o bem-estar dos colaboradores, exigir que as empresas do ramo propiciem condições de trabalho saudáveis e desenvolvam práticas de conscientização e combate ao assédio entre outras formas de violência.
A fim de divulgar a campanha em Londrina, na última terça-feira (12), representantes do Sindicato dos Bancários, realizaram reuniões com funcionários do Prédio Central do Bradesco e da agência Pé Vermelho da Caixa Econômica Federal. Nesta última, no mês passado, cinco funcionários foram afastados por problemas de saúde decorrentes das pressões pelo cumprimento de metas inatingíveis e falta de pessoal, segundo o coletivo (saiba mais).
Em entrevista ao programa Aroeira, da Rádio UEL FM, no último sábado (16), a secretária de Saúde do Sindicato dos Bancários de Londrina e Região, Eunice Miyamoto, lembrou que a atividade também busca visibilizar a importância das discussões trazidas pelo “Setembro Amarelo”, campanha de prevenção ao suicídio promovida pela Associação Brasileira de Psiquiatria desde 2014.
“Se antes, o suicídio era um tabu, hoje temos que levar esta pauta em constante observação e reflexão. Um olhar para o colega que trabalha ao seu lado e para nossa própria saúde mental e emocional. A importância do suporte psicológico, do diálogo aberto sobre saúde mental e do combate ao assédio moral nos locais de trabalho, é uma constante que nós devemos ter em nossos dias”, disse.
Ainda, de acordo com a liderança, em quase uma década, de 2012 a 2021, o total de afastamento de bancárias e bancários por doenças decorrentes do trabalho saltou de 30% para 55%. Os dados partem da Previdência Social. “Conforme nossa última consulta nacional do ranking, onde participaram cerca de 30 mil bancários, cerca de 40% dos trabalhadores informaram que fazem uso de medicamento controlado, ansiolítico e antidepressivo”, acrescentou.
Também como informado pelo Portal Verdade (relembre aqui) II Pesquisa Nacional sobre Home Office dos Bancários, desenvolvida pelo DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) identificou mudanças nas condições de trabalho da categoria a partir da implementação do trabalho remoto.
Entre o eixo saúde do trabalhador, o estudo observou que a sensação de insegurança aumentou entre a categoria: 23% das bancárias e bancários disseram que passaram a “sentir medo de ser esquecido, perder oportunidades ou ser dispensado” após a doação do trabalho remoto. Esta situação predominou, principalmente, entre funcionários de instituições financeiras privadas.
Ainda com base na investigação, em 2021, cresceram os percentuais de bancários e bancárias com vontade de chorar sem motivo aparente (13%). Em 2020, o índice era de 10%. No mesmo período, saltou o contingente de trabalhadores desmotivados ou sem vontade de trabalhar: 18% ante a 14%.
“Precisamos promover mudanças positivas nas condições de trabalho dos bancários e na cultura corporativa das instituições financeiras. Para destacar os desafios enfrentados pelos trabalhadores do setor, ressaltamos os vários fatores que podem contribuir para o sofrimento psíquico em relação a sua saúde mental e emocional como excesso de metas inatingíveis, jornadas prolongadas pela falta de funcionários, elevada competição entre os pares gerando ansiedade e rivalidade e falta de reconhecimento sempre pressionando para a superação da performance”, afirmou Miyamoto.
Entre as estratégias da campanha, está a disseminação nas redes sociais das hashtags #AVidaAcimaDoLucro e #BoraConversar, que incentiva os trabalhadores do mercado financeiro a compartilharem suas experiências relacionadas ao assédio moral nas instituições, respeitando a confidencialidade e a privacidade das pessoas envolvidas.
Miyamoto reforça que a campanha será permanente e que os trabalhadores que necessitarem de ajuda devem procurar os sindicatos. “Um alerta para que nossos colegas saibam que não estão sozinhos e tem o seu sindicato ao seu lado para desempenhar o seu papel com respeito e equilíbrio”, assinala.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.