A posse de Alexandre Curi (PSD) como presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, marcada para esta segunda-feira (3), é um evento que a maior parte dos políticos achava que já teria acontecido há pelo menos numa década. A ascensão do neto de Aníbal Khoury era dada como certa desde o começo, e só foi interrompida (ou pelo menos adiada) pela série de reportagens sobre os Diários Secretos, publicada em 2010 pela Gazeta do Povo e pela RPC.
Hoje, depois de conseguir ser declarado inocente em todos os processos judiciais, Curi chega enfim à posição que foi de seu avô durante muito tempo. Mas, ao contrário do velho Aníbal, falecido em 1999, Alexandre não pensa em passar toda a carreira na Assembleia. Já deixou claro que, agora, vê a presidência da Assembleia como mero degrau para cargos maiores.
Na Assembleia, ninguém duvida que Alexandre tem inteligência e capacidade de articulação para ir mais longe. Entre os deputados, é comum que se diga que Curi é, de longe, o mais hábil articulador do estado. Soube se manter próximo de todos os governadores, de Requião a Ratinho, passando por Beto Richa. Montou uma base impressionante de prefeitos no interior – ninguém tem votos em mais cidades do que ele. E no Legislativo tem a lealdade da maior parte dos deputados.
A longa espera
A presidência da Assembleia era uma questão de tempo. Quando o escândalo dos Diários Secretos veio à tona, em março de 2010, Alexandre era primeiro-secretário de Nelson Justus (União). As reportagens mostraram que, dentro do Legislativo, havia um imenso esquema de corrupção que passava pela existência de funcionários fantasmas, impressão de Diários Oficiais secretos e distribuição de dinheiro por meio de contas falsas.
Nem Justus nem Curi sofreram punições judiciais. Quem acabou pagando criminalmente pelos fatos foi o então diretor-geral da Assembleia, Abib Miguel, o Bibinho, que comandava o dia a dia do Legislativo desde os tempos de Anibal. Preso diversas vezes, Bibinho, que nas imagens divulgadas aparecia manipulando pilhas de cartões bancários de contas fraudadas, se tornou o rosto do escândalo.
Embora não estivesse com nenhum direito cassado, Alexandre Curi se manteve discreto, sem concorrer aos principais cargos da Assembleia por mais de uma década. Presidia comissões secundárias, como a Comissão de Redação Final, e só. Nem por isso, deixava de ter poder. Próximo a todos os presidentes e, principalmente, conselheiro dos governadores, sempre conseguiu o que queria para manter a base de prefeitos, seu principal ativo.
Campeão de votos
Foram esses prefeitos que deram a ele a condição de se manter como um campeão de votos, mesmo nos momentos mais difíceis do escândalo político. Sempre se manteve entre os mais votados (e em geral, o mais votado), inclusive na primeira eleição depois dos Diários Secretos – ao contrário de Justus, que viu sua votação minguar, até recentemente ir parar na suplência do União.
Em 2010, meses após as denúncias, foi o deputado mais votado do Paraná. Em 2014, perdeu apenas para Ratinho Jr., e em 2018 se manteve como segundo mais votado, atrás de Fernando Francischini. Em 2022, votou ao posto de mais votado – e um dos seis mais votados do país.
Em 2023, depois de uma longa espera, resolveu se expor novamente e concorreu a primeiro-secretário da Assembleia, na chapa de Ademar Traiano (PSD). Agora, como novo presidente, diz nos bastidores que pretende ser candidato ao Senado ou a vice-governador, algo que seu avô jamais tentou.
Fonte: Jornal Plural