COLUNISTASFábio da Cunha

Mídia e Poder Judiciário quase acabam com a Democracia brasileira

Com o final das eleições e a vitória do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, voltamos a uma possível normalidade democrática no país. Nossa jovem democracia nunca foi tão atacada nos últimos quatro
anos, em pronunciamentos quase diários do atual presidente da república, visando sempre às instituições democráticas, principalmente, o poder judiciário e a mídia.

O Supremo Tribunal Federal nunca se viu tão acuado com os ataques, sistematicamente direcionados aos ministros da Corte.

A mídia corporativa tradicional, braço do sistema financeiro, também foi muito atacada pelo atual governo e, neste caso, o poder financeiro fez vista grossa, pois lucrava muito e cada vez mais com
as políticas financeiras implementadas pelo mesmo governo.

Mas é preciso deixar claro que são essas duas instituições, mídia e poder judiciário, no caso, o Supremo Tribunal Federal, as grandes responsáveis pela democracia brasileira ter chegado neste estado lastimável e quase ter deixado de existir. É importante lembrar que parte da sociedade, inconformada com o resultado das eleições, ainda clama por medidas autoritárias e antidemocráticas e chegam ao absurdo de irem para as ruas exigirem o fechamento do Supremo e a intervenção militar.

Foi a mídia que em 2013, deu todo respaldo para movimentos orquestrados que já visavam, naquele momento, desestabilizar o governo Dilma Rousseff. A falácia da Operação Lava Jato, comandada por um juiz sem escrúpulos, também foi exaltada diariamente por uma mídia tendenciosa que não suportava mais as políticas de distribuição de renda que estavam sendo desenvolvidas pelos governos do Partido dos Trabalhadores.

As encenações da Lava Jato, o respaldo diário da mídia corporativa e um congresso liderado pelo corrupto Eduardo Cunha, foram os ingredientes necessários para iniciar um processo de impeachment totalmente descabido e fora da normalidade jurídica. Caberia ao Poder Judiciário frear este ataque à democracia, mas este poder foi covarde, omisso e preferiu abaixar a cabeça diante da afronta.

O resultado é que uma presidenta, legitimamente eleita, foi tirada do poder com os propósitos claros de frear a distribuição de renda que começava a existir num país historicamente desumano e perverso em relação a este tema.

O vice-presidente Temer assumiu o poder após o golpe de 2016 e passou a implementar todos os objetivos neoliberais do mercado financeiro, que se cristalizaram nas leis do Teto de Gastos, impedindo investimentos sociais e aumentos no salário real; na Reforma Trabalhista, que tirou direitos dos trabalhadores; e na Reforma da Previdência que, da mesma forma, tirou direitos dos trabalhadores e aposentados. O resultado foi o início de uma fase de perda de investimentos, arrocho salarial, diminuição da renda e do consumo, desindustrialização, desemprego e a volta da fome em um dos países que mais produz alimentos no mundo.

As eleições de 2018 acabaram por colocar no poder a extrema direita, que, nos últimos quatro, anos só agravou a situação econômica e impetrou de forma sistêmica os ataques à democracia para possibilitar um governo autoritário.

Chegou a ser engaçado ver alguns ícones da mídia corporativa e do judiciário, nos últimos dias de campanha eleitoral, com comportamentos simpatizantes ao candidato da esquerda. Lógico que tal comportamento se deve muito mais a um sentimento de ver que suas “peles” estavam em risco, que a “água” já chegava ao “pescoço” e que tudo pudesse ainda piorar com o desenvolvimento de uma situação mais autoritária, com a possível vitória do atual presidente, do que a sentimentos verdadeiros pelo candidato vencedor. Nesta questão, a vitória de Lula não significa só a possibilidade de resgatar a democracia e o respeito às instituições, mas de salvar a pele de figuras chaves do poder judiciário e da mídia corporativa tradicional, os grandes responsáveis pela situação ter chegado a este nível de quase destruição da democracia.

É fundamental enaltecer neste processo a coragem e altivez do Ministro Alexandre de Moraes, que, como presidente do Tribunal Superior Eleitoral, manteve e deu respaldo ao processo eleitoral, que foi sistematicamente atacado pelo candidato da direita, que já há algum tempo vislumbrava uma possível derrota. Também garantiu o resultado das eleições e da democracia e se coloca, desta forma, como figura ímpar e guardiã da constituição de 1988.

O ministro Alexandre de Moraes entra para a história com honradez e será lembrado para sempre como aquele que garantiu a sobrevivência da democracia, numa das fases mais difíceis do país depois da promulgação da constituição de 1988.

Ironicamente, Alexandre de Moraes foi indicado para o Supremo Tribunal Federal pelo então presidente Michel Temer; tal fato se mostra agora como sua única ação que merece elogios. Neste caso, o presidente eleito Lula precisa rever suas escolhas, já que seus indicados para o Supremo colaboraram para, inclusive, prendê-lo sem provas e permitir que a nossa democracia chegasse, com ajuda da mídia corporativa, a quase um estado terminal. A democracia no Brasil volta a respirar sem aparelhos!

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