Sindicato iniciou levantamento para entender a dimensão dos problemas envolvendo as condições de trabalho e saúde dos servidores
O reconhecimento da população sobre a importância do trabalho dos profissionais da saúde aumentou nos últimos anos devido à pandemia de Covid-19. Isso se deve à atuação fundamental desses trabalhadores na linha de frente, que evitou uma tragédia ainda maior.
No entanto, enquanto cuidam dos pacientes, os profissionais da saúde estão enfrentando cada vez mais a falta de condições de trabalho e o assédio dentro dos ambientes clínicos e hospitalares, a exemplo dos servidores públicos do Paraná. É o que aponta Amanda Galerani, diretora do SindSaúde – PR.
Para compreender a dimensão do problema, o Sindicato está conduzindo um levantamento sobre as condições de trabalho no estado. Os profissionais podem preencher um formulário, no qual têm a oportunidade de relatar problemas no ambiente de trabalho, tanto estruturais quanto relacionados à gestão.
Amanda Galerani explica para o Portal Verdade como o SindSaúde aborda essa questão: “A gente tem aqui dentro um grupo de trabalho de saúde do trabalhador. Temos dois servidores, um psicólogo e um assistente social que fazem o acolhimento de alguns trabalhadores que trazem demandas relativas às condições de trabalho”, conta.
A diretora do SindSaúde destaca que a maior parte das queixas dos trabalhadores envolve o assédio laboral. O termo ‘laboral’, que engloba o assédio moral, físico e sexual, é utilizado pelo Sindicato como uma forma de desvincular a conotação moral e individual do problema, colocando assim a questão como uma ameaça à integridade do próprio trabalho. O assédio se configura quando o funcionário é exposto a uma situação constrangedora, abusiva ou humilhante, muitas vezes associada a uma questão hierárquica.
Em 2021, na 16ª Regional de Saúde em Apucarana, o Sindicato reuniu provas e testemunhas sobre o assédio na gestão do chefe da divisão administrativa, Benedito Bento. Condenado pela prática abusiva, que tornava o ambiente de trabalho tóxico, principalmente, para as mulheres devido ao teor sexista do assédio, Benedito chegou a ser exonerado do cargo, mas voltou a ocupar a função no final do mesmo ano. O governo Ratinho Júnior (PSD) se recusa a retirá-lo do cargo, mesmo com as novas provas e testemunhas reunidas pelo Sindicato.
“Por onde andamos, é possível notar que o assédio não são conflitos isolados, mas sim um modelo de gestão. É hegemônico. As pessoas estão predominantemente estressadas. Não há local que não tenha servidor afastado por motivo de saúde relacionado ao trabalho. Temos relatos de trabalhadores com casos mais leves, com sintoma depressivo leve, ansioso, mas há também relatos de risco de suicídio e de pessoas que desenvolveram transtorno de pânico”, relata Amanda.
Na percepção dela e de relatos que recebe, esses casos estão aumentando num grau nunca visto nos últimos anos. Além dos problemas psicológicos, há também servidores com lesões como LER (Lesão do Esforço Repetitivo).
Altas temperaturas e terceirizações
A condição física do ambiente de trabalho também é um tópico do levantamento do SindSaúde. Em uma época com calor cada vez mais constante e intenso, a falta de ventiladores e ar condicionados, ou a má manutenção desses equipamentos, elevam as temperaturas em ambientes onde a ventilação natural é precária.
Segundo Amanda, o Sindicato tem procurado os locais que apresentam esse problema, e as denúncias são repassadas para a Sesa (Secretaria da Saúde do Paraná) para que possam ser resolvidas.
Outro problema relatado por Amanda é a falta de pessoal, o que sobrecarrega os trabalhadores da saúde. Segundo o SindSaúde, são necessários 11.000 funcionários para completar o quadro, mas apenas 6.500 estão ativos.
“A gente tem circulado pelo local de trabalho no Paraná, onde tem servidores públicos do Estado, como hospitais, ambulatórios, locais de coleta de sangue, farmácias estaduais, setores administrativos, e alguns relatos são bem semelhantes. Por exemplo, uma das coisas que impacta diretamente as condições de trabalho é a defasagem de servidores. Com poucas pessoas no setor, elas acabam tendo que executar muitas tarefas, o que se torna algo bem estressante para os trabalhadores. Em alguns locais, essa é a principal queixa”, explica Amanda.
Unido a isso, o Estado avança cada vez mais na terceirização nos serviços de saúde, geridos pela Funeas (Fundação Estatal de Atenção em Saúde do Estado do Paraná) e Funpar (Fundação da Universidade Federal do Paraná). Sem a mesma estabilidade e segurança sobre seus direitos, como têm os servidores concursados, os profissionais terceirizados podem sofrer com a alta rotatividade e o risco de demissões sumárias.
A gestão de Ratinho retomou também este ano o modelo de contratação PSS (Processo Seletivo Simplificado), que não era usado na Saúde desde 2009. O tempo máximo de contratação dos servidores é de um ano, podendo ser renovado por mais um ano. No modelo PSS, os contratados também não gozam da mesma estabilidade e remuneração dos servidores concursados efetivamente. Essas contratações precarizadas, segundo o Sindicato, vão ampliar o sucateamento ao atendimento ao público, além de não contemplar uma perspectiva de carreira desses profissionais.
*Matéria do estagiário Lucas Worobel sob supervisão.